Cotidiano

O prato que devora o salário

Diário da Manhã

Publicado em 20 de março de 2018 às 01:40 | Atualizado há 2 semanas

  • Pesquisa realizada em 50 cidades e mais cinco mil municípios mostra que custo para o trabalhador almoçar fora representa uma alta maior que o valor da inflação
  •  Preço médio da refeição em Goiânia é de R$ 30,81, enquanto o valor médio nacional é de R$34,14. Centro-Oeste e Norte são as regiões com os valores médios mais baixos
  • Almoçar fora de casa está 3,64% mais caro em todo o Brasil. É o que revela a pes­quisa “Preço Médio da Refeição” divulgada pela ABBT (Associação Brasileira das Empresas de Bene­fício ao Trabalhador). A pesquisa, realizada nas cinco regiões brasi­leiras, indicou o valor médio de­sembolsado pelo trabalhador em território nacional: R$ 34,14. A ca­pital goiana apresentou um valor satisfatoriamente abaixo do valor da média nacional, R$ 30,81.

    As regiões Norte e Centro-Oes­te apresentaram os menores valo­res: R$ 32,77 e R$ 32,87, respectiva­mente. A região Sudeste registrou preços ligeiramente acima da mé­dia do Brasil: R$ 34,49. O estudo é realizado anualmente desde 2003, com restaurantes e lanchonetes que aceitam voucher refeição (car­tão eletrônico ou papel) como for­ma de pagamento, em 51 cidades do país. Desde 2014, a pesquisa tem sido realizada pelo Datafolha. Fo­ram visitados 4.587 estabelecimen­tos comerciais no final de 2017.

    Goiânia ocupa a 5ª posição entre as capitais com a refeição mais ba­rata (R$ 30,81), perdendo apenas de Campo Grande (R$ 26,23), Belém (R$ 28,27), Palmas (R$ 30,38) e Belo Horizonte (R$ 30,79). Ainda assim, o trabalhador goianiense desembol­sa R$ 677,82 todo mês almoçando fora, o que representa o altíssimo índice de 72,3% do salário mínimo.

    ACIMA DA INFLAÇÃO

    A inflação oficial medida pelo Índice Nacional de Preços ao Con­sumidor Amplo (IPCA) fechou 2017 com alta acumulada de 2,95%. É a menor taxa desde 1998. De acor­do com o IBGE, que calcula o IPCA, os alimentos consumidos em casa (-4,85%) foram responsáveis pela queda na inflação. Entretanto, a ali­mentação fora de casa se manteve em alta no ano: +3,83%, segundo o IPCA. “Acreditamos que outros custos, como gás de cozinha, luz e água, por exemplo, pressionaram os estabelecimentos a fazerem o re­passe para o preço final aos consu­midores”, afirma Jessica Srour, dire­tora-presidente da ABBT.

    De acordo com a pesquisa, a cidade mais cara é Florianópolis (SC): o preço médio da refeição completa é de R$ 40,85. Já Cam­po Grande (MS) registrou o me­nor preço: R$ 26,23. “Normal­mente, cidades que são destinos turísticos têm preços mais altos que as demais. Por isso a pesqui­sa é importante. Ela auxilia os de­partamentos de recursos huma­nos das empresas a conceder o benefício alimentação com va­lor adequado para cada região, garantindo que o trabalhador se alimente de forma adequa­da e saudável”, ressalta Jessica.

    Para chegar ao valor da refeição completa são pesquisados os pre­ços do prato principal, bebida não alcoólica, sobremesa e café prati­cados na hora do almoço. Os locais pesquisados são divididos em qua­tro categorias: comercial (estabe­lecimentos com serviço mais sim­ples e que serve o popular “prato feito”), autosserviço (sistema self­-service por quilo ou buffet a pre­ço fixo), executivo (restaurante que oferece uma opção de prato do dia mais em conta que os de­mais apresentados no menu du­rante a semana) e a la carte (com ambiente mais sofisticado onde o consumidor escolhe o prato que será preparado na hora).

    CONQUISTA DO TRABALHADOR

    “Receber o benefício alimenta­ção é uma conquista que faz par­te da vida do trabalhador brasilei­ro há mais de 40 anos”, defende a diretora-presidente da ABBT. O sistema de auxílio-alimentação, que engloba as empresas opera­doras do segmento de concessão de vales e tíquetes refeição e ali­mentação, está inserido no PAT – Programa de Alimentação ao Trabalhador do governo federal.

    Desde 1976, o PAT estimula a concessão do benefício por meio de incentivos fiscais. Atualmen­te, o programa já atende cerca de 22 milhões de trabalhadores, de acordo com dados do Ministé­rio do Trabalho. Deste total, 85% recebem até cinco salários mí­nimos. “Se levarmos em conta o preço médio da refeição, o traba­lhador gasta R$ 751,00 por mês para almoçar fora de casa, o que representa 80% do valor do sa­lário mínimo apurado em 2017, que foi de R$ 937,00. Para a gran­de maioria das pessoas que rece­bem o benefício seria muito difícil arcar com os custos de alimenta­ção fora de casa”, conclui Jessica.

    O Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT), instituído pelo Governo Federal, em 1976, é o mais duradouro programa so­cioeconômico do Brasil e um dos mais bem-sucedidos do mundo, sendo referência para a Organi­zação Internacional do Trabalho (OIT). É o único programa de be­nefício alimentar no mundo que prevê a possibilidade de ofertar refeições principais (almoço e jantar) e refeição menor (desje­jum e lanche) para o trabalhador. Em 2017, o PAT deve beneficiar mais de 22 milhões de trabalha­dores, de aproximadamente 223 mil empresas, representando um incremento de cerca de 13,4% no rendimento médio mensal da for­ça de trabalho formal.

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