Governo promove militares, mas não paga
Diário da Manhã
Publicado em 18 de agosto de 2018 às 02:08 | Atualizado há 6 anosO coronel da Polícia Militar de Goiás (PM-GO) Avelar Lopes de Viveiros revelou ontem que 344 oficiais foram promovidos em julho, mas até hoje não chegaram a receber salário equivalente ao posto anunciado por meio do Doer n° 017, que é datado do dia 26 de abril de 2018. Em entrevista ao Diário da Manhã, o militar afirmou que o não pagamento por parte do governo estadual provoca frustração aos policiais militares que esperam crescer na profissão. Ele destacou ainda que subir na carreira é um direito assegurado na PM e lembrou que esse impasse pode provocar secularidade dentro da própria instituição.
Por outro lado, a Secretaria de Estado de Gestão e Planejamento (Segplan) deliberou na última terça-feira (14) que o “pleito foi sobrepesado” em função da situação orçamentária do Estado. No despacho, que o DM teve acesso com exclusividade, a pasta anunciou que “o pleito permanecerá em aberto, aguardando nova análise em momento oportuno”. Assinado pelo titular da Segplan, Joaquim Claudio Figueiredo Mesquita, o documento destacou que os autos deveriam ser encaminhados à Secretaria Estadual de Segurança Pública e Administração Penitenciária (SSPAP) para maiores informações sobre o caso.
Com cinco décadas de conhecimento dos meandros da Polícia Militar, o coronel Viveiros explicou que a instituição é baseada na hierarquia. De acordo com ele, a PM conta com postos e graduações que são preenchidas conforme a necessidade de determinada região. “Tudo na polícia é regulamentado em lei”, afirma. Ele pontuou que a promoção de um militar “automaticamente implica em reajuste salarial”, já que o “escalonamento funcional” também detém caráter remuneratório. “O policial ganha de acordo com o cargo que ele exerce na polícia”, afirma ele, que é candidato a deputado federal pelo Partido Democrático Trabalhista (PDT).
“Com qual objetivo o governador promove, mas não paga? Qual o interesse do policial em ser promovido, mas continuar recebendo salário do posto anterior?”, indaga o coronel, ressaltando que o governo estadual estaria fantasiando uma realidade financeira que é irreal. “Ou seja, o Estado de Goiás está quebrado, o governo de Goiás está maquiando as finanças. No entanto, essa é a única suposição que eu posso fazer. A única suposição que posso chegar é que o governo está maquiando as contas públicas, pois não estava pagando as diárias da polícia técnico-científica e dos policiais rodoviários”, frisa o coronel.
Em nota à reportagem enviada no início da noite, a Segplan afirmou que as promoções referentes aos Processos 2018800001002790, da qual se refere o despacho n° 1192/2018 SEI, tramitam inicialmente nos autos do Processo 2018000042030225, que foram aprovados pelo Conselho Estadual de Políticas Salariais de Recursos Humanos e Junta de Previsão Orçamentária e Financeira. Já “o processo 2018000042030225 foi arquivado de maneira errônea e as promoções dele constantes foram reenviadas à Jupof, no Processo 2018800001002790, induzindo à percepção de que se tratavam de novas promoções”.
Ainda conforme a pasta, foi solicitado à SSPAP que os dois processos sejam anexados em um só documento. Determinou-se ainda que a Superintendência Central de Administração de Pessoal providencie a inclusão na folha de pagamento dos militares que foram promovidos no final do mês passado. Por fim, a Segplan declarou também que, desde 2011, foram realizadas 20.780 promoções, cujo impacto foi de mais de R$ 24 milhões aos cofres públicos.
HISTÓRIA
Em 28 de julho de 1858, o então presidente da província de Goiás, Januário da Gama Cerqueira, sancionou a Resolução n° 13, que criou a Força Policial de Goiás. Com a criação da força, vários policiais civis foram contratados para realizar o policiamento local. Em 15 de novembro de 1889, quando foi proclamada a República, os estados brasileiros passaram a ter maior autonomia política e, por conseguinte, a polícia teve de se moldar às necessidades impostas pelo novo regime político e pela constituição que estava em vigor.
Governador de Goiás sucessivas vezes, Pedro Ludovico Teixeira reestruturou a polícia militar em 1933, transferindo-o da antiga capital, a Cidade de Goiás, para a nova capital, Goiânia. A partir de 1949, a Força Policial de Goiás passa a ser denominada como Polícia Militar de Goiás. Em 1970, foi implementado o Regulamento disciplinar do Exército na PM-GO. No início da década de 1980, a instituição mudou seu planejamento pedagógico, o que gerou mudanças nas normas internas do Centro de Formação e Aperfeiçoamento (CFA).
Em artigo acadêmico disponibilizado no endereço eletrônico da Faculdade de História da Pontifícia Universidade Católica (PUC-GO), o historiador Elio Gomes Pereira afirmou que a “descentralização do Comando de Policiamento ocorrido na década de 1990 provocou mudanças na organização burocrática da PM”. “Neste contexto, surge a Academia de Polícia Militar (APM), com sede em Goiânia, como instituição responsável pela formação, instrução e aperfeiçoamento de oficiais: aspirantes, tenentes capitães, majores, tenentes e coronéis”, afirma.
Com qual objetivo o governador promove, mas não paga? Qual o interesse do policial de ser promovido, mas continuar recebendo salário do posto anterior?” Avelar Lopes de Viveiros]]>