Sou muçulmano
Diário da Manhã
Publicado em 29 de dezembro de 2017 às 22:22 | Atualizado há 7 anosNa essência, conteúdo mais profundo e na minha revelação, como ser humano, me enquadro totalmente no último parágrafo deste artigo. Todos que me conhecem e me acompanham pelos mais diversos pontos que chegam meus artigos pelo Diário da Manhã e redes sociais, desde 2011, e aqueles que comigo convivem no Grande Oriente do Brasil, a partir de 26 agosto de 1978, iniciado na Loja Maçônica Acácia Brasiliense, de Goiânia, Goiás e também colegas profissionais de rádio, televisão, jornal, atividade educacional, sabem do meu perfil e da minha prática como ser humano.
Sou por natureza apaziguador, congregador e graças ao Grande Arquiteto do Universo, procuro sempre ouvir mais que falar, tomar decisões dialogadas e em grupos.
Assim comprometido é que envio a minha ultima mensagem do ano de 2017, reafirmando a necessidade de alcançar no próximo quinquênio do GOB, 2018/2023, uma transformação na instituição da qual sou candidato a Grão-Mestre Geral, nas eleições de 10 de março, tendo como companheiro de chapa, o maçom paulista Ademir Cândido.
Neste artigo, falo do que é ser muçulmano, falo de frei Betto e transcrevo um texto iluminado de sua autoria, que serve de meditação para que tenhamos uma eleição merecedora do tratamento que entre nós fazemos. O de “irmãos”. O texto é intitulado “Quando me tornei fanático”.
Muçulmano é todo o indivíduo que adere ao Islã, uma religião monoteísta centrada na vida e nos ensinamentos de profeta Maomé, que teria recebido revelações do Arcanjo Gabriel. Além disso, os muçulmanos também dão ênfase aos dogmas da oração, jejum no mês de Ramadã, peregrinação em Meca e o estudo do Alcorão.
Frei Betto é um autor e religioso mineiro nascido em Belo Horizonte que rompeu barreiras ideológicas, sociais e políticas para se tornar figura-chave na propagação da Teologia da Libertação. Autor de 60 livros, editados no Brasil e no exterior, estudou jornalismo, antropologia, filosofia e teologia. Entre inúmeras obras premiadas destacamos seu livro “A noite em que Jesus nasceu” (Editora Vozes) ganhador do prêmio de “Melhor Obra Infanto-Juvenil” de 1998, concedido pela Associação Paulista de Críticos de Arte.
A seguir, a íntegra de seu texto.
“Abracei o fanatismo ao descobrir que só o Deus pregado por minha Igreja é o verdadeiro. Todos os outros deuses, todas as outras religiões, todas as outras tradições espirituais que não creem como eu creio são heréticas, ofendem a Deus, procedem do diabo e merecem ser varridas da face da Terra.
Os fiéis dessas Igrejas que não professam o meu Credo estão condenados às chamas do Inferno e só haverão de se salvar aqueles que se arrependerem, abandonarem seus cultos idólatras e abraçarem a única e verdadeira fé – esta que a minha Igreja manifesta.
Tornei-me fanático em sucessivas etapas. Fui criado em uma família católica e, desde cedo, aprendi que os protestantes são infiéis por não respeitarem a virgindade de Maria nem acatarem a autoridade do papa.
Ridicularizei os espíritas por admitirem que se comunicam com os mortos. Acusei os judeus de terem assassinado Jesus. Abominei os ritos de matriz africana como supersticiosos e orquestrados pelo demônio.
Tivesse eu poder, haveria de banir da sociedade todas essas crendices que tomam o Santo Nome de Deus em vão.
Até que um dia sofri um acidente de trânsito no centro de Salvador, onde me encontrava a trabalho. Fui atropelado por uma moto que surgiu inesperadamente quando eu atravessava o Largo Terreiro de Jesus.
Fui socorrido por um desconhecido que me levou a um hospital evangélico em seu carro. Por eu estar inconsciente, devido à pancada da cabeça no solo, ele assumiu os custos apresentados pelo pronto-socorro e ainda assinou um termo de responsabilidade. Como deixou telefone e endereço, ao receber alta fui agradecer-lhe. Soube que é ateu.
Fiquei me perguntando se todos os fiéis de minha Igreja seriam capazes de prestar igual solidariedade ou se passariam indiferentes diante de um acidentado, e ainda se autodesculpariam com este raciocínio cínico: “Nada tenho a ver com isso.”
No hospital, fui visitado por uma senhora espírita, que me deu grande consolo, já que não tenho parentes na capital baiana. Manifestei a ela meu estranhamento ao fato de os espíritas afirmarem conversar com os mortos. Ela retrucou com um sorriso: “Vocês, católicos, conversam com quem quando oram a São Jorge, Santo Expedito e Santo Antônio?”
Meu médico era um judeu casado com uma palestina. E as duas enfermeiras, muito atenciosas, frequentavam o candomblé e a umbanda.
Ao deixar o hospital, tive a surpresa de encontrar, na pousada na qual me hospedara, a mochila que havia perdido no acidente. Dentro, todos os meus pertences, inclusive o dinheiro que eu tinha retirado do banco para pagar a hospedagem.
Um taxista encontrou o cartão da pousada entre meus documentos, devolveu a mochila e informou o que me havia ocorrido. Como deixara o telefone dele, liguei para agradecer. Não resisti à pergunta: “Por que o senhor devolveu todos os meus pertences, inclusive o dinheiro?” Ele simplesmente respondeu: “Sou muçulmano.”
(Barbosa Nunes, advogado, ex-radialista, membro da AGI, delegado de polícia aposentado, professor e maçom do Grande Oriente do Brasil – barbosanunes@terra.com.br)
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