“Eu vou. Eu vou mais meu mano, eu vou”
Diário da Manhã
Publicado em 6 de junho de 2018 às 00:58 | Atualizado há 4 semanas“Se o xote e o xaxado vem do barro do chão, como diz a canção, de onde vem o jongo, o batuque, o tambor de crioula, o samba de roda e a capoeira angola? Vêm do barro do barro do chão” diz Lorena Fonte, produtora da IV Mostra Coletivo 22. O evento é um trabalho para a manutenção cultural que envolve dança, ritmo e poesia vindos para o Brasil com o povo negro. O Coletivo 22 preza pelo acesso e oferece atividades gratuitas e espetáculos a preços populares.
Com apresentações premiadas que navegam pela dança, teatro e música, mergulhando nas manifestações da cultura popular afro-brasileira, o Núcleo Coletivo 22 realiza a quarta edição da sua Mostra, do dia 7 a 9 de junho. Na programação, apresentações dos espetáculos do grupo, como“Moringa” queérecomendado para maiores de 16 anos, “Por Cima do Mar Eu Vim”, a performance “Entre Raízes, Corpos e Fé”, se entrelaçam com oficinas e exibição dos vídeos “Èjé” e “Elas Florescem”, que expressam a força da cultura afrobrasileira e da ancestralidade.
A Mostra será finalizada agradecendo as anciãs ancestrais com uma roda de tambor de crioula. A IV Mostra Coletivo 22 integra o projeto Barro de Chão–Manutenção Do Núcleo Coletivo 22, contemplado pelo Fundo de Arte e Cultura do Estado de Goiás 2016. Como já é uma postura política do grupo, o acesso à arte será democrático, a atividade de formação será gratuita e os espetáculos terão entradas populares de cinco reais. As oficinas terão participação livre e as inscrições podem ser feitas no momento da sua realização.
A galera do coletivo explica a conflûencia de saberes, que faz uma ponte cultural de Goiânia a São Paulo, e rege este trabalho: “O Núcleo Coletivo 22 une o conhecimento acadêmico com o conhecimento popular e atua em Goiânia e São Paulo. A trupe é formada do encontro de quatro linhas confluentes: a formação em dança na Unicamp, o Abaçaí – Balé Folclórico de São Paulo, o Centro de Capoeira Angola Angoleiro Sim Sinhô e a Universidade Federal de Goiás no curso de LicenciaturaemDança. Naconvergênciadessas trilhas está a professora e diretora Renata Lima que, ao longo de sua trajetória artística e acadêmica, vem aglutinando pessoas destes contextos, e nutre um profundo respeito e interesse em manifestações da cultura popular afrobrasileira”
A diretora do núcleo, Renata Lima, defende este trabalho como um espaço cultural e político: “Mergulhar na cultura popular para pensar e criar o trabalho do Núcleo é uma forma de protesto, ou de afirmação política. E, em alguma medida, é isso mesmo. Mas esse, antes de tudo, é o nosso lugar de fala. É isso que eu, junto com meus parceiros, tenho para dizer”.
ESPETÁCULOS
Em sua quarta edição a Mostra Coletivo 22 inicia na quinta-feira, dia 7, às 20h no Centro Cultural da UFG com o espetáculo “Moringa”, uma dança feita de terra e água, cozida ao fogo e esfriada pelo vento. O espetáculo é recomendado para maiores de 16 anos e é uma experiência estética que percorre a sabedoria da natureza e das anciãs ancestrais. Na narrativa a Moringa feita do barro da criação guarda o líquido que nutre os que nascem e apazigua os ânimos dos deuses subterrâneos. É também a substância que no fundo do lago ou no pântano guarda os segredos de umavelhasenhora doantigo Daomé.
Lorena Fonte fala do espetáculo Moringa, que abre as apresentações do evento, um trabalho do grupo que ganhou uma nova versão em 2016 em comemoração aos 15 anos do coletivo: “O espetáculo Moringa já foi apresentado pela companhia há alguns anos atrás e em 2016 fizemos uma remontagem dele com outros integrantes. Era um espetáculo solo com a diretora Renata Lima, e agora segue com os bailarinos Wellington Campos e Vinícius Bolivar acompanhados pelo músico Diego Amaral. Nós remontamos o espetáculo e apresentamos na cidade de São Paulo, nos 15 anos da companhia em 2016”.
A programação segue, na sexta-feira, dia 8, com a Oficina Núcleo Coletivo 22 às 9h no Centro Cultural UFG. Os participantes da oficina poderão vivenciar os elementos componentes da proposta estética dos espetáculos presentes na programação da Mostra, além das manifestações populares que fizeram parte do processo de criação: Jongo, Batuque, Tambor de Crioula e Sussa.
Ainda na sexta-feira, às 20h o Centro Cultural da UFG receberá o espetáculo“PorCimadoMarEuVim”, que tem como inspiração para o roteiro a travessia de africanos escravizados a caminho do Brasil e de sua permanência nesse território. A representação do mar, na qualidade de Kalunga Grande, é utilizado como elo entre o Brasil e a África bantu. Figuras históricas e ícones da resistência como a Rainha Nzinga Mbandi ecoam nesse espetáculo-musical.
E no sábado, dia 9, às 9h no Centro Cultural da UFG a oficina será “Deuses que Dançam”, com o premiado artista-pesquisador,Wellington Campos, integra o Núcleo Coletivo 22/ SP e da Cia Balangan/ SP, professor de Educação Física. A oficina tem como objetivo oferecer aos participantes elementos técnicos e poéticos de matrizes estéticas presentes nas obras do Núcleo, perpassando pela dança, teatro e a música.
Na noite de sábado, às 18h, na sede do Núcleo Coletivo 22–Espaço Águas de Menino ocorrerá a apresentação de “Entre Raízes, Corpos e Fé”, performance realizada por cinco mulheres, inspirada no fluxo entre o cotidiano e o ritual presente nos saberes e fazeres de mulheres do cerrado–parteiras, raizeiras e rezadeiras.
E a programação finaliza agradecendo as anciãs ancestrais com uma roda de tambor de crioula, uma ação do projeto Barro do Chão. Depois da realização da Mostra, as atividades do grupo Coletivo 22 continuam de portas abertas para a comunidade, já que a sede do grupo atua como um espaço cultural.
ATIVIDADES PARA A COMUNIDADE
Atualmente está na programação o projeto Barro de Chão que convida a todos para sentir a força do Tambor e perceber como o jongo, o batuque, o tambor de crioula, o samba de roda e a capoeira angola, manifestações da afrobrasilidade, se dão no contato com o barro do chão. É realizada uma vivência, uma brincadeira de cultura popular, aberta para a comunidade, uma quarta-feira por mês às 19h. Em junho será no dia 13, em julho no dia 11 e em agosto, será no dia 15.
O Jongo foi trazido ao Brasil pelos negros de origem Bantu, povo fundamental na construção da cultura brasileira. O ritmo também é conhecido como caxambu e veio da região Congo-Angola. Em uma jogada sincrética, para amansar os corações negros escravizados, os donos da fazenda permitiam que o jongo fosse dançado nos dias dos santos católicos. O jongo é uma mistura de ritmo, poesia e mostra de sabedoria, em seus fundamentos a roda era espaço exclusivo dos mais velhos, aos jovens cabia observar e absorver.
O tambor de crioula encontra maior expressividade no nordeste brasileiro, especificamente no Maranhão. Trata-se de uma dança geralmente realizada em roda acompanhada por tambores. Um lance muito próprio do tambor de crioula é a umbigada, o nome é bem sugestivo, pra chamar o próximo pra entrar na roda tem que ser na base da umbigada.
PROGRAMAÇÃO
IV MOSTRA COLETIVO 22–DE 07 A 09 DE JUNHO
Dia 07/06/2018
NOITE
Espetáculo Moringa
Faixa etária: Recomendado para maiores de 16 anos
Mostra de Vídeo Coletivo 22
Faixa etária: Livre para todos os públicos
Local: CCUFG às 20h
Ingresso: R$ 5,00 (Valor Único)
Dia 08/06/2018
MANHÃ
Oficina com Núcleo Coletivo 22
Local: CCUFG às 09h
Entrada Franca–Inscrições no local
NOITE
Espetáculo Por Cima do Mar eu Vim
Faixa etária: Livre para todos os públicos
Local: CCUFG às 20h
Ingresso: R$ 5,00 (Valor único)
Dia 09/06/2018
MANHÃ
Oficina “Deuses que Dançam” com Wellington Campos
Local: CCUFG às 9h
Entrada Franca – Inscrições no local
NOITE
Ensaio Ritual Entre Raízes, Corpos e Fé
Tambor de Crioula
Faixa etária: Livre para todos os públicos
Local: Águas de Menino às 18h
Entrada Franca
Endereços:
CCUFG: Av. Universitária, 1533–Setor Leste Universitário, Goiânia-GO
Sede do Núcleo Coletivo 22 – Espaço Águas de Menino: Rua Negrinho Barbosa, Qd 08 Lt 27, Residencial Antônio Barbosa Goiânia-GO
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