Uma partida precoce
Diário da Manhã
Publicado em 4 de abril de 2018 às 23:49 | Atualizado há 7 anosNa manhã do domingo de Páscoa, recebi na residência de minha mãe, em Silvânia, a visita de um grande amigo, Osvaldo Sérgio Lôbo (Osvaldão do Chico do Otávio). Embora a nossa convivência não seja contínua, tenho por ele e sua família um carinho enorme, principalmente por nos amparar em um momento muito difícil de nossas vidas, aquele do desencarne de meu pai, Otávio Pereira do Vale.
Procurou-me, envolto a uma dor imensurável, para que intermediasse junto ao governo para o translado do corpo de seu sobrinho, João Batista Lôbo, assassinado, covardemente, na cidade de Sinop, em Mato Grosso, onde residia.
Jovem altivo e festivo, divertia-se em um encontro de som automotivo, quando, ao tentar separar a briga de um casal, no qual a mulher era covardemente espancada, acabou recebendo um golpe de faca na cabeça, o que o levou à morte.
Seu algoz, além de cometer o crime previsto na Lei Maria da Penha contra sua acompanhante, hoje é procurado por tornar-se um assassino cruel, que ceifou a vida de um jovem de 32 anos, cuja alegria e grandes amizades, era o que mais cultivava.
Prontamente, busquei intervir como pedira Osvaldão; meu amigo e companheiro de lutas Lusmário Ferreira Valoz (Azulão) já conseguira falar com o governador. A generosidade e o carinho do amigo Marconi Perillo e de tantas outras pessoas que acolheram nosso pedido resultou na liberação de uma aeronave do Estado para o translado. Por isso, rendo meus sinceros agradecimentos, em meu nome e dos familiares.
Por uma ação heroica, a vida do jovem João Batista foi ceifada. Ele, igual a tantas pessoas que conheço, não suportou ver uma mulher apanhando e interveio. Foi na defesa de quem estava sendo agredida, não esperando que a crueldade estava à espreita. A frieza, a covardia e a maldade uniram-se na mão do assassino, que não excitou em lhe dar o golpe certeiro.
William Shakespeare disse: “Os covardes morrem várias vezes antes da sua morte, mas o homem corajoso experimenta a morte apenas uma vez”.
O patife criminoso deverá morrer pelo remorso, arrependimento, medo, insegurança e incerteza, havendo de cair sob a égide da Lei, impondo-lhe pena máxima pela atitude maléfica e vil.
João Batista, no arroubo de sua juventude, no ímpeto de sua alma, não mediu o perigo que lhe impôs seu assassino, apenas tentou defender a fragilidade da mulher, expondo-se por um ato de profunda coragem e heroísmo.
Toda vida ceifada pela violência não pode ser vista apenas como uma estatística, mas na necessidade de termos uma justiça mais ativa e eficaz, leis mais severas e que a punição se converta em trabalho em prol da sociedade.
Não consigo mensurar a dor dos seus pais João e Regina, nem de seus irmãos Benedito e Ana Elisa Lôbo. Pais não nasceram para enterrar filhos, principalmente os repletos de vida e de alegria. Resta-me, mais do que o desejo de justiça, dizer que se lembrem de seu filho como um herói que buscou defender o lado frágil. Tenho plena convicção de que qualquer membro de sua família teria feito o mesmo. Não foi uma atitude impensada, mas um ato de grande coragem.
Essa dor que faz sangrar os corações de seus tios Elizabeth, Ditinho, Silvino, Osmar, Chiquinho, Osvaldo, José Luiz e Cristiano, bem como de seus vários primos, é inenarrável, principalmente por serem uma família unida e criada sobre os alicerces da moral e do respeito ao próximo. A todos, o meu abraço fraterno e meus mais profundos sentimentos.
Regressei a Silvânia na segunda-feira, quando caía uma chuva contínua, mais parecendo lágrimas de uma cidade a chorar a partida de um jovem feliz, bem relacionado e que exercia uma vida cheia de energia e de esperanças. Nas Rede Sociais, centenas de mensagens de consolo, consternação, orações e sentimentos.
Não pude levar o meu abraço aos seus pais, pois anteciparam o horário do sepultamento. Mas procurei o amigo e compadre de meu irmão, Osvaldão, tio de João Batista.
Não há o que dizer em momentos assim, principalmente nós que somos tios e pais e temos carinho por pessoas iguais ao João Batista. Resta-nos a oração, para que a espiritualidade maior derrame bênçãos nos corações de seus familiares, que lhes traga conforto e amenize essa dor inelutável, que o tempo somente ajuda a conviver com ela, nunca a extirpá-la.
Que se lembrem sempre desse jovem corajoso, que partiu por conta de um ato de heroísmo. Que acreditava nos valores da família, no respeito ao próximo, na amizade e na paz.
Lembremo-nos de Antoine de Saint-Exupéry: “O verdadeiro amor nunca se desgasta. Quanto mais se dá mais se tem. Por isso nunca se canse de amar, algum dia você verá os grandes frutos do seu amor que foi sempre cultivado”.
Abraço fraternal à família Lôbo e aos amigos de João Batista.
(Cleverlan Antônio do Vale, administrador de empresas, gestor público, pós-graduado em Políticas Públicas e Docência Universitária, articulista do jornal Diário da Manhã – cleverlanva[email protected])
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