Flúor na água está abaixo do recomendado
Diário da Manhã
Publicado em 27 de março de 2018 às 01:30 | Atualizado há 1 semanaUm levantamento feito em 20 cidades goianas revela que, apesar do fornecimento de água fluoretada cobrir boa parte da população desses locais, na maioria delas a concentração de fluoretos está abaixo do recomendado e, por isso, não proporciona o benefício máximo esperado para contribuir para a prevenção da cárie dentária. Já em alguns municípios, a concentração está acima do recomendado, podendo contribuir para a fluorose, que são manchas permanentes nos dentes causadas pelo excesso de flúor.
Os dados de Goiás integram os resultados do Projeto Vigifluor, coordenado localmente pela professora Maria do Carmo Matias Freire, da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Goiás (FO/UFG). O Projeto Vigifluor é uma pesquisa científica coordenada pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP) e envolve diversas instituições brasileiras. O objetivo foi conhecer a cobertura e os níveis de fluoreto adicionado às águas de abastecimento público, de 2010 a 2015, nos 614 municípios brasileiros com 50 mil habitantes ou mais.
Em Planaltina de Goiás, segundo a pesquisa, apenas 30% de água tratada é distribuída à população e desta, apenas 5% com água fluoretada. Nos municípios de Águas Lindas de Goiás, Luziânia, Planaltina e Valparaíso de Goiás foi observado que apresentavam menos de 50% de cobertura de água fluoretada. A única cidade que 100% da população recebe água com flúor é Catalão. Em Goiânia, 98% das pessoas consomem água tratada com flúor.
LEI
A pesquisa surgiu da constatação de que, no Brasil, apesar de a fluoretação da água ser instituída por lei desde a década de 1950, não se dispunha de informações fidedignas para avaliar a extensão da cobertura e a vigilância dessa medida em todo o território nacional. Outro dado relativo a Goiás é a inexistência de ações de vigilância da fluoretação da água por parte dos municípios pesquisados e pela Secretaria Estadual de Saúde. Essa ação, denominada heterocontrole, verifica se os teores de flúor adicionados estão corretos, já que o controle feito somente pelas empresas de abastecimento não é considerado suficiente.
“Estes resultados mostram a necessidade de estratégias para avançar na perspectiva da vigilância da fluoretação em Goiás, buscando manter e ampliar esta importante medida de promoção de saúde bucal e garantir que seja aplicada de forma adequada, proporcionando redução do índice de cárie na população, sem riscos para sua saúde”, afirma a professora da UFG. Discussões a esse respeito já foram iniciadas entre a FO e a Secretaria de Estado da Saúde de Goiás, por meio da Superintendência de Vigilância em Saúde e da Gerência de Saúde Bucal.
A adição de fluoretos à água de abastecimento é um método efetivo de prevenção da cárie dentária, uma doença que causa dor e afeta a qualidade de vida, especialmente entre a população economicamente menos favorecida.
FLÚOR
Estudos realizados pela Organização Mundial de Saúde (OMS) revelam que, para cada dólar investido em fluoretação, são economizados US$ 50 que seriam destinados ao pagamento de tratamentos dentários e outras despesas indiretas.
No Brasil, a prática de fluoretação das águas de abastecimento público começou em 31 de outubro de 1953, na cidade de Baixo Guandu, no Espírito Santo. Porém, foram nos anos 70 que a fluoretação alcançou um grande progresso, com participação nos programas nacionais e estaduais.
Dentes mais fortes
Segundo o dentista Felipe Furquim, o flúor ajuda a fortalecer o esmalte dentário do processo de desmineralização, ou seja, a perda de minerais, por conta dos alimentos ácidos, como vinagre, suco de laranja, refrigerante, entre outros, que são consumidos no dia a dia. “É uma guerra para manter o dente forte. Os ácidos provenientes das bactérias e dos alimentos removem mineral do dentes e o flúor ajuda a devolver esse mineral para o esmalte”, explica o profissional.
Para fazer bem aos dentes o flúor precisa ser usado da forma e com a quantidade corretas. Felipe afirma que utilizado em grande quantidade ele pode, sim, causar a chamada fluorose dentária. Esse é um processo que causa má formação do esmalte dental em crianças por excesso de flúor e que ocorre no período de desenvolvimento dos dentes. “Nos casos mais leves, a flurose se apresenta na forma de manchas mais brancas sem brilho no esmalte do dente. Nos casos mais severos, é uma coloração acastanhada e o esmalte fica bem poroso e sem resistência tornando-se mais frágil”, afirma Furquim.
A cárie caso não seja tratada pode evoluir e atingir o nervo do dente. “Ao atingir o nervo, as bactérias presentes na cavidade bucal podem ganhar a corrente sanguínea e se instalar em vários tecidos”, explica o dentista. Essa invasão bacteriana pode levar a doenças cardíacas, pneumonias, e até mesmo oferecer riscos à integridade do tecido nervoso ao alcançar o cérebro.
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