Homossexualidade é doença ? (artigo VII)
Diário da Manhã
Publicado em 27 de janeiro de 2018 às 23:57 | Atualizado há 7 anosComo relatado em nosso último artigo, publicado no último domingo (disponível, assim como os outros seis artigos, em impresso.dm.com.br), estamos aqui listando alguns fatores médicos relacionados à homossexualidade. Vamos listar agora o fator relacionado a elementos psiquiátricos da sexualidade . Seria o item “2.d.” ( aspectos anátomo-patológicos ) , a partir da classificação que tenho adotado desde o último artigo.
2.d. / Algumas condições psiquiátricas podem amplificar ou mesmo inverter, mudar, algumas orientações sexuais. P.ex., pacientes com demência, com traumatismo, ou tumor cerebral, esquizofrenia, doença bipolar, epilepsia do lobo temporal ou frontal, podem adquirir comportamentos de orientação sexual diferente daqueles que apresentavam antes. Temos pacientes com doença bipolar , p.ex., no decorrer de um surto maníaco, ou hipomaníaco, assumem orientação homossexual, algo que logo é reconsiderado, tão pronto retomem à sua linha de base, com o tratamento psiquiátrico. Ou um de nossos pacientes, adolescente heterossexual que, após um tumor frontal-temporal, passou a assumir condutas homossexuais. O prazer sexual / genital humano é relativamente indiferenciado Do ponto de vista embriológico, por exemplo, a glande peniana e o clitóris oferecem uma anatomia e sobretudo uma fisiologia muito semelhante. A mucosa anal tem praticamente a mesma sensibilidade nos dois sexos, ductos de Müeller, etc. Portanto, grosso modo, o “prazer carnal” é muito análogo nos dois sexos. A diferença é mais psicobiológica, psicoanatômica, pois o homem de modo geral terá mais prazer na atividade, na penetração, numa certa “imposição física”, e a mulher – também de modo geral , há muitas exceções – na passividade, na receptividade, submissão/aceitação genital. Do ponto de vista anatômico-cerebral, vários estudos mostram que a região homossexual cerebral masculina e feminina está a meio-caminho daquela forma anatômica do homem/mulher heterossexuais, ou seja, o hipotálamo sexual homossexual está a meio caminho, anatomicamente falando ( volumetria, predominância de determinados gânglios/regiões hipotalâmicas em relação a outras , etc ) , entre o cérebro do homem e o da mulher. A revisão destes estudos científicos foi compilada pelo psiquiatra americano ( também homossexual ) Le Vay, e se encontra disponível em português por meio de seu livro “O Cérebro Sexual”, Ed. Piaget.
2.e./ Do ponto de vista da fisiologia, do funcionamento, é onde estão as maiores diferenças entre os sexos. A neurofisiologia sexual masculina pende mais para um funcionamento proativo, “agressivo”, “impositivo”, “sádico”, gutural, ( tudo entre aspas, pois isso é caricatural ) , ao passo que , no campo feminino, as tendências ( também de modo geral ) são mais passivas, calmas, receptivas, gementes, “masoquistas”, expressionistas, etc. Essas características psicofisiológicas suscitam, muitas vezes, o desejo do outro, tanto ou até mais do que o estímulo propriamente corporal/físico/genésico. Para alguns homossexuais ego-distônicos ( que não aceitam bem, psicologicamente falando, sua condição de orientação sexual ), as informações psicofisiológicas acima citadas podem ter alguma utilidade, pois muitos optam por casar-se e terem filhos, p.ex., com mulheres que tenham características psicossexuais mais masculinizadas. Uma vez que o prazer, principalmente genital, pode ser bem parecido em ambos os sexos, alguns destes homossexuais ego-distônicos optam por abrir mão desse bioprazer para poderem exercer no seio da família o psicoprazer com seu parceiro invertido ( isto é, grosseiramente dizendo, aquela mulher com “corpo de mulher mas com psicologia de homem”). Sentem-se, desta forma, mais tranqüilos e aceitos no seio da família, da sociedade e da religião, e ao meu ver, como psiquiatra, não deveriam ser privados desta opção terapêutica, por nenhuma resolução de cunho corporativista-ideológico. Da mesma forma que aqueles homossexuais ego-sintônicos – aqueles que não tem problemas psicopatológicos em assumir sua condição sexual – tem o igual direito de não serem submetidos a nada que violente sua consciência.
(Marcelo Caixeta – psychological.medici[email protected])
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