Cotidiano

Quando a maconha inibe o álcool

Redação

Publicado em 26 de novembro de 2017 às 02:15 | Atualizado há 7 anos

 

Um estudo realizado pela Es­cola Paulista de Medicina da Uni­versidade Federal de São Paulo (EPM/Unifesp) identificou que o Tetrahidrocanabinol (THC), com­ponente responsável por provo­car os efeitos euforizantes da ma­conha, inibiu a expressão de um comportamento relacionado ao consumo de álcool. Publicado na revista Alcohol, o artigo é um re­corte da tese de doutorado de Re­nato Filev, do Laboratório de Neu­robiologia do Departamento de Fisiologia da instituição.

Durante a pesquisa, 84 ca­mundongos foram utilizados, sendo que 40 foram submeti­dos a exposição diária ao álcool em concentração de 2,5g/kg, o que aumentou a atividade loco­motora, enquanto outros 44 re­ceberam apenas solução salina. Após 12 dias de administração das soluções, os animais expos­tos ao álcool foram tratados com os seguintes componentes e con­centrações: Canabidiol (CBD) à 2,5mg/kg, Tetrahidrocanabinol (THC) à 2,5mg/kg, CBD + THC, na razão 1/1, e “veículo” (solu­ção utilizada para diluição dos componentes da maconha) por 4 dias, sem acesso ao álcool du­rante este período. O grupo con­trole não teve contato com cana­binoides ao longo do processo.

Um dia depois da administra­ção da última dose de canabinoi­des, todos os animais, inclusive os do grupo controle, receberam administração de álcool a 2,0 g / kg, visando avaliar a expressão da sensibilização locomotora. Os ratos tratados exclusivamen­te com THC ou com a associa­ção CBD + THC apresentaram menor atividade locomotora na expressão, em comparação com o grupo que recebeu somente CBD ou “veículo”. Os grupos tra­tados com THC apresentaram índices de sensibilização equi­valentes ao controle. Nenhum efeito foi observado com o trata­mento feito somente com CBD.

De acordo com Filev, os re­sultados apontam que o uso do THC pode ser um aliado no tra­tamento contra o consumo do álcool. “Nota-se que a sensibi­lização é duradoura e permane­ce mesmo após retirar o conta­to com o álcool. Este efeito pode ser considerado um dos respon­sáveis pela repetição do consu­mo, sendo um comportamento relevante, sobretudo para aque­les que fazem uso problemáti­co”, explica. O pesquisador relata ainda que os achados apontam para a necessidade de investigar as propriedades dos canabinoi­des em usuários que apresen­tam problemas em decorrência do consumo dessas substâncias.

RESULTADOS PRELIMINARES

Estes resultados corroboram com uma hipótese levantada pelo próprio grupo do Labora­tório de Neurobiologia da EPM/ Unifesp em artigo produzido em 2013. Na ocasião, os pesquisado­res identificaram que houve al­teração na produção de recep­tores canabinoides durante a abstinência de álcool em roedo­res, indicando que o sistema en­docanabinoide, presente em to­dos os mamíferos e responsável pela regulação de vários neuro­transmissores, tais como a sero­tonina e a dopamina, poderia ser um importante alvo terapêutico para o alcoolismo.

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