Um derrotado vitorioso
Diário da Manhã
Publicado em 10 de outubro de 2018 às 00:00 | Atualizado há 6 anosAcabo de sair de minha primeira experiência política.
Por sugestão de amigos e observando que nossas Casas Legislativas estão pululantes de pessoas sem a mínima qualidade e compromisso com o povo, resolvi encarar a batalha por uma cadeira na Assembleia Legislativa.
Depois de mais de 30 anos de magistratura, e vendo que a situação atual do Brasil, com muita corrupção e políticos defendendo apenas seus interesses pessoais, exige uma radical mudança, sem armas e violência, mas com ideias e propostas novas para o povo, decidi – como disse, a conselho de amigos – oferecer minha contribuição de forma honesta e inovadora para tentar melhorar Goiás.
Com a experiência de ter dirigido dois tribunais (TJ e TRE/TO, este, por duas vezes), sido governador do Tocantins, Diretor do Instituto de Menores de Dianópolis-TO, Diretor-Geral da Escola Técnica Federal de Minas Gerais e outros relevantes cargos, além de jornalista atuante neste jornal (onde sempre mantive coerência de ideias), membro-fundador de duas academias, membro da Associação Brasileira de Advogados Criminalistas (ABRACRIM), da Associação Goiana de Imprensa (AGI), de ter mais de vinte obras jurídicas e literárias, achei que poderia contribuir para mudar Goiás, para excluir os políticos profissionais, que só de quatro em quatro anos procuram os eleitores para pedir apoio e voto para perpetuar-se no poder, como se fôssemos gado ou ovelhas, que os seguem como propriedade sua.
O que posso lhes dizer que esse tempo deve acabar.
Aliás, já houve uma reação: apesar de ainda imperar o “voto de cabresto” e a famigerada e criminosa compra de votos, assistimos a uma repulsa do eleitor a um grupo de profissionais da política, que entraram pobres e ficaram ricos à custa do dinheiro do povo.
No Rio de Janeiro, o senador Lindberg Farias, o “Lindinho”, e César Maia perderam os cargos; em Minas, Dilma Rousseff perdeu o Senado, o mesmo ocorrendo com Eduardo Suplicy em São Paulo; em Roraima, o eterno profissional da política, o camaleônico senador Romero Jucá, também foi expelido da política; o Paraná livrou-se de dois ícones: Roberto Requião e Beto Richa; o Maranhão viu-se desamarrado do clã do vetusto José Sarney, quando seus filhos, Zequinha e Roseana, perderam as eleições, seguidos pelo senador Edison Lobão; aqui em Goiás, Lúcia Vânia não foi reeleita, e Marconi Perillo, caindo na vala comum dos sem cargo, está sujeito a ser preso a qualquer momento e ganhar um par de pulseiras como criminoso comum; o presidente do Congresso, o cearense Eunício de Oliveira, também foi expulso pelo voto popular, que não poupou nem mesmo o simpático capixaba, o bolsonariano Magno Malta, que fora cotado até para ser vice do capitão.
Escaparam pela tangente a “Narizinho” Gleice Lula Hoffman, que se contentou em trocar o Senado pela Câmara, o que também fez Aécio Neves em Minas, tudo para ter um cargo político para ficar no poder e, de lambugem, tentar um foro privilegiado.
Aqui, apesar de não ter sido contemplado com o mandato de deputado estadual por Goiás, vejo que muito aprendi, pois vi que a política de hoje não é como a de quase quarenta anos atrás, quando vereador nem remuneração tinha, e a palavra era cumprida até pelos coronéis donos de “currais eleitorais”. Hoje, a gente conversa com o eleitor, convence-o do nosso programa e dos projetos, mas na véspera do pleito, vêm os sem ideias, mas com dinheiro, e compram os votos, como é praxe de muitos políticos profissionais, como uma certa deputada da região de Caldas Novas, cujos bate-paus chegam aos colégios eleitorais com as famosas malas de dinheiro.
Só para se ter uma ideia, três dias antes do pleito estive em Formosa a convite de um conhecido e influente empresário, que me recebeu, levou-me ao seu estabelecimento, onde ficou com meus santinhos e até os distribuiu na minha presença. No dia da apuração constatei que não tive um só voto, mas fui informado de que lá estivera um comprador de voto, que, como os demais, agiu sob o possível olhar complacente da Justiça Eleitoral.
Externo meus agradecimentos a todos os que vestiram a camisa de minha luta: inglória, sem recursos, sem espaço na rádio e TV, mas pautada pela ética.
Fiz o melhor que tive condições de fazer; respeitei os princípios morais que sempre nortearam minha conduta, mas não consegui – mesmo com a ajuda dos amigos que me sufragaram nas urnas – vencer o sistema político apodrecido pela prática de compra de votos.
Não me considero derrotado pelas urnas, mas pelo sistema, e tenho a certeza de que meu nome ressurgiu mais forte e respeitado nesta amarga tentativa de ser um cidadão de verdade, pois não perdi o respeito daqueles que já me conheciam e conquistei o respeito dos que passaram a me conhecer no curso desta batalha.
Creio que, com esta experiência, em que os conchavos e atitudes mesquinhas imperam, será muito difícil verem-me de novo disputando cargo político. Mas coloco-me à disposição do novo governador, Ronaldo Caiado, para colaborar com seu governo na área que me achar útil.
Como vivemos em uma democracia, saberei respeitar a vontade daqueles que merecem os representantes que acabaram de eleger.
(Liberato Póvoa, Desembargador aposentado do TJ-TO, Membro-fundador da Academia Tocantinense de Letras e da Academia Dianopolina de Letras escritor, jurista, historiador e advogado, liberatopo[email protected])
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