Candidatos e candidatas minhocas
Diário da Manhã
Publicado em 20 de setembro de 2018 às 03:11 | Atualizado há 6 anosBom mesmo é o candidato da terra. O que nasceu aqui. Mora aqui. Sei onde encontrá-lo. Conheço bem… será? Vejo legitimidade em toda e qualquer candidatura, mas tenhamos consciência dos porquês elas surgiram e se possuem o mínimo de apoio e colégios eleitorais para uma eventual vitória.
Os partidos, principalmente os candidatos a deputado federal, sempre instigam o seu apoiador no município a sair candidato. Primeiro, alegando que isso fortalecerá o seu nome na cidade, para um possível futuro pleito a prefeito – o que não deixa de ser uma estratégia, mas que poderá ser o seu desatino. E, em um segundo plano, ajuda bastante na obtenção dos votos tão almejados, pois vai o voto casado – aparecendo os dois nos santinhos.
Em meu município, Silvânia, três são candidatos a uma vaga na Assembleia Legislativa nesta eleição, e todos têm o meu respeito. Na minha sincera opinião, julgo difícil suas ascensões ao cargo postulado – ainda que os três se unissem em torno de uma única candidatura. Não por quem são, mas por suas bases.
Nossos representantes da Região da Estrada de Ferro, nas últimas décadas, foram o saudoso senador José Caixeta – mesmo sendo biônico (nomeado); o já falecido deputado federal João Natal; os saudosos deputados estaduais Issy Quinan, pai do prefeito de Vianópolis, e Ronildo Naves – um dos mais sábios na arte da composição, coalizão e agrupamento; e, por fim, o deputado estadual José Denisson de Souza, emancipador de Gameleira de Goiás.
A Região da Estrada de Ferro carece de uma convergência em torno de um nome. É triste vermos esse descrédito e pouco interesse aos atuais candidatos. Mesmo que alcancem, isoladamente ou em conjunto, um número significativo dos votos válidos do município, os votos apurados serão insuficientes para suas eleições. Assim tem sido – repito – a realidade nas duas últimas décadas: não há coalização, mas divergências lamentáveis de grupos políticos.
Por este motivo, defendo o voto distrital, pelo qual deputados são eleitos por maioria simples, como presidentes e governadores. O estado ou município será recortado numa quantidade de distritos, que representarão a população da melhor forma possível, com tamanhos semelhantes de população. Cada distrito tem direito a eleger um representante. Exemplo: Se um município tem 10 cadeiras, será recordado em 10 distritos.
Os partidos e as coligações escolherão os candidatos distritais. O eleitor poderá votar apenas em candidatos do seu distrito. O candidato mais votado no distrito é eleito.
Atualmente, as cadeiras são divididas proporcionalmente entre partidos ou coligações, de acordo com os votos obtidos. Aí teremos, nas Assembleias e na Câmara Federal, parlamentares arrastados pela força da Coligação. Para que tenhamos uma ideia, sozinhos, Celso Russomanno e Tiririca, os mais votados do Brasil nas últimas eleições no estado de São Paulo, conseguiram levar pelo menos outros seis candidatos para a Câmara dos Deputados.
Precisamos de uma reforma política, extinguindo os partidos nanicos que só servem para composição em época de eleição e para horário eleitoral. O custo: preenchimento de cargos em futuros governos, para os que não foram eleitos. Atualmente, temos registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) 35 partidos. Muitos deles, apenas trocaram de nome, fundiram-se com outros e o resultado é uma salada para todo e qualquer gosto.
Não sou tão radical ao ponto de propor apenas dois partidos – como era no tempo da ditadura – mas o mínimo necessário para uma representatividade parlamentar maior e de maior abrangência em seus colegiados.
Sou e sempre serei bairrista, mas em matéria de política é indispensável o bom senso para sabermos escolher quem realmente tem condições de nos representar e trazer benefícios através das emendas parlamentares – algumas delas impositivas. Não observo partidos, mas pessoas. Há os que ainda veem os partidos como time de futebol, o que é lastimável.
Preocupam-me os rumos que a política vem tomando em âmbitos estadual e nacional. Misturam o desejo de mudança com os discursos que representam nossas deficiências e, porque não dizer, revoltas. Tudo parece fácil de resolver: desemprego, segurança, educação, saúde, previdência, reformas, fortalecimento dos municípios com o pacto federativo e a retomada do crescimento econômico, esquecendo-se de um pequeno detalhe: a dotação orçamentária, a falência da máquina pública e o apoio político que não se terá facilmente no Congresso Nacional e nas Assembleias Legislativas.
É fácil demais ser oposição, esbravejar, chamar o outro de corrupto, mesmo tendo tido uma campanha milionária e recebido dinheiro de empresas arroladas na operação Lava Jato, inventar histórias, bater no peito e dizer que é ficha limpa, carregando consigo uma turma mais suja que poleiro de galinha, com infindáveis processos. Todo esse discurso firme e alterado é acobertado pela famigerada imunidade parlamentar – outra prerrogativa que deve acabar.
Sei que, em política, o amigo de ontem torna-se o algoz de hoje. O apoio nem sempre vem de onde esperamos e como esperamos, mas caminha para o lado do que se encontra, supostamente, mais forte. O que está na frente nem sempre ganha, mesmo que as pesquisas apontem. O que mais fez é o mais rejeitado, mas mesmo assim, encontra-se na frente. Enfim, esta uma confusão grande e um desânimo indubitável. O eleitor pega a onda e muitas vezes torce pelo contrário e prega uma mudança que não imagina a complicação que trará. Mas este é um pressuposto da democracia que sempre respeitei e não seria agora que agiria diferente. Impor um nome é um desrespeito a democracia.
Por isto, meus caros candidatos e candidatas minhocas, torço para que minha avaliação esteja equivocada. As minhocas possuem um complexo sistema circulatório e podem ter de dois a 15 pares de corações. Portanto, suportam bem as fortes emoções.
(Cleverlan Antônio do Vale, gestor público, administrador de empresas, Ppós-graduado em Políticas Públicas e Docência Universitária, articulista do Diário da Manhã – Cleverlanva[email protected])
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