Ricardo Paranhos, poeta e cronista a ser descoberto e valorizado
Diário da Manhã
Publicado em 23 de fevereiro de 2018 às 23:31 | Atualizado há 7 anosTempos atrás, o Diário da Manhã publicou um artigo do escritor Ubirajara Galli, enaltecendo a figura e a obra literária de Ricardo Paranhos, sob o título “Ricardo Paranhos, um Poeta ainda a ser descoberto”). Embora sucinta e limitada à transcrição da biografia e do soneto “Borboletas Azuis”, a manifestação teve o condão de reavivar a chama do valor desse grande escritor goiano, poeta e prosador, infelizmente ainda em desmerecido esquecimento.
Há bem tempo, lamento o ostracismo literário imposto a Ricardo Paranhos, até que adquiri, num “sebo” da Rua Quatro, um precioso volume de suas “Obras Completas” que li avidamente, releio sempre alguns poemas e crônicas e os recomendo à leitura dos filhos e netos, especialmente estes em fase escolar.
A referência ao modo como tive acesso ao livro não é proposital, antes providencial, como a revelar estranheza de que, para travar conhecimento com tão importante valor da literatura goiana, tenha-me sujeitado a rebuscar prateleiras empoeiradas de antigos livreiros, ao invés de consultar consagradas editoras, bibliotecas ou compêndios acadêmicos.
Valeu a pena, pois me deparei com obra valiosa sobre um dos grandes escritores goianos, poeta a ombrear-se aos maiores do nosso Parnaso e cronista a competir com os melhores da prosa literária. Sim, porque Ricardo Paranhos não é apenas poesia, lirismo, sátira e humorismo. É também exímio prosador, cronista de estilo elegante, simples, claro e correto, ao discorrer sobre fatos políticos e sociais de sua época e convivência, inclusive curiosas passagens da vida de Bernardo Guimarães quando Juiz de Direito em Catalão.
No embalo da feliz lembrança de Ubirajara Galli em reavivar a memória do escritor, transcrevo tópicos do livro, na apresentação da editora:
“Ricardo Paranhos é o maior poeta goiano em todo o período literário que precede a aparição de Leo Lynce. Não foi sem razão que Malba Tahan abalou-se do Rio de Janeiro para Corumbaíba, a fim de conhecê-lo, na intimidade”.
“Infelizmente, o nome de Ricardo Paranhos é lamentavelmente pouco conhecido até dentro dos limites geográficos de Goiás, o que vem atestar de algum modo a falta de curiosidade dos nossos pesquisadores literários pela mais legítima prata da casa”.
“Grande parte de sua produção poética se perdeu, particularmente a lírica, restando-nos, da mesma, em ‘Borboletas Azuis’, algumas acidentadas amostras, sendo a crítica jocosa aquela que constitui a porção mais numerosa, em ‘Sátiras e Humorismos’ e ‘Repiques e Badaladas’, do seu espólio literário.
“ ‘O Gama’, espécie de poema herói-cômico em sonetos, levemente incompleto, enriquece, outrossim, esta publicação”.
“É no humorismo sadio e brincalhão que ele se parece com um Quintino Cunha, do Ceará, ou, em ponto menor, com um Emílio Menezes.
“Pelo polimetrismo (sic) estrófico que traz a poesia ao nível da prosa alegre, Ricardo está muito próximo de Correia de Almeida, o sacerdote-mineiro de outros tempos”.
Mais comentários certamente advirão sobre o grande escritor catalano para “torná-lo mais depressa menos desconhecido”, conforme desejo do prefaciador do livro, o saudoso Monsenhor Primo Vieira, expresso nos idos da nossa convivência na redação do jornal “Brasil Central” e da “Revista da Arquidiocese”.
Afinal e como remembrança oportuna, Ricardo Paranhos figura entre os 21 membros fundadores da Academia Goiana de Letras, primeiro ocupante da cadeira número 15 cujo patrono outro não haveria de ser: – Bernarno Guimarães.
(Raymundo Moreira do Nascimento. Professor, jornalista, advogado e escritor)
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