Nascimento e Morte do Universo
Diário da Manhã
Publicado em 31 de março de 2018 às 22:08 | Atualizado há 7 anosRetornando à reflexão sobre a origem e extinção do Universo, assunto de meu livro “Espiritismo e Ciência. Planeta em Transição” , quando tive a ousadia de colocar em dúvida a opinião de ilustres físicos que afirmam que o Universo teria nascido há cerca de 15 bilhões de anos e que se extinguiria depois de 10 bilhões de anos, mais ou menos. Ou seja, a criação do Universo através de uma grande explosão, ou Big Bang, e a sua extinção através de uma grande implosão, ou Big Crunsh.
Digo ousadia, pelo fato deste modesto escriba não ostentar qualquer título acadêmico da modalidade, mas que, não apenas em razão de opiniões em contrário de físicos também de nomeada, mas também em função das perorações e cogitações filosóficas, que podem, por sua vez, levar à mesma conclusão da matemática e da física.
Não é segredo, hoje, que as deduções filosóficas, nos limites da lógica e do bom senso, são suscetíveis de encaminhar o raciocínio à mesma exatidão das operações matemáticas.
A respeito dessa assertiva, torna-se de excelente oportunidade referir-se aqui às reflexões filosóficas de René Descartes (1596 – 1650) , filósofo, físico, matemático e astrônomo francês, sobre a existência de Deus e da alma (e seus respectivos considerandos), que equivalem a alguns dos indiscutíveis dogmas filosóficos de “O Livro dos Espíritos” , de Allan Kardec.
Citem-se pelo menos duas dessa equivalência.
No livro ora citado, diz René Descartes, depois de enriquecida introdução, à página 104:
“Mantive-me sempre firme na resolução que tomara de não supro nenhum outro princípio além de o de que acabo de me servir para demonstrar a existência de Deus e da alma, e de nada admitir como verdadeiro que não me parecesse mais claro e mais certo do que me pareciam ser as demonstrações dos geômetras. E, no entanto, ouso dizer que não somente encontrei modo de satisfazer-me em pouco tempo acerca de todas as principais dificuldades que costumam ser tratadas na Filosofia, mas que também observei certas leis que Deus de tal modo estabeleceu na natureza, e das quais imprimiu tais noções em nossas almas.”
É interessante constatar que em “O Livro dos Espíritos”, quando Allan Kardec pergunta aos Espíritos Superiores, na questão 621, onde está escrita a lei de Deus, que não deixa de ser um dos corolários da existência de Deus e da alma, respondem eles:
“Na consciência.”
2 – Com relação, ainda, à alma, essência divina no homem, após minuciosa instrução sobre corpo dos animais em confronto com o do humano, escreve o notável filósofo moderno, à página 112 da citada obra:
“Com efeito, examinando as funções que podiam assim existir nesse corpo humano, ali encontrava exatamente todas as que podem existir em nós sem que pensemos nisso, e sem que, por conseguinte, a nossa alma, isto é, essa parte distinta do corpo cuja natureza consiste, como acima ficou dito, apenas em pensar, para isso contribua – funções que são todas as mesmas, o que permite dizer que os animais sem razão se assemelham a nós, sem que eu possa, por isso, encontrar alguma daquelas que, dependendo do pensamento, são as únicas que nos pertencem como homens, as quais ali as encontrava todas, desde que admitia que Deus criara uma alma racional e a ligara a esse corpo do modo que descrevi.”
Verifica-se, mais uma vez, que Descartes (um dos ilustres precursores da filosofia espírita) deduz, de sua própria introspecção, que a alma é algo independente do corpo que anima e lhe serve de instrumento.
Mais uma vez, sua dedução filosófica corresponde ao que os Espíritos da Codificação, em “O Livro dos Espíritos”, responderam a Allan Kardec, quando ele questionou:
- O espírito independe da matéria, ou é apenas uma propriedade desta, como as cores o são da luz e o som o é do ar?
“São distintos uma do outro; mas, a união do espírito e da matéria é necessária para intelectualizar a matéria.
- a) – Essa união é igualmente necessária para a manifestação do espírito? (Entendemos aqui por espírito o princípio da inteligência, abstração feita da individualidades que por esse nome se designam).
“É necessária a vós outros, porque não tendes organização apta perceber o espírito sem a matéria. A isso não são apropriados os vossos sentidos.”
3 – Relacionei, acima, as razões que me alentaram a colocar em dúvida a teria do Big Bang e do Big Crunsh.
Todavia, depois de reler as ponderações de Michio Kaku, em seu fabuloso livro “Hiperespaço” , no capítulo 9 – Parte II – Antes da Criação –, em que ele procura demonstrar inclusive as provas da existência de Deus, decidi me recolocar em reflexão sobre tão cruciante assunto.
O fato de me recolocar em novas reflexões sobre a questão, não modifica, porém, o que continuo tendo como essencial.
Permito-me repetir, ao ensejo, o que já tenho dito noutros textos, por absoluta necessidade nesta circunstância.
Partindo-se do princípio de que o que existe no sentido absoluto é o espírito, ou alma, ou consciência, na linguagem científica moderna, da Física Quântica, o fato de o Universo ter sido criado, há 15 ou mais bilhões de anos, através de uma grande explosão (Big Bang) e que também extinguir-se-á daqui há 10 bilhões de anos, ou mais, por uma enorme implosão (Big Crunsh), não altera, essencialmente, a questão da eterna existência do espírito.
Com a permanência, ou não, do Universo, a alma insiste, sempre e sempre, em sua infinda trajetória, rumo às esferas espirituais, cada vez mais elevadas e sutis.
Nesta oportunidade, é bom que se permaneça fiel ao pensamento do nobre filósofo e físico francês, ora citado, que, em síntese, deixou-nos o entendimento de que: o homem é um caniço, mas é um caniço pensante. E é tão frágil, que apenas uma fração de rocha pode esmagá-lo. No entanto, apesar de sua excessiva fragilidade, é ele maior e mais importante do que o Universo, porque o Universo, apesar de sua magnitude e grandeza, ignora a sua própria existência. E o Universo só existe porque existem os seres pensantes, que dão notícia de sua existência. Se os seres pensantes não existissem, o Universo também não existiria, porque ninguém haveria para dar notícia da sua existência.
Poder-se-ia acrescentar, ainda: o homem, ser inteligente e herdeiro da Divindade, feito à sua imagem (quantos aos seus atributos, e não do ponto de vista antropomórfico), é capaz, por sua mente, de abarcar o Universo.
Pode-se dizer, pois, sem equivocar-se, que o homem é mesmo maior do que o Universo. Tanto é que pode contê-lo e abarcá-lo, por inteiro, em sua mente.*
* – Páginas 311/315.
Nota: De meu livro “A Obra de Allan Kardec – Reflexões (Filosóficas, Científicas e Religiosas”), a ser lançado no dia 7/04/2018, na sede do Lar de Jesus (Fone: 62-3945-4966).
(Weimar Muniz de Oliveira, wei[email protected])
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