O trabalhador segue refém da própria história
Diário da Manhã
Publicado em 22 de março de 2018 às 22:06 | Atualizado há 7 anosOs brasileiros dividem um País onde a desigualdade social atinge patamares absurdamente elevados, batendo taxas verificadas em outras nações, dentre elas irmãs latino-americanas. Enquanto uma minoria abastada ostenta vida de luxo, desfila em carros modernos e mora em imensas casas que ostentam riqueza, outra parte, a grande maioria, sobrevive da renda que mal possibilita o que comer, habitando barracos em condições precárias, sem nenhuma infraestrutura. Essa realidade é o que se conhece no Serviço Social e nas ciências humanas por desigualdade social, consequência da péssima distribuição da renda produzida no Brasil. É muita riqueza acumulada nas mãos de uma elite sendo que o restante da população segue pulverizado nas mãos da proposta de gestão neoliberal.
Para compreender a desigualdade social – vivenciada de perto pela população – expressada nas diferentes camadas da sociedade, deve-se atentar a respeito do surgimento desta condição social. Um dos recortes históricos, denominado feudalismo, antecede a Idade Moderna e o surgimento do capitalismo, e, nesse cenário a sociedade foi muito mais rural do que urbana. Ali os senhores feudais mandavam em grandes extensões de terras concedidas a quem dispusesse cultivá-las. Mas a ascensão da classe burguesa e o desenvolvimento dos meios de produção mudaram o panorama, passando os centros urbanos a conclamar trabalhadores para suas fábricas. A Inglaterra desenvolveu políticas como a do cerceamento – que consistia em privatizar os latifúndios – fazendo com que camponeses fossem sitiados numa certa delimitação territorial, limitados à sua produção, obrigados a desocupar suas terras. Assim o sistema capitalista inicia o processo de divisão e repressão sobre a parte do proletariado a oferecer sua força de trabalho em troca de miseráveis condições de vida
Se tratando da conjuntura econômica, política e social pela qual o brasil passa, a classe trabalhadora é a principal afetada e tem que arcar com todos os processos de retrocesso e violação de direitos um exemplo de tais regressões é a Lei 13.467/17 de 13 de junho de 2017 que foi sancionada pelo atual governo golpista de Michel Temer, onde a mesma altera de forma retrógada os direitos conquistados por meio de muita luta pela classe trabalhadora. É notório que, “as desigualdades e a barbarização da vida social no Brasil e, consequentemente tornarão mais difíceis às condições de resistência da classe trabalhadora” (CEFESS, 2017, s/p) isso só reforça a importância de nos unir, lutarmos e resistir frente a esse governo que só atende as necessidades dos grandes empresários e deixa de lado os interesses do povo.
É assegurado no preâmbulo da Constituição Federal Brasileira/CF-1988 que todos os cidadãos gozem de uma melhor forma de vida possível, com igualdade e justiça, mas na realidade o enunciado não passa de utopia, pois sempre haverá divisão de classes sociais de cunho puramente preconceituosas. Segundo Lenza: “Nos termos do preâmbulo da CF/88, foi instituído um Estado Democrático, destinado a assegurar os seguintes valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias: o exercício dos direitos individuais, a liberdade; a segurança; o bem-estar; o desenvolvimento; a igualdade e a justiça” (2010, p. 119). Uma pesquisa realizada pela ONU, em 2010, aponta o Brasil como o quarto País da América Latina em desigualdade social. Nesta conjuntura, Goiânia ocupa a 1ª colocação entre as cidades mais desiguais. Após oito anos o que se vê é que nada mudou. Além da necessidade de uma melhor distribuição de renda a Nação carece das políticas de Estado capazes de corrigir tais distorções. Somos órfãos de uma formação educacional de qualidade, o que acaba contribuindo para a reprodução dessa desigualdade, faltam oportunidades, faltam melhores investimentos em áreas sociais falta praticamente tudo.
As políticas assistencialistas têm como principal causa as ações exercidas pelos governantes. Ao que parece, o povo brasileiro urge aprender a escolher seus representantes. Posteriormente, cobrar em âmbito de Parlamento e Poder Executivo, adoção de medidas que apresentem resultados práticos a curto e médio prazos. Medidas que venham a erradicar o problema da má distribuição de renda que assola o País, há décadas, quando as vítimas enfileiram as classes menos favorecidas. Situação que perdura, em grande parte, por falta de vontade política dos que deveriam representar o povo. Segundo Karl Marx: “Cada dia se torna mais claro que as condições de produção em que se move a burguesia não conta com caráter unitário, simples, mas dúplice; que nas mesmas condições em que se produz a riqueza, produz-se também a miséria” (2001, p. 200). Nas mesmas condições em que se processa o desenvolvimento das forças produtivas, desenvolve-se também uma força repressiva. Essas condições só geram a riqueza burguesa, isto é, a riqueza da classe rica, com a destruição continuada de membros que integram essa classe com a formação de um proletariado cada vez mais robusto.
Sabe-se bem que a história do nosso País é marcada por um Estado que não possui a cara de seu povo. Ser um dos países mais desiguais do mundo não significa senão a fragilidade da identidade enquanto Nação que não se reconhece como uma sociedade, pertencente a algo, ser Pátria. Perdidos, sem casa, somos reféns daquilo que a própria história nos deixou com conflito de uma população que não se une por estar em guerra constante consigo mesma, aniquilando o próprio corpo. Somos o extrato do descaso histórico do Estado mascarado e omisso, a gerar historicamente os frutos catastróficos das desigualdades sociais. Cabe elucidar um trecho da música “Homem Primata” da banda Titãs que diz: “Desde os primórdios, até hoje em dia o homem ainda faz o que o macaco fazia, eu não trabalhava, eu não sabia que o homem criava e também destruía. Homem primata, capitalismo selvagem.” A música da década de 1980 é tão atual, por retratar uma sociedade na qual onde quem carrega poder quer sempre mais, mesmo que para isso seja necessário sujar as mãos, a alma, vidas.
A injustiça reina de forma escancarada em todos os segmentos da sociedade moderna, principalmente nos bastidores da política, em áreas municipal, estadual, federal. Há poucas chances de uma punição administrativa mais severa e justa. Em 2018 teremos, mais uma vez, a oportunidade de mudar os rumos da gente e dos problemas. E não adianta reclamar da atual conjuntura se não souber usar as urnas como a principal arma que sociedade possui. É necessário que o povo solte seu grito de liberdade e lute por um País mais justo e igualitário ao depositar seu voto livre, democrático e de direito. Como afirmava o escritor Joseph-Marie de Maistre, também filósofo, diplomata e advogado, ainda no século XVIII: “Cada povo tem o governo que merece.” Pode ser que sim, mas tomara que seja não pois ao concluir que a culpa não é dos políticos, essa será então, da consciência política de quem vota neles.
(Themisson Pereira Alves, graduando em Serviço Social pela FacUnicamps militante do Mess – Movimento Estudantil do Serviço Social, presidente da Atlética Transformação)
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