Araguatins: encontro no presente para resgatar o passado (6)
Diário da Manhã
Publicado em 16 de janeiro de 2018 às 22:42 | Atualizado há 7 anosAraguatins se destaca como cidade que apresentou os primeiros ambientalistas e preservacionistas nacionais. Leônidas Gonçalves Duarte, patriarca de tradicional família araguatinense, e Boleslaw Daroskevski, um polonês que chegou de “paraquedas” e virou um cidadão araguatinense de fato e de direito, foram pioneiros na preservação das florestas nobres da região.
A Rio Impex, empresa de origem alemã, aportou em Araguatins. Sua proposta era abater o mogno, nobre madeira de lei, e comercializar com os mercados nacional e internacional. Ao abater as primeiras árvores, vieram reações de setores da sociedade. Um corrente aponta a empresa como destruidora das florestas, sobretudo de uma madeira que demoraria anos para se recompor em caso de plantio.
Outra corrente defendia a Rio Impex porque gerava milhares de empregos, pagamento em dia, numa região onde reinava catadores de coco babaçu, castanha do Pará, exploração de garimpos de cristal de rocha, pescadores ou pequenos serviços. A companhia inclusive passou a criar um viveiro de mogno numa tentativa, talvez, de impedir as crescentes críticas.
Boleslaw chegou a defender a criação de um parque nacional do mogno. Para tanto, chegou a estar com o conceituado jornalista Walder de Góes, de O Popular e correspondente do Jornal do Brasília. Com Walder, natural de Pedro Afonso, chegou a andar de voadeira, concedendo entrevista palpitante e de repercussão nacional. O JB era um jornal que circulava em todo o País.
Posteriormente, Boleslaw plantou um pé de mogno em 1957, em frente ao Hotel Mogno, de frente para o rio Araguaia. O polonês araguatinense era um defensor das florestas nativas. Tanto assim, que enviou dezenas de sacos com as sementes de mogno para o botânico Rissi, então dirigente do Horto Florestal de Goiânia. Sua ideia era que se propagasse a nobre madeira por diferentes regiões de Goiás.
Com o apoio do ambientalista Jorge Fernandes, conhecido por Jorjão, seu genro, plantou pé de mogno no dia 13 de maio de 1957 na área da Faculdade de Direito, da Rua 20, no Centro de Goiânia. O advogado João Neder, líder do Centro Acadêmico da Faculdade, hoje advogado famoso, acompanhou a solenidade do plantio e o mogno foi tombado como patrimônio natural em 1986 pelo IBDF, atual Ibama.
O Josias Luiz Guimarães, médico veterinário pela UFMG, pós-graduado em filosofia política pela PUC-Go, ex-presidente da Acar-Goiás, hoje Emater, ex-presidente nacional da Pesca, e produtor rural, plantou três pés de mogno na Rua Geraldo Vale, na porta da Emater. Com cerca de 30 anos, as árvores estão frondosas e mostrando sua adaptação no bioma Cerrado, mesmo no meio urbano, como proclamava Boleslaw.
Boleslaw participou da 2ª Guerra Mundial, servindo ao exército da Polônia. Era primo de Karol Woytila, o Papa João Paulo II, o primeiro papa polonês.
Amanhã, a série continua.
(Wandell Seixas, jornalista voltado para o agro, bacharel em Direito e Economia pela PUC-Goiás, ex-bolsista em cooperativismo agropecuário pela Histadrut, em Tel Aviv, Israel. Autor do livro O Agronegócio passa pelo Centro-Oeste)
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