A religião também alivia e cura nossas dores
Diário da Manhã
Publicado em 28 de fevereiro de 2018 às 22:24 | Atualizado há 7 anosA ciência, como aceitação consensual, se demonstra com matemática, com lógica, com dados concretos, com experimentos, com ensaios, com física, com a química. Enfim com provas universais bem incontestáveis. A medicina é um campo profissional que se vale dos muitos braços científicos. Ela se vale por exemplo da biologia, da química, da física, etc. Todavia, ela não é estanque, nem está vedada à influência de outras áreas do conhecimento e abstração humana, à sociologia, à filosofia e religiosidade.
Todos esses segmentos da sabedoria, do pensamento e da prática humana, podem e devem fazer parte da estratégia e das diretrizes terapêuticas e enfrentamento das doenças; tudo a serviço do bem estar, da saúde e da vida humana.
No reforço e defesa dessas premissas basta lembrar que muitas afecções de origem puramente orgânica terão um componente emocional adicional. Inversamente, muitos transtornos psíquicos na origem (ansiedade, depressão) terão graves repercussões somáticas e físicas (doença psicossomática). Trata-se do princípio basilar do que seja doença psicossomática. É a emoção ou a alma como porta para muitas das dores e do sofrimento do corpo, do soma, de nossa fisiologia e economia orgânica.
Uma questão que muitos veem com ceticismo e incredulidade em medicina refere-se ao papel da religião ou religiosidade. O papel da terapia espiritual. Em minha já longa trajetória de médico, já participei de muitos congressos, conferências e simpósios. Nas poucas vezes em que se abordou o papel da fé e da religiosidade do paciente em tratamento tal matéria foi vista com um certo desdém e desprezo.
Tal constatação se mostrou presente não apenas nos ouvintes, mas até mesmo com superficialidade e sem convicção ou entusiasmo dos que conduziram os experimentos (os pesquisadores condutores do estudo).
Independentemente da crença, religião, fé ou mesmo do ateísmo da pessoa, o que importa é que somos constituídos de uma dualidade corpo e alma ou corpo e mente. E mente aqui deve ser lida também como a nossa psique, as nossas emoções, nossa capacidade dos mais complexos e variados sentimentos (amor, amizade, afeto, fraternidade, ódio, antipatia, inimizade, egoísmo e vingança).
Diferente dos irracionais temos racionalidade e memória. Temos a capacidade de ver, ouvir, presenciar fatos e ações e guardar tudo em nossa consciência e na memória. Esse tão nobre atributo dos homens por um lado, muito ruim por outro porque pode voltar contra o próprio portador, trazendo-lhe recalques, sentimento de culpa, de raiva, medo , dor e sofrimento de toda ordem.
Como referido na introdução Ciência se fundamenta em dados lógicos, concretos e matemáticos. Religião se baseia em intuição e fé. O que há de consensual é que o organismo humano tem de fato um componente físico (mensurável, palpável) e uma esfera imaterial, intangível, composta do psiquismo, de uma consciência, emoções, a que se pode também nominar de alma. Essa aceitação independe de religião, de fé, de filosofia contrária a essas concepções. Há filósofos ateus e aqueles em profunda conexão com o sagrado, com Deus.
O certo é que o homem (gênero) é o seu corpo (soma) aliado a todos os seus sentimentos, crenças, fé e suas concepções de mundo, de Deus e de todas as coisas que o cercam. Partindo então desses postulados, como imaginar então a pessoa desconectada de todos esses componentes? Quase impossível.
Imaginando as partes interligadas tem-se então que se uma pessoa adoece, todo o resto será acometido na proporção de sua susceptibilidade e de sua resistência. Diante das doenças, todos, rigorosamente todos, nos tornamos criaturas frágeis, vulneráveis; e nessa hora precisamos do cuidado de outrem, das energias emanadas em nosso favor, venham de onde vier.
E a fé inclusive, pode ser essa última energia a nos revigorar e superar o inimigo psíquico ou orgânico( a depressão e a dor física , por exemplo), a doença que teima em romper esse tênue fio que nos segura, a vida.
Para o bem daqueles comtemplados com tais experiências e iniciativas vêm surgindo grupos de estudos e especialidades médicas dedicadas ao emprego de práticas e atitudes religiosas na cura das pessoas. São condutas estimuladas sem nenhuma discriminação de religião. O que importa aqui é religiosidade.
A fé ou firme convicção de que há um ser maior, um criador acima de toda inteligência e engenho humano. O papel da religião aqui, pode ser praticado inclusive por pessoas leigas, por um pastor, um evangelista que atuará com suas orações, suas intercessões. Esse expediente e prática serão adicionais e aliados a toda terapia convencional médica ou psicológica seguida pelo paciente.
Abstraindo-se da questão e vocações de fé e religiosidade. De há muito que se conhecem os nexos causais entre transtornos psicológicos e danos físicos. Conceito de doença psicossomática. Muitas são as doenças que na origem tem um transtorno emocional. Como exemplos, a obesidade, a síndrome metabólica, as gastrites, a síndrome do intestino irritável, a asma, as doenças de pele, a enxaqueca, a fibromialgia, a psoríase, os reumatismos.
Pra ficar em exemplos bem concretos: o indivíduo mal resolvido espiritual ou emocionalmente terá descargas intermitentes de adrenalina, insulina e corticosteroides (suprarrenal). Com tudo alterado o paciente terá resultados negativos: ganho de peso, insônia, mais depressão, diabetes, mais colesterol, mais pressão alta; assim, mais riscos de morte cardiovascular.
Enfim, e num conceito mais estendido, saúde é um completo bem-estar físico, social, econômico, ambiental, afetivo, psíquico e religioso. Numa frase para os médicos, para os terapeutas e pacientes “tudo vale a pena quando a alma não é pequena” (Fernando Pessoa) março/2018
(João Joaquim, médico, articulista – DM facebook/ joão joaquim de oliveira www.drjoaojoaquim.blogspot.com – WhatsApp (62) 98224-8810)
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