Cotidiano

Ideias salvam o trânsito

Diário da Manhã

Publicado em 21 de fevereiro de 2018 às 01:11 | Atualizado há 1 semana

Soluções para o trânsito não costumam ser facilmente aceitas pela comunidade. Geralmente custam caro ou afe­tam direitos e costumes de alguma categoria. Rodízios, metrôs, faixas exclusivas, enfim, quase sempre não saem do papel. O cinto de segu­rança demorou 60 anos para chegar no mercado. E 30 para tornar-se lei e realmente salvar vidas.

Os inventores, entretanto, po­dem oferecer soluções baratas e que muitas vezes funcionam. É o caso de Eurípedes Júnior, que se dedica a entender o funciona­mento do carro. Para ele, inúme­ros acidentes ocorrem pela falta de comunicação. E pequenas mu­danças afetariam o funcionamen­to dos carros e do trânsito.

Uma das mudanças propostas por Eurípedes diz respeito ao siste­ma de setas. Administrador de em­presas, o inventor goiano pesqui­sa há anos como tornar mais ágil e segura a comunicação entre moto­ristas. Ele já registrou a criação bati­zada de F3 no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) e con­ta com apoio dos órgãos de trânsito. Pela lógica, mais cedo ou mais tarde a ideia de Eurípedes estará em todos os carros do país e talvez do mundo.

“O sistema F3 é uma adequa­ção da antiga seta de três estágios ao qual passa a ter cinco estágios. Nesses dois estágios a mais, a seta pisca a uma freqüên­cia de 180 fpm. O F3 sinaliza opções que devem ser con­sideradas como de maior distância do veículo que vem de trás ou maior aten­ção”, diz Eurípedes.

Ele afirma que reuniu al­gumas vantagens do sistema em comparação com o atual, caso dos veículos em situa­ção de tráfego bastante con­turbado. “Em caso de mano­bra para estacionar o carro com tráfego pesado, pode­mos usar o sistema: o condu­tor de trás entende que o con­dutor quer estacionar e não virar na próxima esquina”.

Ele cita uma situação co­mum: “o condutor de trás normalmente não enten­de e não dá o espaço neces­sário. Daí também encos­ta um terceiro carro atrás. Daí o condutor insatisfeito desiste e tem que contornar novamente a quadra”.

O sistema que propõe chamará mais atenção do que a seta simples em uma situação semelhante. “Veícu­los de médio e grande porte dão seta e abrem para virar na curva. Usando o siste­ma F3 não haverá divergên­cias de informações como acontece hoje de o caminhão abrir para a curva e o motociclista en­trar no meio o que acontece e pro­voca vários acidentes e mortes”.

Outras situações é que a inova­ção sinalizaria corretamente o re­torno ao invés de somente propor uma curva. “Daí a possibilidade de alertar ciclistas, pedestres e outros veículos sobre sua intenção”.

Outra solução proposta por Eu­rípedes Júnior diz respeito ao mo­mento em que o motorista procura entrar em um pos­to logo após realizar uma rotatória. “Quando se con­torna uma rotatória e quer sinalizar a entrada no pos­to adjacente ou numa viela, ou mesmo rua pouco usada, normalmente mesmo com a seta ocorre desinformação. E o carro de trás freia brus­camente ou bate. Com o F3 isso não mais ocorrerá”.

O inventor também ga­rante que o equipamento em uma situação de trânsito rá­pido pode sinalizar desacele­ração e mudança de faixa ao mesmo tempo. “E nas estra­das a freqüência duas vezes mais rápida é de melhor vi­sualização em caso de névoa, neblina ou nevoeiro”.

LIBERAÇÃO

Autor de várias suges­tões de modificação de veí­culos e trânsito, Eurípedes afirma que sua proposta de mudança de setas está pro­tocolada no Ministério das Cidades, Detran, secreta­rias de trânsito e universi­dades que debatem trân­sito. A próxima fase é a liberação de um laudo reco­mendando a modificação.

A invenção protocolada sob o número BR 10201701896 te­ria custo irrelevante frente aos be­nefícios. A “nova seta” pode am­pliar a segurança dos passageiros e pedestres, além de agilizar o flu­xo do trânsito, acredita.

Para elaborar se projeto, Eurípe­des tem contado com o apoio do presidente do Conselho de Trânsi­to (Cetran-GO), Horácio de Mello, e o professor Benjamim Jorge, doutor em Engenharia de Transportes pela USP e professor da PUC e UEG. “O Horácio me orientou em todo pro­cesso e o professor Benjamim parti­cipa da criação do F3. Wallissy Dias tem me ajudado na elaboração de um vídeo e André Macalé, da Se­cretaria de Suprimentos e Logísti­ca, tem dado grande apoio”.

 

Soluções criativas demoram a ser adotadas

Não basta criar. É preciso ter também poder de influenciar os políticos e legisladores. Este será o desafio de Eurípedes Júnior, já que ele terá que convencer a co­munidade acadêmica, gestores de trânsito, técnicos e talvez legisla­dores, caso a recomendação seja obrigatória. Outras invenções do administrador de empresas já es­tão em análise nas empresas au­tomobilísticas.

Um dos inventores com projetos para o trânsito mais incompreendi­dos de Goiás foi o ex-vereador Gari Negro Jobs, muitas vezes ‘assaltado’ em suas ideias e em outras ignora­do por quem as executou.

Artesão, desenhista, projetista, Jobs apresentou em pouco tempo de mandato, dois anos, mais de 30 propostas para modificações no trânsito, que conhecia bem a par­tir de sua Brasília Amarela e do tra­balho que exercia como gari.

Uma de suas propostas tornou­-se o viaduto Jaime Câmara, locali­zado nas proximidades do Parque Mutirama. Jobs foi o primeiro a di­vulgar um projeto de revitalização e que incluía mudanças no trânsi­to daquelas proximidades, como a criação do viaduto. Anos antes da interferência, ele divulgou os pro­tótipos e desenhos técnicos e ví­deos em 3D com as sugestões na imprensa. O espanto maior foi a inauguração da obra sem sequer lembrarem do seu nome.

Jobs também apresentou proposta para criação de fai­xas exclusivas para motociclis­tas e interferências nos equipa­mentos de segurança e veículos. Pouquíssimas das ideias foram avaliadas com seriedade pelos órgãos de trânsito que despre­zaram suas propostas, mesmo sendo elas muitas vezes colhi­das a partir das sugestões de ex­perientes motoristas.

INVENÇÕES

A ideia de que as invenções são simples costumam desanimar par­te dos criadores. E com isso eles perdem em royaltes ou porcenta­gem das vendas. O melhor exem­plo é o retrovisor. No início do sécu­lo 20, com o aumento de acidentes, alguém teve a ideia de se pergun­tar: e se pudéssemos ver o que acontece atrás do carro?

A primeira patente do espelho retrovisor pertence a Elmer Ber­ger, que registrou o dispositivo em 1921. Na literatura automotiva está claro que Berger não foi o primeiro a usar o invento, mas o que primei­ro garantiu os direitos de patente. E com isso teria ficado rico a par­tir da invenção dos ‘outros’

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