Cotidiano

As consequências do agrotóxico

Diário da Manhã

Publicado em 27 de dezembro de 2017 às 00:31 | Atualizado há 7 anos

Quem trabalha no campo não se dá conta, mas o fato é que muitos agricultores estão perdendo a saúde auditiva. As causas são a falta de cuidados durante a jornada de trabalho. A exposição frequente ao ruído e à vibração de tratores, motosser­ras, colheitadeiras, entre outras máquinas barulhentas, de grande porte, provoca perda de audição progressiva, além de outros males. Além disso, se engana quem pen­sa que o manuseio de agrotóxicos e inseticidas causa apenas náu­seas, vômitos e cefaleia, como é divulgado. É pior: a exposição a esses tipos de substância também pode causar surdez.

Pesquisa publicada na Revista de Saúde Pública, da USP, mostrou que em um grupo de trabalhado­res rurais expostos concomitante­mente a inseticidas e ao ruído das máquinas a perda auditiva foi de 66,7%. O tempo médio para que de­senvolvessem a deficiência foi de 3 a 4 anos. Desse grupo, apenas 2,9% dos trabalhadores mencionaram usar proteção auditiva enquanto operavam as máquinas. O motor de um trator em funcionamento emi­te ruído em torno de 97 decibéis.

“Na presença de ruídos acima de 85 decibéis a audição pode ser prejudicada. Dependendo da fre­quência e do tempo de exposição a sons elevados, aumenta o risco de lesões na cóclea (órgão dentro da orelha responsável pela audição) fazendo com que a pessoa sofra danos auditivos de forma contínua e elevada ao longo da vida”, explica a fonoaudióloga Isabela Papera, da Telex Soluções Auditivas.

SOFRIMENTO GRADUAL

Os prejuízos para a audição em consequência do excesso de ba­rulho não ocorrem do dia para noite. A perda auditiva pode não se manifestar imediatamente, mas seus efeitos serão sentidos mais tarde, ao longo da vida. O mais indicado é que os operado­res de tratores e outras máquinas utilizem atenuadores de som que reduzem o barulho, mas que não impedem que o profissional ouça os sons ao redor. Alguns modelos de protetores auriculares, como os da Telex, por exemplo, podem ser feitos sob medida.

“Com a exposição intensa a altos volumes sonoros as célu­las ciliadas do ouvido vão mor­rendo e, como não são regene­radas pelo organismo, a audição vai diminuindo de forma lenta, mas progressiva. É o que se de­nomina Perda Auditiva Induzi­da por Nível de Pressão Sonora Elevada (Painpse). A perda audi­tiva é irreversível e pode se agra­var ao longo dos anos”, esclarece a fonoaudióloga, que é especia­lista em audiologia.

Por outro lado, o uso de agro­tóxicos e inseticidas nas lavou­ras brasileiras é prática recorren­te, apesar da crescente corrente pelo consumo de produtos or­gânicos. Os efeitos à saúde hu­mana de quem manipula tais ve­nenos – que muitos chamam de “defensivos agrícolas” – são enor­mes, afetando os sistemas ner­voso, cardiovascular, respirató­rio, além de causar problemas na pele, olhos e ouvidos.

Durante a pesquisa, realiza­da por estudantes da Universi­dade Tuiuti, no Paraná, 59 traba­lhadores rurais fizeram o teste de audiometria – exame que mede o nível de audição. Desse grupo, 49% dos trabalhadores apresen­taram algum grau de perda audi­tiva, sendo 35,60% perda auditiva bilateral e 13,55% perda em ape­nas um dos ouvidos.

Isabela Papera aconselha os trabalhadores rurais a procura­rem um médico otorrinolaringo­logista uma vez ao ano, a fim de avaliar se existe algum grau de perda auditiva e como tratá-la. A solução, na maioria das vezes, é usar aparelhos auditivos.

 

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