Esse lixo é seu!
Diário da Manhã
Publicado em 27 de junho de 2018 às 22:28 | Atualizado há 2 semanasO Brasil é o maior produtor de resíduos da América Latina. Um relatório produzido pela Universidade das Nações Unidas (UNU) e o Global E-waste Monitor 2017 revelou que o nosso País é o maior produtor de lixo eletrônico entre os países latinos, produzindo 2 milhões de toneladas em 2016. O crescimento foi de 10% no volume em relação à última pesquisa realizada, divulgada no relatório de 2014. Por ano, atualmente, o país chega a produzir 79,9 milhões de toneladas de resíduos sólidos, equivalente a 206 estádios do Morumbi, em São Paulo, tomados por lixo. Um dado perigoso, tendo em vista surtos de doença que começam a tomar os noticiários em 2018, como, por exemplo, os casos frequentes de febre amarela.
A realidade é que muitas pessoas não se preocupam com o destino final de um produto. Esse descaso reflete nas políticas públicas e acaba se tornando um ato “cultural” o descaso com resíduos. Desta forma, talvez seja necessário neste momento uma reeducação pessoal, na esperança de que o ato se espalhe pelo exemplo e outros tomem partido dessa causa. A primeira atitude para melhor destinar o lixo da casa é a coleta seletiva. Separando materiais recicláveis, como papel, plástico e alumínio, de resíduos orgânicos é possível reaproveitar cada um destes, dando uma utilidade própria para algo que seria um problema no futuro. Plásticos podem se tornar novamente garrafas ou até mesmo objetos artísticos e decoração, como luminárias, etc. O papel deve ser levado até um local de coleta, onde será trabalhado para ser utilizado novamente.
CADA UM
No começo deste ano, a Associação Brasileira de Empresas de Tratamento de Resíduos e Efluentes (Abetre) divulgou um estudo demonstrando que cerca de 80% das cidades brasileiras possuem baixa ou nenhuma condição de tratar os dejetos, gerados pelos centros urbanos, de forma adequado. O dado aponta para o descaso em primeiro lugar dos servidores públicos e em segundo lugar, mas não menos importante, uma falta de interesse dos próprios brasileiros. De acordo com a Abetre, tratar de forma correta os resíduos só poderia ser viável financeiramente para municípios com mais de 300 mil habitantes, que compõem, hoje, apenas 20% do total das cidades brasileiras. O presidente da entidade, Carlos Fernandes, explica que “por isso, estados e União devem induzir, via incentivos, a adesão dos municípios em programas regionais de gestão de resíduos”.
A alternativa para Carlos Fernandes é na área de limpeza pública. A proposta é que os estados e o governo federal assumamparte dacompetêncianagestãodolixogeradopelascidadesondenãoháviabilidadefinanceira paramanter a operaçãode forma individualizada. O presidente dá o exemplo de cidades de pequeno e médio portes que recebem em seus aterros cerca de 300 toneladas de lixo por dia: “A operação é praticamente inviável do ponto de vista econômico, já que o custo seria proibitivo”, conclui.
INVADIR SUA PRAIA
As praias do Brasil também não ficam de fora dessa maré de lixo. Não importa se o brasileiro está de férias, ou em casa, ou até mesmo trabalhando: os “restos” merecem atenção. No caso das praias e mares do Brasil, o grande vilão é o plástico. O estudo, um pouco mais antigo, divulgado no ano de 2012 pelo Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IO-USP), mostra que 95% do lixo encontrado nas praias brasileiras é composto por materiais de plástico, como garrafas, copos, canudos, cotonetes, embalagens de sorvete e redes de pesca.
A mesma pesquisa também aponta que uma média de 80% desses dejetos têm origem terrestre. Ou seja, o que leva os lixos a boiarem no mar é a gestão inadequada dos resíduos urbanos e também da atividade econômica, portuárias e de turismo. Apesar disso, a população tem sua parcela de culpa pelo problema, devido à destinação incorreta dos seus resíduos que, na maioria das vezes, são lançados deliberadamente nas ruas e nos rios, gerando o que é conhecido como poluição difusa.
E o que fazer com restos de comida e outros resíduos orgânicos? O destino desses resíduos não pode ser o mesmo, pois a decomposição é mais rápida. Uma das soluções mais vantajosas é a compostagem. Trata-se de um processo de reaproveitamento da matéria orgânica encontrada no lixo, transformando o resíduo em uma fonte de nutrientes que, quando misturada na terra, funciona como um ótimo fertilizante. Esta técnica já é utilizada em grande escala na agricultura, mas a novidade é que existem formas de utilizar a compostagem em casa, nas plantas, hortas e jardins do quintal.
Além de dar um fim correto ao lixo orgânico, a compostagem também serve como adubo para as plantas, sendo uma opção ainda mais vantajosa para o meio ambiente. O especialista e diretor geral da Esaflores, no Sul do País, Bruno José Esperança, alerta que é preciso ter atenção com o que vai na composteira. “Nem todos os restos orgânicos podem ser utilizados na compostagem. Lixo comum, restos de carne, laticínios e óleos não são indicados. Já restos de verduras e legumes, cascas de frutas, borras de café, cascas de ovos e serragem são ideais”. A montagem da composteira também é fácil e pode ser feita utilizando objetos inutilizados da cozinha, como tampas de plástico e caixas plásticas.
COMECE EM CASA
A compostagem doméstica é simples e precisa de poucos objetos para construção. São três caixas plásticas escuras (uma com tampa), folhas secas e galhos pequenos e cerca de 100 minhocas. As três caixas são empilhadas, sendo que as duas primeiras precisam de pequenos furos no fundo. Nessas duas caixas ocorre a compostagem e a caixa inferior será utilizada para coletar o resíduos líquido orgânico.
Para montar a compostagem é preciso forrar o fundo da caixa superior com folhas secas e pequenos galhos, que funcionará como dreno da composteira. Em seguida deve-se colocar terra com minhocas, acima os resíduos orgânicos e uma camada de folhas secas, para contribuir na oxigenação. Logo após é só fechar a caixa e fazer depósitos diários até que ela seja preenchida.
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