Levaram o ouro e deixaram as pedras (Cora Coralina)
Diário da Manhã
Publicado em 22 de agosto de 2018 às 23:45 | Atualizado há 6 anosNumas das visitas que fiz à cidade de Goiás, passeando pela praça do coreto, avistei um senhor sentado num daqueles bancos que ornamentam a praça, com um violão nos braços, cantarolando uma valsa, talvez estivesse num ensaio para a serenata logo mais à noite, porque a música sempre foi o cartão de visita da cidade.
Não contive a emoção, me aproximei dele e lhe fiz uma pergunta: Desculpe-me por interrompê-lo, mas, por favor, responde-me, como o senhor e quase todos vilaboenses gostam de cantar mostrando uma alegria contagiante, a minha curiosidade é que tudo tenha começado com um grupo de homens denominados de Bandeirantes, invadindo o local com uma autoridade absoluta, à procura das riquezas, principalmente minas de ouro; dizimando os índios; mentindo; pondo fogo num prato com álcool; falando que queimariam toda a água dos rios; se não contassem onde eram as minas, enfim escravizaram os indígenas, destruíram as aldeias, fizeram tudo o que queriam e levaram toda riqueza, principalmente o ouro, e ainda: deixaram uma cruz lá na praça para vocês se lamentarem. Onde fica toda essa alegria?…
O cantor olhou-me com serenidade e respondeu-me: Ouvi com muita atenção tua indagação, sabendo que resumiste apenas parte dos acontecimentos, talvez para não me chocar, mas não se preocupe, muitas vezes o sofrimento faz com que a gente deixe de ver as coisas com olhos humanos para ver com olhos de Deus.
Não, não ficou só nisso. Alguns tempos depois, vieram outros homens e levaram outra riqueza: a nossa condição de capital do Estado de Goiás, e fazendo igual o primeiro, para mero consolo, uma vez por ano, em algum final de semana das férias escolares, a transfere simbolicamente para nossa cidade.
Fizeram algo mais, ao decretarem uma lei nos proibindo de renovar a cidade, obrigando a ser mantida com as mesmas características originais: as casas, Igrejas, principalmente as ruas, dificultando o trânsito, tanto dos carros, como também dos pedestres.
Reconheço, porém, que essa lei, que nos proibiu de renovar nossa cidade, tem pontos positivos, pois, aqui não temos nada artificial, tudo natural, cada pedra colocada nas ruas, cada esteio que sustenta as casas, cada tijolo nas paredes, cada telha que cobre as casas cobre também o coração dos vilaboenses e sua história, até o badalo dos sinos das Igrejas que soam ao cair da tarde cantam como se fosse a voz de Deus nos chamando para ouvir sua palavra e nos dar sua bênção. É verdade, tiraram mesmo o título de capital do Estado de Goiás, mas nós conquistamos um bem mais nobre “cidade de Goiás”, capital do coração dos goianos.
Aquela velha cruz deixada pelo Anhanguera (Diabo Velho) nos traz alegrias porque foi marco do início da cidade, fruto da grande ambição pelo ouro, que, mesmo sendo por eles totalmente levado, nos deixando apenas pedras, outras mais preciosas surgiram na cidade, tais como: Antolina Borges (Tia Tó – a guardiã da cidade), Antônio Geraldo Ramos Jubé, Pedro Gomes, Antônio Félix de Bulhões, Veiga Vale, Hugo de Carvalho Ramos, Siron Franco, Goiandira do Couto, Eurydice Natal, Colemar Natal e Silva, Moisés Santana, Neuza Morais, Belkiss Spenciere, Rosarita Fleury, Maria Lucy Veiga Teixeira, Joaquim Edison Camargo, Antônio Félix de Bulhões, Luiz de Oliveira Couto, Joaquim Bonifácio Gomes, Joaquim Santana, Ely Camargo, Mariana Augusta Fleury Curado (Nita Fleury) e tantos outros, especialmente uma das mais brilhantes: aquela lá da casa da ponte, Cora Coralina.
E com o coração alegre, eu canto para o senhor parte deste poema musical de Joaquim Bonifácio e Joaquim Santana, “Noites Goianas”, que alcançou grande sucesso na linda voz da saudosa Ely Camargo.
São noites goianas
São claras, são lindas
Não temem rivais
Goianos, traduzem
Doçuras infindas
As noites que amais
São noites somente
Da pátria famosa
Do índio Goyá
E finalmente se o senhor não ficou contente com as minhas respostas e querer algo mais, venha para nosso Goiás.
(Vivaldo Jorge de Araújo, ex-gerente da extinta Caixego e mestre instalado da loja maçônica “Ordem e Progresso” de Goiânia)
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