Suíça: o paraíso da neutralidade
Diário da Manhã
Publicado em 15 de junho de 2018 às 22:11 | Atualizado há 2 semanasParaíso dos chocolates e paraíso fiscal. A Suíça, país sem mar, cravado no centro da Europa na região dos Alpes, é conhecida por sua postura neutra diante de conflitos e blocos econômicos. É uma nação de várias línguas, que começou a se agregar antes mesmo da fundação do Império Romano. Sua postura diplomática e defensiva durante a Primeira e Segunda Guerra Mundial favoreceu o fortalecimento do sistema bancário, e a possibilidade de criação de contas anônimas atraiu as fortunas dos judeus da Alemanha após a formação do Terceiro Reich – anos depois tal sistema ficaria conhecido como abrigo de dinheiro desviado por corruptos brasileiros. Nesta matéria, o leitor confere algumas características culturais desse país milenar e cheio de peculiaridades.
Um dos maiores símbolos artísticos da Suíça, o Cabaret Voltaire, foi fundado em 1916 pelos alemães Hugo Ball e Emmy Hennings. É o berço do dadaísmo, movimento artístico contrário a qualquer tipo de guerra. Nessa época, com a deflagração da Primeira Guerra Mundial, a cidade de Zurique foi escolhida por vários artistas que buscavam refúgio em meio à carnificina patrocinada por seus países. É importante ressaltar que, mesmo não tendo participado de forma ativa durante as duas grandes guerras, a Suíça era vista como um país estratégico para ambos os blocos em conflito, na Primeira Guerra Mundial, e para conseguir manter sua neutralidade contava com um exército de cerca de 250 mil homens, com adicional de outros 200 mil em suporte.
Filmes – A indústria cinematográfica se estabeleceu na Suíça na década de 1930, sob forte influência de produções de países vizinhos, como França, Itália e Alemanha, cujos idiomas compõem a rica lista linguística da Suíça. O Festival de Cinema de Soleura foi criado em 1966, com a intenção de divulgar a realidade moderna do país. Outro importante festival de cinema e realizado anualmente em Locarno desde 1946. A comédia The Swissmakers, lançada em 1978, é até hoje o filme mais rentável do país, com bilheteria superada apenas por Titanic, em 1997. Uma curiosidade é que nas regiões onde se fala alemão, os filmes comerciais são exibidos com legenda em francês, e vice-versa. Os filmes exibidos em outros idiomas costumam ser rodados com ambas as legendas na tela.
MÚSICA
A atmosfera neutra da Suíça serviu de propaganda para o refúgio de vários músicos. Importantes compositores clássicos, como Artur Rubinstein, Krystian Zimerman (poloneses), Pierre Fournier (francês) e Arturo Benedetti Michelangeli (italiano), escolheram a Suíça para viver o século XX. A pianista suíça Hildegard Kleeb, nascida em 1957, é um dos destaques da música clássica contemporânea. O país é também a morada do jamaicano Lee Perry, um dos grandes nomes do reggae e do dub, que já colaborou com o grupo The Upsetters e com Mad Professor. O jazzista panamenho Billy Cobham, autor do álbum Spectrum, de 1973, escolheu a cidade de Schüpfen para viver. O vocalista da banda britânica The Smiths, Morrissey, vive atualmente em Lussane.
No era pós-rock, a cena de metal na Suíça é considerada uma das mais prósperas do país em esfera global. Nos anos 1980, várias bandas surgiram na ressaca da explosão do gênero em outros países da Europa. A banda Celtic Frost foi fundada no ano de 1984, ganhando destaque no ano seguinte com o álbum To Mega Therion, considerado uma grande referência para o thrash metal. O grupo se manteve na ativa até meados de 2008, passeando por várias vertentes do metal. Seu último lançamento, Monotheist, de 2006, é considerado uma grande contribuição para o estilo doom metal, que busca referência nos primórdios da banda Black Sabbath e que preza por uma atmosfera de desespero e tensão mais acentuada que em outros subgêneros.
Outro grupo que chama a atenção no catálogo suíço é o Coroner, formado em 1983, na cidade de Zurique. Possui seis álbuns lançados, todos eles com grande audiência mundial. O trio que deu origem à banda acompanhava e realizava serviços técnicos para o Celtic Frost. Chuck Schuldiner, um dos fundadores da banda norte-americana Death, um grande sucesso dos anos 1990, cita o trabalho da Coroner como um norte para o desenvolvimento musical do grupo. Os gélidos alpes suíços também inspiraram o surgimento de vários grupos de black metal no país a partir da segunda metade dos anos 1990. A iniciativa mais conhecida é a “banda de um homem” Paysage D’hiver. O álbum de 1999, lançado em forma de fita cassete, é o mais conhecido até o momento.
]]>