Cotidiano

Brasil vive inferno tributário, aponta Zeina

Diário da Manhã

Publicado em 24 de agosto de 2018 às 04:22 | Atualizado há 6 anos

  •  De 1930 a 2015, dobrou o número de idosos. Esse ônus é da ordem de R$ 60 bilhões
  •  

    O Brasil vive um inferno tri­butário, acusou, ontem, Zeina Latif, doutora em economia pela Universidade de São Paulo (USP) e economista­-chefe da XP Investimentos, ao proferir palestra Perspectivas eco­nômicas e políticas para o País: Impactos para o Agro, realizado no auditório da Faeg. Zeina dis­correu sobre o atual cenário eco­nômico e as perspectivas para os brasileiros com as eleições de outubro deste ano. Sua palestra chamou a atenção pelo realismo, mostrando aos mais de quinhen­tos participantes a necessidade da realização das reformas de base.

    As reformas exigidas para que o Brasil retome o crescimento econômico e social e restabeleça a ordem política são inadiáveis no próximo governo, segundo a eco­nomista que trabalhou no Royal Bank of Scotland e hoje sempre presente nos debates televisivos. “São desafios para o novo gover­no a assumir em 2019.” Entre essas reformas, citou as da Previdência e Trabalhista. Zeina abriu um pa­rêntesis para chamar a atenção para o governo Temer. “Com uma popularidade no máximo de 5%, teve a coragem de propor refor­mas”, lamentando que um presi­dente com pouco tempo de man­dato os parlamentares tenham impedido os avanços.

    O País gasta 13% de sua recei­ta com a Previdência, observou, ao apresentar gráficos sobre as curvas demográficas que mostram o enve­lhecimento da população brasilei­ra. De 1930 a 2015, dobrou o núme­ro de idosos. Esse ônus é da ordem de R$60 bilhões. Em 2917, 57% do orçamento federal foi comprome­tido com despesas da Previdência.

    Em sua opinião, o próximo pre­sidente terá que proceder cortes nas despesas e seguir fielmente a lei de responsabilidade fiscal. Agindo as­sim, poderá ganhar a confiança dos investidores. “O Brasil perdeu grau de investimento por causa da des­confiança”, disse,observando que o passivo atuarial está em 233% do PIB (Produto Interno Bruto) refe­rente à Previdência.

    CORAGEM PARA AS REFORMAS

    A economista, sempre presen­te nos grandes debates pela tele­visão, manifesta esperança de que um governo recém saído das ur­nas promova as reformas necessá­rias já no primeiro ano. As razões apontadas: ainda conta com força política partidária, motivada inclu­sive pela distribuição dos cargos e cobrança dos eleitores. A pergun­ta que fica: “quem terá capacida­de para promover as reformas?”

    Ao analisar o Custo Brasil, de­fendeu mudanças das regras tri­butárias. Segundo ela, “um infer­no num estado muito autoritário”. Essa tributação impede o nasci­mento e o crescimento das empre­sas, sobretudo as de grande porte. Em sua observação, essa condi­ção impede ainda maior uso de tecnologia de ponta e o País deixa de competir com os de Primeiro Mundo. E fica num universo me­nor em termos de produtividade média, a exemplo do Chile, Méxi­co, Argentina. “Muitas empresas e pouco produtivas”, resumiu.

    Entende, no entanto, que a “con­corrência comercial faz o empre­sário sair da zona de conforto”. O reajuste salarial no Supremo Tri­bunal Federal em sua opinião fere a lei de responsabilidade fiscal por causa do efeito cascata. Lembrou a propósito que a presidente Dilma Rousseff “levou cartão vermelho” porque feriu esses preceitos legais. Recomenda que não “se brinque” com a economia porque corre risco de não concluir o mandato.

    Depois de analisar a greve dos caminhoneiros, que paralisou o País por dez dias, lembrou que o movimento trouxe novos proble­mas à sociedade, com encareci­mento dos transportes e conse­qüente custo de vida. Encerrando, comentou que a inflação está sob controle e que a economia se re­cupera, embora muito lentamente.

    RESSACA DO IMPEACHMENT

    Murillo de Aragão, advoga­do, jornalista e cientista político, além de debatedor do Programa Globo News Painel, em sua fala num dos painéis, considera que o País ainda viva a “ressaca do im­peachment de Dilma”. O clima de discussão ideológica continua. Quanto a Lula, preso sob acusa­ção de propinas em seu gover­no, disse que 37% do eleitorado crêem em sua inocência.

    Segundo o conferencista, numa campanha política o pessoal em nome do Lula pode distribuir san­tinhos e favorecer o candidato pe­tista à Presidência da República. Haddad, ex-prefeito de São Pau­lo, tem chance. Jair Bolsonaro é outro concorrente forte, com ibo­pe que em alguns momentos che­ga a 27%, mas com média de 20% hoje. Alckmin atualmente com 7% tende a crescer em decorrência da coligação ampla e do conseqüen­te espaço na televisão.

    Teceu considerações ainda sobre os demais candidatos. Mas, consi­derou, contudo a “cabeça do eleitor como um enigma”. Ainda, qualquer pisada em falso, durante a campa­nha, pode derrubar um candida­to que hoje lidera as pesquisas de opinião pública. Em sua opinião, no segundo turno, os candidatos à su­cessão presidencial adotarão com­portamento mais moderado.

    Na abertura, falaram o presi­dente interino da Faeg, Bartolo­meu Braz, dizendo da importân­cia do evento para Goiás, logística nos transportes, dando exemplo a manifestação dos caminhonei­ros e lembrando da necessidade da formação de uma bancada ru­ralista, entre outros. Igor Monte­negro, diretor superintendente do Sebrae, reconheceu os laços de parceria com a Faeg. Antônio Flávio Lima, superintendente da Agricultura, representando o go­vernador José Eliton, disse dos es­forços do governo atual no proces­so de desenvolvimento do agro.

    ]]>

    Tags

    Leia também

    Siga o Diário da Manhã no Google Notícias e fique sempre por dentro

    edição
    do dia

    últimas
    notícias