Cotidiano

Brasil amplia consumo de café

Diário da Manhã

Publicado em 29 de dezembro de 2017 às 01:18 | Atualizado há 7 anos

O cafezinho sempre fez parte do costume brasileiro, as­sim como acontece tam­bém em várias partes do mundo. Ao receber uma visita, por exem­plo, “pega bem” oferecer uma xí­cara de café. Nos escritórios, é comum essa prática. Segundo le­vantamento da Área de Pesquisas e Informações da Associação Bra­sileira da Indústria de Café (Abic), o consumo anual de café no Brasil é o que mais cresce mundialmen­te, aproximando-se hoje de 20 mi­lhões de sacas de 60 quilos. O con­sumo per capita é de 6,18 quilos de café em grão cru ou 4,94 quilos de café torrado, o que representa quase 83 litros para cada brasileiro por ano. Segundo o diretor execu­tivo da Abic, Nathan Herszkowicz, contribuiu para esse incremento a melhoria da qualidade e amplia­ção da oferta de produtos inova­dores e diferenciados, fatores que têm influenciado o perfil do con­sumidor no País.

Em outras palavras, pode-se dizer que esse patamar de consu­mo de café no País é fruto do tra­balho da indústria e da pesquisa, esta realizada no âmbito do Con­sórcio Pesquisa Café, cujo progra­ma de pesquisa é coordenado pela Embrapa Café, Unidade da Em­presa Brasileira de Pesquisa Agro­pecuária–Embrapa, vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuá­ria e Abastecimento – Mapa. “Sem dúvida alguma, a contribuição da pesquisa tem sido a de melhorar as variedades/cultivares do café e incrementar a sustentabilidade e a produtividade. Isso amplia a ofer­ta de grãos melhores, o que permi­te à indústria também melhorar a qualidade tanto dos cafés tradicio­nais quanto dos conceituados ca­fés gourmets”, diz Nathan.

CONTRIBUIÇÃO DA PESQUISA

As pesquisas investem em tecnologias sustentáveis, que aumentam a produtividade, a qualidade e a competitividade do produto, preservando o meio ambiente e garantindo dignida­de social. Entre os investimentos em conhecimento e em recursos que visam ao crescimento da ca­feicultura brasileira, está a tec­nologia de preparo do café cere­ja descascado, o mais tradicional modo de preparo de café até en­tão era o natural (no qual o fruto é seco integralmente, com cas­ca, polpa, mucilagem, pergami­nho e semente). A tecnologia tor­nou possível a produção de café de qualidade em regiões ante­riormente pouco indicadas para a obtenção desse produto.

No preparo do café cereja des­cascado, os frutos colhidos na la­voura são lavados para separação do café boia (seco na planta) e de possíveis pedras, paus folhas e tor­rões de terra. Na etapa seguinte, os frutos verdes (imaturos) e ce­reja são submetidos ao descasca­mento sob pressão em processo mecânico, em que os frutos ver­des permanecem íntegros e os fru­tos cerejas sofrem descascamento. Após a separação das cascas, ob­tém-se o café pergaminho, que é submetido diretamente à seca­gem (natural ou mecânica).

NOVAS CULTIVARES

Pode-se citar também as pes­quisas para o desenvolvimento de novas e melhores cultivares e em biotecnologia. Pesquisas de me­lhoramento genético, por exemplo, propiciaram o desenvolvimento de 36 cultivares, de arábica e conilon, resistentes às principais pragas e doenças do cafeeiro e adaptadas a determinadas condições climá­ticas, melhorando qualidade dos frutos e incrementando significa­tivamente a produção. No Institu­to Agronômico – IAC, foram gera­das sete cultivares; na Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais – Epamig em parceria com a Universidade Federal de Viçosa– UFV, oito; no Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Ex­tensão Rural – Incaper, 3; no Insti­tuto Agronômico do Paraná – Iapar, 13, na Embrapa Café e no Procafé , 4 cultivares; na Embrapa Rondônia, 1 cultivar. Todas essas instituições são participantes do Consórcio.

TECNOLOGIA NO PREPARO

Há também disponível no mer­cado tecnologias para preparo, se­cagem e armazenamento de grãos, desenvolvidas com a liderança da Universidade Federal de Viçosa (UFV), participante do Consórcio. São alternativas tecnológicas es­pecialmente desenvolvidas para a agricultura familiar para oferecer, a custos compatíveis, uma infraestru­tura mínima para que, independen­temente das condições climáticas, o cafeicultor possa produzir café de qualidade superior, com economia de tempo, redução de custos e mão de obra empregada e maior rendi­mento operacional. É composta por um terreiro-secador híbrido, abana­dora, silo secador e lavador portátil.

O desenvolvimento de sistemas de irrigação também contribuiu para incrementar a produtividade e a qualidade da produção, pois per­mite expandir o cultivo de café a re­giões antes consideradas marginais e ainda a regiões antes reconhecida­mente aptas somente à cafeicultura de sequeiro (como o sul de Minas, que apesar de contar com precipita­ções em níveis adequados, tem so­frido com chuvas irregulares e mal distribuídas, que afetam a produti­vidade e o vigor das lavouras).

Hoje sabe-se que o uso da ir­rigação na cafeicultura traz inú­meros benefícios, dentre os quais podemos citar: aumento na pro­dutividade e rentabilidade, maior eficiência na utilização de recur­sos, melhoria nas características e propriedades físicas do café e dimi­nuição no risco da atividade. Estu­dos têm demonstrado incrementos na produtividade que variam de 46 a 110%, podendo chegar até 500%.

PROCESSO TECNOLÓGICO

Outro exemplo na área de irriga­ção é o estresse hídrico controlado. A tecnologia além de revolucionar a prática tradicional da irrigação fre­quente e continuada, garante mais produtividade, mais qualidade e menor custo, sendo também alter­nativa para a sustentabilidade so­cial e ambiental da cafeicultura no Cerrado. A prática não custa nada mais ao produtor e ainda traz re­dução dos custos de água e ener­gia, em média de 33%, economia no processo de colheita, inclusive com mão de obra. O processo tecnológi­co também permite a obtenção de 85% ou mais de frutos cerejas no momento da colheita, maximizan­do a produção de cafés especiais, de maior valor de mercado. Além disso, disso, garante redução de 20% para 10% de grãos mal formados.

Desmistificando preconceitos e inserindo o café como uma bebida e um alimento natural, saudável e que beneficia a saúde humana, o Consórcio Pesquisa Café e a Abic uniram esforços na pesquisa sobre Café & Saúde. “Estamos colocan­do em prática a união da pesquisa agronômica com a biomédica, in­tegrando os estudos que envolvem a planta de café no campo com os interesses do tema Café & Saúde, no âmbito do consumo da bebi­da”, diz o gerente geral da Embra­pa Café, Gabriel Bartholo.

Os estudos estão concentrados basicamente em quatro linhas: café e metacognição (pesquisa realiza­da com um grupo de crianças do projeto “Café na Merenda Escolar”, na qual foi constatado o efeito po­sitivo do café no aprendizado das crianças); café e cérebro (constatou que o aroma do café tem um efeito poderoso sobre as regiões cogniti­vas e de recompensa do cérebro); café e antioxidantes (estuda a im­portância dos compostos antioxi­dantes do café, entre eles, os ácidos clorogênicos (contidos no grão ver­de e torrado) na prevenção da hi­pertensão e diabetes, como ativo antibacterida, antiviral, imuno-es­timulante e antidesmineralizante e ainda na regulação glicêmica e no controle do peso); café e coração (cujas avaliações até o momento mostram que não há evidências que o café seja ruim para pessoas com problemas no coração, pois doentes coronarianos submetidos ao consumo de café não apresenta­ram interferência na glicemia, nem taquicardia ou arritmia).

 

Reflexos no comportamento do consumidor

Para o diretor-executivo da Abic, Nathan Herszkowicz, a me­lhoria na qualidade do café im­pulsiona o aumento do consumo tanto de cafés especiais como dos tradicionais. “Além de con­sumir mais xícaras, o brasileiro também está procurando a di­versidade e a praticidade de ou­tros produtos provenientes do café, como expressos, cappuc­cinos e outras combinações com leite. É importante observar que nos grandes centros, o aumento do número de casas de café e das redes de cafeterias tem sido fun­damental para a promoção, jun­to aos consumidores, de cafés fi­nos, como o gourmet.

Com seus baristas, essas cafete­rias atuam como difusoras dos ca­fés de qualidade, mostrando aos consumidores as diferenças não só entre marcas, mas entre grãos de diferentes regiões produtoras, divulgando a cultura cafeeira do grão à xícara. Esses locais de con­sumo promovem também os dife­rentes métodos de preparo, servin­do desde expressos até os filtrados, coados, feitos na prensa francesa ou mesmo no ibrik (que é o méto­do de preparo do café turco)”.

Segundo o diretor executi­vo da Abic, pesquisas mostram que os jovens de 15 a 29 anos es­tão consumindo mais café e são bons frequentadores das casas de café. “O que tem atraído mui­tos jovens são as bebidas mais adocicadas, que combinam café com outros ingredientes, como sorvetes ou leite condensado e chantilly, preparados com muito capricho pelos baristas. O consu­mo fora do lar cresce muito, e au­mentou 307% entre 2004 e 2010”.

PROGRAMAS DE QUALIDADE

A indústria também tem feito sua parte para melhorar a qualida­de do nosso café torrado, torrado e moído e solúvel. A Abic criou pro­gramas de qualidade e certificação que são únicos em todo mundo.

Desde o antigo, mas ainda em atividade, Selo de Pureza, que ga­rante a pureza do café empacota­do, passando pelo CCQ – Círculo do Café de Qualidade, que distin­gue as casas de café e pontos de consumo que oferecem um pro­duto honesto e bem preparado e servido, até o mais recente PQC – Programa de Qualidade do Café, criado em 2004 e já consolidado, que avalia os aspectos sensoriais do café torrado e moído (avalian­do, na xícara, características como sabor, aroma, doçura, fragrância, retrogosto, etc.). Esses produtos são certificados e monitorados pela ABIC permanentemente para assegurar que a boa qualidade tem sido preservada pela indústria.

Hoje o PQC é o maior e mais abrangente programa de qualida­de e certificação para café torrado e moído, em todo o mundo. “O PQC certifica e monitora 496 marcas de café, sendo que 105 são de cafés gourmets, de alta qualidade. O va­rejo e o food-service reconhecem o programa como ferramenta valio­sa para ajudá-los a escolher e uti­lizar os melhores cafés. Já o Selo de Pureza, presente em mais de 1.000 marcas de café, foi consolidado pelo governo ao criar, em 2010, a Instru­ção Normativa 16, do Mapa, que usa critérios semelhantes para fis­calizar a pureza dos cafés no mer­cado. É importante observar que o PQC, por trabalhar com categorias de produtos (Tradicional, Superior e Gourmet), vem ajudando os indus­triais e diferenciarem os seus produ­tos e auxiliando os consumidores a distinguirem os tipos de café na hora da compra”, avalia Nathan.

Pode-se dizer que pesquisa e in­dústria trabalham em sintonia para superarem juntas o desafio de am­pliar o consumo de café no País, onde 95% da população já toma café diariamente. “Ambas têm de investir continuamente em inova­ção e diferenciação, fazendo com que os brasileiros tomem mais café por dia, em casa ou fora do lar”, con­clui o representante da Abic. “Nessa luta diária, parceria é a chave do su­cesso duradouro”, resume Bartholo.

 

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