Gênero literário de leitura rápida
Diário da Manhã
Publicado em 26 de agosto de 2018 às 01:29 | Atualizado há 6 anosAlgumas pessoas me perguntam, de vez em quando, em que época iniciei a escrever crônicas. Há cinquenta e dois anos (1966), publiquei “Café Central”, o primeiro livro de crônicas editado nesta Capital. Este, que retrata as cenas, os acontecimentos, os costumes de uma cidade (Goiânia, na época, tinha vinte e oito anos), se esgotou rapidamente. Tenho em meu poder apenas oito exemplares. Foi, contudo, reeditado na seleção “Prosa e Verso”, idealizado pela Prefeitura de Goiânia, graças ao empenho do acadêmico Kleber Adorno. Naquela época, essa primeira edição foi dedicada ao Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto), na minha opinião o melhor crítico de costumes do Brasil, e à memória de Cecília Meireles, a grande voz feminina da poesia brasileira, que havia falecido dois anos antes, em 09.11.64, vitimada pelo câncer. A capa foi feita pelo grande artista plástico. D. J. Oliveira (já falecido), e o prefácio do saudoso Ático Vilas-Boas da Mota, figura de inexcedível valor literário e que faleceu em Macaúbas, sua terra natal, onde dirigia uma considerada fundação. Levei o livro para o Stanislaw que me recebeu em seu apartamento. Depois, ficamos conversando por mais de duas horas num bar em Copacabana, oportunidade em que o elogiou. Havia mandado os originais, com antecedência, para sua apreciação. Ficou-me na lembrança a figura desse grande crítico de costumes, bonachão, amante da “loira gelada”, cujos conselhos muito influenciaram e influenciam até hoje os meus escritos. Naqueles anos, motivado pelos livros de crônicas que me vieram às mãos: “Ai de ti, Copacabana” (1960), de Rubem Braga, “O domingo azul do mar” (1958), de Paulo Mendes Campos, “O homem nu” (1960), de Fernando Sabino, “Tia Zulmira e eu” (1961), do Stanislaw, etc, sem falar, os dos cronistas do passado José de Alencar, Machado de Assis, Mário de Andrade, Arthur Azevedo, João do Rio, Barão de Itararé, Carlos Eduardo Novaes, estes últimos aclamados como sendo os incorporadores do humor na literatura brasileira, iniciei no universo da crônica. Acho que esse gênero literário mereceria maior reconhecimento por aqueles que promovem concursos literários. Sempre me bati por sua inclusão nesses certames, onde são vistos, apenas, temas relacionados com romance, conto, poesia, ensaio, etc. Ainda hoje, vejo que há resistência em compreender a crônica como gênero literário específico, e não como complemento (“tapa-buraco”) utilizado para preencher espaços vazios nos jornais. Mas, noto que os leitores, afeitos à leitura de crônicas, cada vez mais mantém uma relação apaixonada com os cronistas, haja vista, exemplificando, as escritas por Luis Fernando Veríssimo e outros bons cronistas, que sempre alcançam o topo das listas das obras mais vendidas. Veríssimo, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos, Rubem Braga (os três últimos falecidos), acham-se ente os melhores escritores brasileiros. Atualmente, até poetas, ousados, enveredam-se pelos caminhos desse difícil gênero literário de leitura rápida. Alguns deles, ainda continuam estabelecendo um elo entre sua imaginação lírica e telúrica, e a intervenção em assuntos caracterizados pela circunstancialidade temática, e pela amenidade da sua linguagem, que mais se assemelham à poesia. Utilizam-se de um certo hibridismo, adicionando um quê de originalidade aos temas abordados, alguns, dotados de beleza rara, outros, de uma criatividade elogiável.
(Luiz Augusto Paranhos Sampaio, membro da Academia Goiana de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás da Academia Catalana de Letras e da União Brasileira de Escritores. E-mail: luizaugustosam[email protected])
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