O Ministério da Segurança Pública e o vice-governador
Diário da Manhã
Publicado em 5 de março de 2018 às 23:15 | Atualizado há 7 anos“O que é importante é o conceito, a formulação. Ele tem que ter força e capacidade. Não adianta uma pasta sem condições de uma intervenção pontual ou sem uma visão estratégica”, teria dito o vice-governador neste matutino, acerca do novo Ministério da Segurança Pública, criado pelo presidente Michel Temer. O vice levanta-se contra o Ministério por ver nele uma cópia mal-ajambrada de sua proposta para o Governo Federal. Ou seja, o governador queria o ministério, mas não concorda com o que foi feito. Não sei se a oposição do sr Zé Eliton dá-se em virtude da forma, como ele sugere, ou se no fundo teme que a proposta não vingue e lhe atribuam a culpa de uma ideia falida. Seja lá o que for, vale uma análise.
O Sr vice-Governador dirigiu a pasta da Segurança Pública por cerca de sete meses. Quando se esperava dele uma ação contundente na pasta, passou 7 meses no limbo, sem uma grande ação que caracterizasse sua gestão. Cantado em verso pelo governo como o gestor que salvou a Celg, na verdade só preparou e vendeu a estatal, livrando o Estado do abacaxi que não conseguia mais gerir. Na segurança, sua contribuição foi justamente a tal proposta de criação do ministério que, agora, critica.
Não adianta uma pasta sem condições de intervenção ou sem uma visão estratégica. Sim, é verdade. Existe o plano técnico, o tático e o estratégico. De fato, os governos devem planar neste último nível da gestão pública. E é no plano estratégico que se estabelece metas e programa meios de obter os resultados definidos. Se o Ministério tem este condão no plano nacional, no Estadual não seria diferente com o Secretário de qualquer pasta. E neste ponto, o Sr José Eliton Fracassou fragorosamente.
Numa passagem relâmpago pela Secretaria de Segurança Pública, nos legou o soldado com soldo de 1500,00 reais, numa flagrante ilegalidade ao rebaixar não o salário, mas o conceito do que é ser e do valor de um soldado da Policia Militar. No quesito estratégia, só o tempo nos revelaria sua ação. E estamos colhendo agora. Mencionei aqui neste jornal o caso de policiais militares que foram escalados para trabalhar no carnaval, empregando o aposentado revólver 38 sem uma única munição. Isto mesmo: o PM, caso precisasse, teria que comprar sua munição ou arremessar a arma contra o infrator da lei. Se isto não é falta de condição, então não sei o que é. Na falta de estratégia, basta fazer uma visita rápida na Academia da PM. Um soldado em formação estará, após 2 meses, apto para uso da farda e armamento em serviço supervisionado, o que lhe dará parâmetros de adaptação para atuação externa. Hoje, os alunos praças da Academia estão em formação há cinco meses e não usam farda pelo simples fato de que não há farda na PM. Fizeram o concurso, incluíram os PM, os habilitaram, mas não pensaram que precisariam de munição e farda para atuarem como policiais que de fato já são. A população paga por um contingente que está pronto, mas que não tem o básico para trabalhar: farda. Se a culpa não é do secretário, então não sei de quem é.
O ministério da Segurança Pública não é uma ideia do Sr Zé Eliton, que chegou na segurança estes dias e de lá saiu correndo. Este projeto é um desejo de 10 entre 10 policiais desde que eu era cadete em 1985, se não é de antes. Que a forma está errada, não duvido, pois, concordo que é preciso criar uma guarda nacional que dê corpo ao ministério. No entanto, apontar no governo federal uma falha que é flagrante no governo local, falta de planejamento e estratégia, servirá apenas para iludir a plateia. Se quiserem dar segurança para pessoas de bem, tanto governo Federal quanto o Estadual precisam sair da retórica e levar este assunto a sério. E não se leva assunto a sério apenas colocando a culpa no vizinho.
(Avelar Lopes de Viveiros, cel RR PMGO, diretor de Unidades de conservação da Amma, presbítero da Igreja Batista Renascer)
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