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Anticoncepcional hormonal: uma bomba sobre as mulheres

Diário da Manhã

Publicado em 17 de janeiro de 2018 às 22:27 | Atualizado há 2 semanas

Todos os anos milhares de mulheres no Brasil sofrem com o câncer de mama, em 2014, o último ano com dados disponíveis, foram 57 mil casos, dados do Instituto do Câncer (INCA). O câncer de mama é o segundo tipo de tu­mor mais frequente no mundo, ficando depois do de pele. Nos Estados Unidos foram 200 mil casos, acarretando 40 mil mor­tes. A maior parte das mulheres acometidas por esse tipo de tu­mor tem mais de 35 anos.

Cerca de 80 milhões de mu­lheres utilizam contraceptivo oral ao redor do mundo e ago­ra somados a outros prejuízos a saúde da mulher, ligados a pílu­la e outros métodos hormonais, o aumento do risco do câncer de mama. Existem malefícios liga­dos a pílula que já são conheci­dos como o de trombose, outros problemas circulatórios como varizes, problemas hepáticos (no fígado) e até aumento da chance de desenvolver glaucoma.

Um estudo publicado no final de 2017 em uma das mais res­peitadas revistas científicas do mundo, o New England Journal of Medicine, trouxe novos dados sobre a associação dos anticon­cepcionais e o câncer de mama. O estudo foi realizado na Dina­marca e, ao todo, foram avalia­das 1,8 milhão de mulheres com idade entre 15 e 49 anos, sem história prévia de câncer, trata­mento para infertilidade ou pas­sado de trombose. Após 10 anos, foram diagnosticados 11.517 ca­sos de câncer de mama.

O uso de qualquer tipo de anticoncepcional hormonal (incluindo o DIU de progeste­rona) se associou a 1,3 novos casos de câncer de mama para cada 10 mil mulheres ao ano. Este aumento de risco se mos­trou tanto maior quanto maior o tempo de uso dos anticoncep­cionais hormonais. “A associa­ção entre uso de anticoncep­cionais hormonais e câncer de mama vem sendo estudada há tempos, porém até o momento, nenhuma forte evidência cien­tífica tinha sido capaz de pro­var que o uso prolongado dos contraceptivos hormonais au­mentava a incidência de cân­cer de mama, fazendo com que este assunto fosse considerado um dos mitos sobre o que cau­sa o câncer”, comenta o médico Adolfo Scherr, oncologista.

Um dado importante da pes­quisa, apontado pelo especia­lista, é que para o grupo de mu­lheres abaixo de 35 anos – que representa a grande maioria das usuárias de anticoncepcionais hormonais – o estudo mostrou um risco menor do que para mulheres acima de 35 ou 40 anos. “Para as mais jovens, o ris­co foi de 0,2 casos de câncer de mama em cada 10 mil mulhe­res ao ano. Portanto, vale ressal­tar que mulheres com mais de 35 anos são as que devem estar ainda mais atentas”, acrescenta.

A informação atinge e ame­dronta boa parte da população feminina que utiliza métodos hormonais para se prevenir da gravidez indesejada. Desta for­ma, o oncologista faz questão de reafirmar a posição da Federa­ção Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) e da So­ciedade Brasileira de Mastologia que divulgaram notas no sentido de orientar as mulheres a conver­sarem com seus médicos. “Nos­sa orientação é que as mulheres não interrompam o uso dos anti­concepcionais. Mas que conver­sem com seus médicos e avaliem os riscos. Aquelas que já tiveram câncer ou as que possuem ris­co elevado para desenvolver este tipo de câncer (como as que tem parente em primeiro grau – mãe ou irmãs – acometida pela doen­ça) devem cogitar e discutir o uso de outros métodos contracepti­vos”, diz o especialista.

Outro fato importante sobre o estudo, segundo o médico, é que não houve aumento de risco en­tre as mulheres que utilizaram contraceptivos hormonais por um tempo inferior a cinco anos. “Vale ressaltar que o acréscimo de risco desapareceu após a in­terrupção do remédio, o que nos permite concluir que o uso desse medicamento não está associa­do na gênese propriamente dita do câncer de mama, ou seja, no agravo genético que dá origem ao câncer”, aponta.

São necessários mais estudos para comprovar a ligação entre os anticoncepcionais hormonais e o câncer de mama. “O tema permanece controverso. Sabe­mos que este estudo dará início a vários outros, com metodologias científicas diferenciadas e ainda mais apropriadas. Esperamos, em breve, ter o apontamento se­guro para as pacientes”, comen­ta. No momento, de acordo com Scherr, é importante dar início à discussão com o ginecologista.

 

HISTÓRICO: ANTICONCEPCIONAIS

Em maio de 1960, a agên­cia reguladora americana para medicações e alimentos (FDA) aprovou nos EUA o uso da pri­meira pílula anticoncepcional baseando-se nos estudos do cientista americano Gregory Pincus, conhecido como o “pai da pílula”. Uma grande novi­dade chegava às farmácias e à vida dos casais, interferindo de forma significativa no pla­nejamento familiar. Em pouco tempo, os anticoncepcionais hormonais ganhariam o mun­do, impulsionando a chamada revolução feminina.

De acordo com o Dr. José Bento a pausa de sete dias dos anticoncepcionais serviam aos propósitos cristãos de na­turalidade e ciclo reprodutivo. Quando a pílula foi lançada no mercado na década de 60, por Gregory Pincus, necessitava de uma aprovação da igreja para que obtivesse espaço, para isso o produto foi comerciali­zado seguindo essa lógica de parada por uma semana para que houvesse o sangramento. A questão é que sangrando ou não se a mulher toma anticon­cepcional não ocorre a ovula­ção durante aquele período.

“No Brasil, a comerciali­zação se iniciou em 1963. As­sim, na década de 70 a taxa de fecundidade no país era de 5,8 filhos por casal e o per­centual da população femini­na economicamente ativa era de aproximadamente 28%. Em 2007, a taxa defecundi­dade reduziu drasticamen­te para 2,0 filhos por casal ao passo que a população femi­nina economicamente ativa saltou para 43%”, conta o on­cologista Adolfo Scherr.

As primeiras pílulas an­ticoncepcionais contavam com uma concentração mui­to alta de hormônios femini­nos (estrogênio sintético e de­rivados da progesterona) e por isso, eram responsáveis por vá­rios efeitos colaterais como re­tenção de líquidos (edema), maior predisposição a trombo­se nas pernas e até mesmo em­bolia pulmonar. Com o passar dos anos, a concentração hor­monal nos contraceptivos foi diminuindo gradativamente, sendo, hoje, aproximadamen­te dez vezes menor que nas primeiras pílulas. Novas com­binações hormonais foram estudadas, assim como no­vas vias de administração que não a convencional pílula oral como, por exemplo, o implante subcutâneo em forma de bas­tão e o dispositivo intra-uterino (DIU) de progesterona.

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