Almoço sem mistura
Diário da Manhã
Publicado em 22 de março de 2018 às 22:55 | Atualizado há 7 anosBom peão, trabalhador e amigo de todos na região, Firmino tinha um pequeno defeito: comia demais, um exagero e, se chance lhe dessem, muitas vezes ao dia.
Nas folgas semanais, arreava o animal e saía a percorrer as fazendas da redondeza, em visita de cortesia, chegando às sedes sempre nos horários que lhe garantissem um bom café da manhã, um lauto almoço ou jantar, sem falar nos costumeiros lanches dos intervalos .
Certa vez, na intenção de bater seu próprio recorde de dois almoços num só domingo, apressou-se para chegar a tempo de mais um, na Fazenda Pau Darco, já bem passada a hora.
– Vamos apear, acenou o fazendeiro que fazia o quilo, sentado à varanda.
E complementou:
– Já almoçou?
– Pra falar a verdade, estou com a fome de ontem, gemeu o visitante.
E o fazendeiro, em voz alta, para a esposa lá na cozinha:
– Mulher, tem almoço que dê pro Firmino?
– Só tem arroz, feijão e mandioca. Não tem nada de mistura!
– Então, frita ovo pra ele!
Passados alguns minutos, lá de dentro veio a pergunta da dona da casa:
– Seu Firmino, o senhor gosta de ovo mole ou duro?
E o Firmino, em tom de voz alta, rouca e firme, respondeu:
– Dois moles e dois duros!
Palmeiras de Goiás, 1972.
(Prof. Raymundo Moreira Nascimento, advogado, jornalista e escritor)
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