Saudação especial de fim de ano
Diário da Manhã
Publicado em 31 de dezembro de 2017 às 03:49 | Atualizado há 7 anosPassadas as festividades do Natal e na antevéspera das do ano novo, um pensamento passou rápido por minha cabeça, mas não me causou qualquer problema, como milhões de outros que perpassam a nossa mente a todo minuto na vida.
Acontece, porém, que a repetitividade deste me angustiou um pouco.
A questão era: a quantos amigos deixei de cumprimentar e desejar boas festas, feliz Natal, feliz ano novo…?
Esta preocupação só diminuiu um pouco quando passei a meditar mais profundamente sobre o tema e a considerar a realidade destes cumprimentos formais de fim de ano.
Mandamos diversos, enviamos dezenas, centenas e até milhares, com as facilidades da era digital em que vivemos.
Cada um deles passou, todavia, em nosso coração, para ser ungido com o amor, com a sinceridade do desejo, com a fraternidade da saudação?
Bem pensando, na verdade o que queremos mesmo e alcançar a felicidade pessoal. Queremos ser felizes!
Apenas não sabemos alcançá-la por um motivo óbvio, como está no belíssimo soneto de Vicente de Carvalho, com este nome e no qual, nos dois últimos tercetos o vate arremata:
Essa felicidade que supomos,
Árvore milagrosa, que sonhamos
Toda arreada de dourados pomos,
Existe, sim : mas nós não a alcançamos
Porque está sempre apenas onde a pomos
E nunca a pomos onde nós estamos.
Ou seja, buscamos a mesma fora de nós, sem nos preocuparmos primeiramente conosco, com nosso próprio esforço, com o nosso aperfeiçoamento.
Desilude-nos o mundo, com tantos exemplos de maldade global e insensibilidade geral capazes de intranquilizarem o mundo. E ficamos desesperados, porque absolutamente impotentes para mudarmos este quadro.
Megalomaníacos alcançando o poder e dispostos a fazerem tudo de seu próprio jeito, ainda que desastroso.
Questões gravíssimas de sobrevivência humana, seja pelo desbaratamento da natureza, seja pelo absoluto descaso para com graves situações de fome ou genocídio.
No âmbito indígena, isto é, entre nós, o desespero de se contemplar um Congresso totalmente manchado pela corrupção, um Executivo cheio de exemplos de desgoverno, roubo e descompromisso e um Judiciário titubeante, ora sim, ora não, claudicando seja pela ação seja pela omissão, e nós, individualmente, sem qualquer possibilidade de mudar tudo isto.
Vem daí o desespero.
E é aí que reside o erro.
Se, em vez de pensarmos na impossibilidade do geral atinarmos para a imensa possibilidade do particular, as coisas certamente melhorarão muito.
Se eu for felicitar alguém, vou fazê-lo de coração mesmo. Se eu decidir que vou fazer exercícios físicos, começarei agora, nem que seja nas escadarias do meu prédio. Se pregar a honestidade, serei eu primeiramente honesto, nas mínimas coisas. Se acreditar que posso, darei os passos necessários a demonstrar esta possibilidade e não permitirei que ninguém me ponha para baixo. Independentemente do que ocorra ao meu redor, continuarei, cotidiana e pacientemente, fazendo o que sei que é o correto, embora as correntezas em sentido contrário.
E, com toda certeza, a soma destas atitudes individuais firmes se constituirá, não só num obstáculo a que o mal progrida, quanto numa poderosíssima arma para a derrubada deste modo desenfreado de ser que avassala o planeta.
E assim poderei, em verdade, dizer, primeiramente a mim e depois sinceramente aos outros a quem considero: Feliz ano novo.
(Getulio Targino Lima, advogado, professor emérito pela UFG, jornalista, escritor, membro da ANE e da AGL. E-mail: gtargino@hotmail.com)
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