Cotidiano

Entidades repudiam embargo das ONGs a exportação de bois vivos

Diário da Manhã

Publicado em 7 de fevereiro de 2018 às 00:32 | Atualizado há 1 semana

A pecuária brasileira mo­vimenta mais de R$70 bilhões por ano. É uma das mais importantes atividades econômicas do Brasil. Goiás tem, como um dos Estados pecuaristas do País, peso econômico nesse ce­nário. Os goianos exportam mais de 200 toneladas de carne bovi­na, suínas e de frango. Os países chaves são Rússia, China, Europa, Oriente Médio. Até Israel, um mer­cado exigente quanto ao abate por questões religiosas, há frigoríficos preparados para atendê-lo. O mer­cado exterior paga quatro mil dó­lares a tonelada de carne bovina.

Por isso, as lideranças classis­tas e produtoras reagiram contra o embargo. Em Goiânia, o pre­sidente do Sindicato da Indús­tria da Carne (Sindicarne), José Magno Pato, desabafou contra o que considera “uma estupi­dez”. O presidente da Sociedade Goiana de Pecuária e Agricultu­ra (SGPA), Tasso José Jaime, disse que “a medida não teve o menor fundamento técnico e afrontou a quem produz riqueza e não vive da vagabundagem”, numa alusão a certezas Ongs. Ambos são líde­res classistas, mas foram criados praticamente nos currais enxo­tando bois. E estão indignados com a proibição de bois no por­to de Santos (SP).

EXPORTAÇÃO A 150 PAÍSES

Dentro de conteineres a carne brasileira é exportada para mais de 150 países e fora deles o Minis­tério do Desenvolvimento, Indús­tria e Comércio Exterior (MDIC) calcula que o embarque de bovi­nos vivos por meio de portos e ae­roportos chegou a 400 mil cabeças em 2017, um crescimento de 42%. O destino mais frequente tem sido os Emirados Árabes. Trata-se de uma clientela que adora carne fres­ca, mas não pense o leitor que fa­lamos de zebu. Eles preferem gado mais europeu ou um meio-sangue, que carrega uma boa dose de tau­rino. A Turquia respondeu sozinha por 55,2% dos embarques, segui­da pelo Egito, com 13,9% e Jordâ­nia, com 9,6%, mostrando-se, mais uma vez, um negócio deveras pro­missor à pecuária brasileira.

Na visão de Pato, zootecnista que já comandou a Secretaria da Agricultura, o Fundepec, entre ou­tras instituições, “esses componen­tes de ONGs dão um tapa no pro­dutor rural, que produz alimentos para o Brasil e exporta os exceden­tes”. Em sua opinião, o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, busca novos mercados, mas esses estúpi­dos com suas ações prejudicam as exportações. Justamente num mo­mento em que o mercado interno apresenta uma arroba em queda por excesso de bois em oferta. Com isso, afeta toda a cadeia.

REPERCUSSÃO

Entre 26 e 31 de janeiro, o com­plexo portuário de Santos (SP), re­cebeu 25 mil bois que eram criados em fazendas no interior paulista, distantes 500 quilômetros. Os ani­mais foram comprados pela Tur­quia e o embarque no navio Nada, o maior do tipo no mundo, teve que ser suspenso por ordem judicial.

O assunto foi tema de reunião entre o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Blairo Maggi, com presidente Temer, para procurar uma solução para este im­passe. Ativistas ligados à proteção animal alegavam que os bois eram “vítimas de maus-tratos”. A prefei­tura chegou a multar a empresa responsável pelos bovinos, em R$ 1,5 milhão, com essa mesma justi­ficativa e, depois, em R$ 2 milhões, por poluição ambiental.

No entanto, na noite do últi­mo domingo, após determina­ção da Justiça Federal, o navio re­cebeu autorização para deixar o porto de Santos. A ministra Gra­ce Mendonça, da Advocacia Ge­ral da União (AGU), entrou com recurso, que permitiu a liberação da embarcação. Essa foi a segun­da operação com carga viva no cais santista após 20 anos.

Na decisão, a desembargadora federal do TRF, Diva Prestes Mar­condes Malerbi, determinou que o navio Nada iniciasse viagem “ime­diatamente”. Apesar de ter auto­rizado a partida em razão da di­ficuldade de retirar os bois da embarcação, a desembargadora manteve a parte da decisão de pri­meira instância que proíbe todas as exportações de animais vivos do País. O governo ainda tenta reverter essa interdição em outro recurso.

O navio com bois bloqueado em Santos ainda fez o mau cheiro se disseminar nas proximidades do porto. Além disso, havia pro­blemas de ordem fitossanitária, uma vez que os 25 mil bois não po­diam ser retirados da embarcação imediatamente, o que só poderia ocorrer após um período de qua­rentena porque os animais estão se alimentando com ração do país de destino da exportação.

O Nada tinha previsão para dei­xar o cais santista na madrugada de quinta-feira (1º), mas a Mari­nha do Brasil o reteve, por deter­minação das ordens judiciais. “Se a liminar não caísse, iríamos recorrer ao STJ imediatamente. Além da inviabilidade da logísti­ca reversa, para o desembarque, o cheiro da embarcação já incomo­da a cidade”, afirma o ministro da agricultura que complementa re­forçando o prejuízo estimado de cerca de R$ 5 milhões à empresa dona da carga, dizendo que este “abala ‘fortemente’ a imagem do País no mercado internacional. Quem sai ganhando são nossos concorrentes: Argentina, Uruguai, Estados Unidos e Austrália”.

O ministro diz que foi sur­preendido com as decisões judi­ciais. Determinou-se a suspen­são do embarque (faltam cerca de 2 mil bois), o desembarque daqueles animais já a bordo e a inspeção sanitária no navio. Na vistoria, o laudo da Vigilância Agropecuária afastou maus-tra­tos e atestou as boas condições sanitárias do navio.

“Nesse episódio, entrou um fa­tor novo de questionamento que é o bem-estar animal. Eu garanto que não há maus-tratos. O minis­tério tem um setor muito rigoroso nessa questão, que não deixa pas­sar nada de errado”, explica. Para ele, o impasse tomou caráter ideológi­co, afastando a avaliação técnica e legal da operação.

Durante a manhã de domin­go, o vice-líder do governo na Câmara, deputado federal Beto Mansur (PRB-SP), a pedido do presidente Temer, ainda segun­do o ministro, fez uma vistoria na embarcação. O parlamentar foi hostilizado pelos ativistas ao afirmar que não verificou sinais de maus-tratos, apesar de encon­trar animais sujos.

REAÇÕES EM CADEIA

Algumas das principais asso­ciações e entidades do agronegó­cio nacional criticaram fortemen­te a decisão de um juiz da Justiça Federal de São Paulo de suspen­der a exportação de animais vivos em todo o País – e não é para me­nos. A história descreve que a pri­meira aparição do nelore no Brasil teria ocorrido em 1868 quando um navio, que se destinava à Inglater­ra, ancorou em Salvador com um casal de animais da raça a bordo. Os animais teriam sido comercia­lizados, permanecendo por aqui.

Dez anos depois, em busca de animais exóticos para trazer ao Brasil, Manoel Ubelhart Lembgru­ber teve contato com a raça Ongo­le durante uma visita ao zoológico de Hamburgo, na Alemanha, e de lá promoveu a importação de um casal de animais da raça, em outu­bro de 1878. Posteriormente, ou­tras partidas oriundas diretamente da Índia aportaram no Rio de Janei­ro. A raça nelore foi então se expan­dindo aos poucos, primeiro no Rio de Janeiro e, em seguida, São Paulo, Minas Gerais e Goiás. Em 1938, com a criação do Registro Genealógico, começaram a se definir as caracte­rísticas raciais do nelore.

A primeira exportação ocor­reu em 1914, envian­do remessa de carne bovina para a Ingla­terra. As duas últimas e significativas impor­tações de reproduto­res nelore acontece­ram entre os anos de 1960 e 1962. Hoje, es­tabelecido como um dos maiores exporta­dores de carne bovi­na do mundo (e com o maior rebanho co­mercial), o Brasil pos­sui um plantel com mais de 200 milhões de bovinos de corte e lei­te criados a pasto, dos quais 80% do gado de corte é nelore ou ane­lorado, o que equivale a mais de 100 milhões de cabeças. Retrato de um trabalho que deu e dá certo, a partir do desenvolvimento de know-how tecnológico próprio e ganhos pro­gressivos de excelência em qualidade, ao natu­ral, em plena harmonia com o meio ambiente.

NELORE, PATRIMÔNIO NACIONAL

O nelore brasileiro, além de ser considerado hoje como um patri­mônio legitimamente nacional, como o carnaval, o futebol, a caipi­rinha e o churrasco, pode ser con­siderado como a grande vitória da proteína brasileira. Carne saudável e natural, exportada para mais de 145 países e cada vez mais deman­dada por consumidores esclareci­dos do mundo todo.

Em razão da evolução meteóri­ca deste setor, associações e grupos pró-agro se veem em um cenário de inseguranças, com uma possível nova crise de imagem iminente. Na visão do Fórum Nacional dos Exe­cutores de Sanidade Agropecuá­ria (Fonesa), a decisão de bloquear o transporte dos animais afeta a imagem do País como um todo: “Apelamos às autoridades com­petentes para que o bom senso, a legalidade e o conhecimento cien­tífico voltem a ser os balizadores de decisões, com urgência, nessa matéria, pois prejuízos totalmente desnecessários e sofrimentos ini­magináveis estão sendo impingi­dos a pessoas e animais, enquanto as medidas legais, com base téc­nica e de competência não forem adotadas”, afirma o presidente da Fonesa, Inácio Afonso Kroetz.

ABCZ VÊ ENTRAVE

Segundo a Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ) “é inadmissível assistirmos de braços cruzados tamanha injustiça. Sem dúvida, este é um grande entrave que traz insegurança a toda clas­se produtiva, que coloca alimento na mesa dos brasileiros e sustenta economicamente este país”. Para a Sociedade Rural Brasileira (SRB), o Brasil segue uma das legislações de sanidade e bem-estar animal mais rígidas do mundo, acessando mer­cados altamente exigentes, como o asiático e o europeu: “A SRB lamen­ta a decisão, prejudicial ao princí­pio da livre iniciativa e ao desen­volvimento do Brasil”.

Outra entidade a se manifestar foi a Associação Brasileira dos Ex­portadores de Gado (Abeg), que critica o fato de não ter havido oi­tivas de todos envolvidos. “Além do forte conteúdo emocional, si­tuações como esta revelam antes de tudo um profundo desconhe­cimento do que representa o setor de exportação de gado vivo para o Brasil e sobre quais premissas está estruturado”, divulga a associação por meio de nota.

Ainda de acordo com a entida­de, o setor de exportação de gado vivo no Brasil apresenta bons para agropecuária brasileira, sendo que o Mapa atua em todas as fases do processo, da certificação dos estabelecimentos de pré-embar­que, como fiscaliza toda a opera­ção, inclusive transporte dos ani­mais até o ponto de egresso, por meio de auditores fiscais agrope­cuários com formação em medi­cina-veterinária.

A Associação Brasileira dos Exportadores de Animais Vivos (Abreav) criou uma petição, res­saltando a importância do setor da agricultura e pecuária, respon­sáveis por assegurar e colaborar com o crescimento do Brasil. “To­dos juntos contra os manifestos de entidades que buscam inviabilizar o seguimento que emprega mais de 34 milhões de pessoas em nos­so País. Ressaltamos a importância do setor da agricultura e pecuária, juntos, responsáveis historicamen­te por assegurar e colaborar com o crescimento do Brasil”.

]]>

Tags

Leia também

Siga o Diário da Manhã no Google Notícias e fique sempre por dentro

edição
do dia

últimas
notícias