Um assombroso crime no Parque das Rosas
Diário da Manhã
Publicado em 10 de janeiro de 2018 às 22:59 | Atualizado há 7 anosEntão, de uma forma curta e direta, irei fazer-lhes a apresentação do caro e relutante personagem que reinará a partir de agora. Seu nome, não é nada comum nos meios literários. Talvez seja pela singular característica, ou, pela destreza do paladar crítico. De toda forma, não haverá nada de comum em sua descrição e espero que o leitor não se incomode com isso. A primeira informação será apresentada agora; refere-se as suas características comportamentais. Um homem de gostos requintados, de valores fidedignos, de uma inteligência invejável. Sua educação foi, sem dúvida, a melhor que os seus pais puderam lhe oferecer, e isso, refletiu-se em sua postura autoritária e cômica. Sua mãe, uma investigadora aposentada da polícia federal, e seu pai, um ex-delegado da polícia civil que morreu ao ser jogado da janela do trigésimo andar pelas mãos de um traficante de drogas americano. Esse homem, do qual lhes fiz uma breve apresentação, será exposto agora. Chama-se Ramiro Januário. É negro, alto e elegantemente charmoso. É o detetive mais excêntrico e discreto do país. Vive harmoniosamente com a sua mãe e a sua irmã mais velha Giulia em um edifício num bairro nobre de Goiânia. Agora que eu já lhes apresentei o nosso homem, vamos direto para a narrativa aventuresca deste destemido cavalheiro. Iniciarei no próximo parágrafo.
O dia e ano do ocorrido não lhes diz respeito. Se fazia frio, sol ou chuva, também não é de nenhuma valia. O que vale ressaltar é que o sr. Ramiro Januário desfilava calmamente pela Avenida Anhanguera observando os camelôs e as lojas que se situam ali. Ele observava minunciosamente as técnicas usadas pelos camelôs para efetuar suas respectivas vendas. A entonação vocal, as frases feitas e até mesmo, o olhar indiferente. Para ele, era um dia comum como qualquer outro. Tocou com a ponta dos dedos um carrinho de frutas e sentiu o frescor das frutas vermelhas; deveras algo que ele prezava bastante. Após esse movimento, continuou por ali, divagando entre as suas observações rotineiras. Os seus passos eram calmos e firmes. Sua postura inclinada e forte, causava um certo interesse por onde passava. Uma dama distinta o observou de longe. Ela o estudava detalhadamente, todos os pontos, todos os detalhes. Ramiro já havia notado a presença da moça, porém, fingiu não a perceber. Entrou numa agência bancária, fez um devido depósito e quando saiu, a moça ainda estava em seu encalço. Ramiro nunca havia visto aquela distinta dama antes. Quem seria ela? O que ela queria? Continuou andando. Dessa vez, apressadamente cruzou a avenida Goiás. Dobrou a esquina. Pensou em olhar para trás e, quando o fez, a moça havia desaparecido. O sr. Ramiro Januário ficou mais calmo quando notou que a senhorita não o seguia. Se dirigiu até o seu veículo, abriu a porta, se posicionou, colocou o sinto… quando olhou no retrovisor central, lá estava ela; a distinta moça com um revólver na mão.
Pois bem, o nosso inteligente cavalheiro manteve a calma. Olhou no fundo dos olhos da moça através do espelho e permaneceu em silêncio. A moça, sorriu delicadamente e disse:
– Me desculpe por isso, mas é o meu trabalho. Espero que o senhor entenda. Agora eu preciso que dirija até a antiga estação ferroviária. Meu chefe precisa dos seus serviços. – O sr. Januário já estava acostumado com aquele tipo de atitude. De toda forma, ele questionou a moça:
– Pra quem você trabalha?
A moça sorriu novamente e respondeu com uma das sobrancelhas erguidas:
– Isso não é da sua conta. Só tenho ordens para te levar até a antiga estação ferroviária. Por gentileza, cale à boca e comece a dirigir logo.
Os minutos passaram e logo eles chegaram ao seu destino. A distinta moça desceu sorridente do veículo e deu um tiro em direção ao céu. Um outro veículo apareceu e o seu condutor abriu a porta do passageiro.
– Sua missão termina aqui Eliza. Foi bom te ver. Até breve. – Disse o homem em tom autoritário. Eliza se retirou e o sr. Januário entrou no outro veículo.
– Houve um assassinato no Parque das Rosas. Um homem foi decapitado e um bilhete foi encontrado junto ao corpo. Este é o bilhete. – O sr. Januário pegou o papel e não soube o que dizer. O papel estava completamente em branco. A única ressalva era um emoji sorridente desenhado no meio do papel. O homem autoritário continuou falando:
– Você tem trinta minutos para desvendar esse crime. – Ramiro se assustou.
– Como? Trinta minutos? Isso é quase impossível. – O outro homem continuou sério e disse:
– Não é impossível para quem teve a mãe sequestrada. – O homem apontou para o outro lado da rua onde a senhora Ellora estava sentada em sua cadeira de rodas sobre a mira de um revólver. Então, a senhora Ellora havia sido sequestrada por aquele sujeito. A raiva tomou conta do nosso cavalheiro. O sr. Ramiro Januário quis falar com ela. O homem disse apenas que ela estava bem e que a soltariam assim que ele resolvesse aquela complexa “equação”.
– Desvende o mistério, meu caro. Boa sorte!
Não precisa ser um gênio para entender que o tempo é o senhor de tudo. A sabedoria é fundamental em casos assim. O tempo, para o nosso mais novo amigo, era curto; porém, sua genialidade era absurda. Respirou fundo. Olhou o relógio em seu pulso e soube que ainda tinha vinte e nove minutos pela frente. Ligou novamente o seu veículo e se dirigiu rapidamente até o Parque das Rosas.
Quando o sr. Ramiro Januário lá chegou, encontrou sem nenhuma dificuldade à cena do crime. Estava demarcada por faixas amarelas e repleta de inúmeros curiosos que não tinham nada melhor para fazer. Saiu discretamente de seu veículo e caminhou na direção de uma equipe da polícia científica que lá estava. O sr. Januário se apresentou e começou a observar os detalhes. O corpo ainda estava coberto por um pano escuro. A cabeça do indivíduo estava logo ao lado. O corpo estava em uma posição estranha. Parte estava na grama e a outra na calçada. Havia ainda bastante sangue no local. Ramiro deu uma olhada bem de perto. Logo ele notou que não haviam pegadas. Olhou em volta procurando um local de fuga para o assassino. Viu que seria impossível. Olhou novamente a multidão de curiosos e os observou com bastante interesse. Havia algo de errado ali. Não contente, o nosso cavalheiro olhou para os policiais científicos com bastante atenção. Estavam calmos e inertes. Não demorou muito para que ele concluísse o seu raciocínio.
– Droga! Isso é um absurdo. Você está me testando outra vez?
– Cale a boca seu palerma. Você tem trinta segundos de atraso. – Disse a mãe de nosso cavalheiro saindo de trás de um veículo de TV. – Você precisa ser mais rápido. A vida não admite falhas. Conte-me o que viu.
– Você não se cansa nunca. Ok! Vamos lá! Como não ter pegadas em uma cena repleta de sangue? O sangue ainda está fresco, isso quer dizer que o suposto assassinato ocorreu a pouco tempo, sendo assim, não haveria tempo para à fuga. A cabeça está corretamente posicionada ao lado do corpo, decepadores de cabeças não costumam ser perfeccionistas assim. Os policiais estão calmos demais para agentes da lei que estão pertos de uma câmera. E, falando em câmeras, um dos equipamentos está sem bateria. Até onde eu sei, nenhum cinegrafista apontaria uma câmera para alguém se essa não estivesse funcionando. Mas o que me fez concluir essa farsa, foi sem dúvida os curiosos. Estão fazendo muito barulho. Lembre-se, isso não é um show de rock, isso aqui é à cena de um crime.
Ramiro Januário retirou o pano e um homem sorridente se levantou do chão.
– Pronto. Resolvi o caso. Está satisfeita? – Disse o nosso jovem cavalheiro irritado.
– Não foi dentro do prazo, filho. Seja mais rápido da próxima vez. – Disse por fim a senhora Ellora enquanto se distanciava em sua cadeira de rodas.
(Rafael Moraes, escritor)
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