Ao professor Pedro Sérgio
Diário da Manhã
Publicado em 22 de agosto de 2018 às 23:19 | Atualizado há 6 anosNo dia 31 de julho próximo passado, completei 74 janeiros. Obviamente, em todo esse tempo, li e ouvi discursos a favor e contra a legalização do aborto no Brasil. Nenhum, contudo, se me mostrou tão lúcido e corajoso do que o artigo “Os gritos dos Herodes e os gemidos dos inocentes”(“Opinião Pública” do “Diário da Manhã”, edição de 16.8.2018), de sua lavra. O senhor o inicia lembrando o debate desenvolvido, na década de 60, por juristas italianos e outros referente à “Teoria da Perda de Uma Chance”, segundo a qual alguém pode perder oportunidade “relacionada a uma probalidade”. E o senhor oferece o exemplo: alguém não chega a tempo de prestar uma prova que poderia lhe abrir a porta de um emprego porque a empresa de ônibus não cumpriu o horário adequado. E o senhor escreve: “Qual e quanta chance de uma criança que foi abortada? São inúmeros os casos de crianças cuja deficiência foi dectada na fase de gravidez, e com amor altruísta e a coragem da mãe a criança nasceu e superou suas dificuldades e se tornou uma pessoa no pleno sentido da sua existência, tudo isso por que não lhe foi negada uma chance…”
A mídia brasileira, que é oligárquica, insiste em dizer que o país vive sob a democracia. Os direitos e garantias individuais são meras palavras. A ditadura da farda deu lugar ao despotismo vestido de toga. O Legislativo se agacha diante da petulância de juízes que agem como se legisladores fossem. Despeitados, condenam sem provas e praticam outras arbitrariedades sob os aplausos dos justiceiros. O senhor registra que o STF, no caso da legalização do aborto, quer atingir “quem não pode gritar, quem não pode empunhar faixas e cartazes para ir à Praça dos Três Poderes protestar contra abusos de ministros abusados, sem decoro e sem sensibilidade para com o país. O STF quer agradar grupos teimosos que propuseram judicialmente a legalização do aborto para fazer com isso um tema de campanha eleitoral entre seus seguidores desavisados e desinformados”. Fala-se em dar condições para que a mulher pratique, com segurança, o aborto. O senhor pede que o Estado ofereça “atendimento médico, psicológico, social e humanitário, proporcionando um nascimento seguro para a criança e mais conforto para a mulher, independente da situação da sua gravidez”.
Quanto à gravidez derivada de estupro, eu contestava o aborto, mas não me manifestava em respeito à dor da estuprada. Esse artigo me abriu os olhos: que se puna o estuprador, não a criança.
Parabéns ao senhor pelo artigo, parabéns aos leitores que defendem os nobres ideais nele expostos. Ao me despedir, permita-me, fugindo do tema, lembrar que a palavra Herodes, constante no título da brilhante e oportuna matéria,no caso, é adjetivo, não substantivo próprio e pede inicial minúscula. É como dizer que “fulano é o pelé daquele time”. Essa observação nada tem a ver com o tema comentado, mas tomo a liberdade de fazê-la
(Filadelfo Borges de Lima – filadelfoborgesdeli[email protected])
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