As novas periferias em Goiânia
Diário da Manhã
Publicado em 26 de janeiro de 2018 às 23:44 | Atualizado há 1 semanaO Instituto de Estudos Socioambientais da Universidade Federal de Goiás (IESA/UFG) desenvolveu estudo que investigou o crescimento da Grande Goiânia entre 2005 e 2016 e comprovou uma rápida expansão “pelas franjas” da metrópole. De acordo com os dados da pesquisa, o que impulsionou essa realidade foi a implantação de políticas públicas federais e estaduais como Crédito Solidário, Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), Minha Casa Minha Vida (MCMV) e Cheque Moradia.
Mesmo com o grande crescimento, o problema da moradia não foi sanado e as ocupações espontâneas seguem surgindo em bairros da Região Metropolitana de Goiânia (RMG). De acordo com a gestora governamental e autora do trabalho, Elcileni de Melo Borges, estes programas construíram 101 mil unidades habitacionais entre os 20 municípios da RMG, significando um volume de recursos de R$ 7,4 bilhões em investimentos. ‘‘Conforme dados da Prefeitura de Goiânia, somente na década de 2000 foram construídos 205 novos bairros na capital e no entorno. Esse foi o maior registro da história’’, afirma.
Borges conta que por meio de um pesado aporte de recursos de fundos estatais (como o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço – FGTS), especialmente a partir do lançamento do MCMV, o segmento econômico de imóveis se voltou para a construção massiva de residências destinadas a consumidores com renda de até seis salários mínimos. Essa realidade fez a metrópole se difundir, e intensificou o crescimento urbano entre municípios vizinhos à capital, como Aparecida de Goiânia, Senador Canedo e Trindade e produziu o fenômeno da “periferização da verticalização”.
Pode-se ver durante a pesquisa que setores como Oeste e Bueno nos anos 1980 e 1990, com a explosão de edifícios planejados para as classes média e alta, e o que ainda se nota ao redor de parques urbanos, com a “verticalização de alto padrão”, foi perceptível também nos bairros populares, nas zonas limítrofes e até mesmo em áreas rurais da metrópole. “Se viu aflorar uma nova periferia e novos padrões de segregação residencial e socioespacial na Grande Goiânia”, constata a pesquisadora.
O trabalho de campo realizado por Elcileni Borges consistiu em percorrer 20 empreendimentos situados em sete municípios da RMG (Goiânia, Aparecida de Goiânia, Trindade, Senador Canedo, Goianira, Guapó e Nerópolis). Ao realizar visitas técnicas nas moradias, a pesquisadora buscou captar, entre outros fatores, o grau de satisfação dos habitantes dos novos bairros. “Muita gente reclamou de se sentir isolada e não ter serviços por perto: escola, supermercado, postos de saúde, pontos de ônibus etc.”, pontua.
Na tese “Habitação e Metrópole: transformações recentes na dinâmica urbana de Goiânia”, Elcileni Borges revela consequências como a fragmentação do território e o surgimento de novas “manchas urbanas” (espaços vazios em meio a áreas recém-ocupadas). A predominância da construção de moradias populares em áreas isoladas e segregadas, a carência de equipamentos urbanos nos novos bairros e o difícil acesso aos centros econômico e cívico também são apontados como resultados para o fenômeno da “verticalização” das periferias.
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