“Quem se exaltar será humilhado e quem se humilhar será exaltado”
Diário da Manhã
Publicado em 19 de novembro de 2017 às 05:48 | Atualizado há 7 anos
“Na cadeira de Moisés estão sentados os escribas e os fariseus. Portanto, observai e fazei tudo o que vos disserem, mas não os imiteis em suas obras, pois dizem e não praticam. Amarram fardos pesados e insuportáveis e os põem sobre os ombros dos homens, mas eles mesmos nem com o dedo queriam movê-los.
Fazem todas as suas obras para serem vistos pelos homens; por isso usam filactérios mais largos e franjas mais compridas, e gostam de andar com longas túnicas. Gostam dos primeiros lugares nos banquetes, das primeiras cadeiras nas sinagogas, de receber as saudações nas praças e de serem chamados pelos homens — Rabi, Rabi. Mas devoram as casas das viúvas e simulam fazer longas orações. Esses receberão uma sentença mais severa!
Vós, porém, não queirais ser chamados ‘Rabi’, pois um só é o vosso Mestre e todos vós sois irmãos. E a ninguém na terra chameis ‘Pai’, pois um só é o vosso Pai, o qual está nos céus. Também não permitais que vos chamem ‘Guias’, pois um só é o vosso Guia, o Cristo. Antes, o maior dentre vós será aquele que vos serve, pois quem se exaltar será humilhado e quem se humilhar será exaltado”.
(Evangelhos de: Mateus, cap. 23, vv. 1 a 12 – Marcos, cap. 12, vv. 38 a 40 – Lucas, cap. 20, vv. 45 a 47).
Jesus ainda se encontrava no templo de Jerusalém diante da multidão atenta e dos seus discípulos, quando aproveitou a oportunidade para censurar o orgulho e a hipocrisia dos escribas, dos fariseus ou de quem possa agir do mesmo modo que eles.
O Mestre iniciou a sua prédica ao mencionar os escribas e os fariseus, como sendo alguns dos religiosos que também representavam oficialmente a fé e os preceitos legislados por Moisés.
Muitos escribas e fariseus usavam a religião para se promoverem material e socialmente. O Mestre recomendou não imitar as práticas equivocadas desses indivíduos, embora considerasse a importância de suas mensagens porquanto eram de procedência divina. Desse modo, o Rabi nos recomenda a melhor reação diante dos que falam e pregam, mas não praticam o que ensinam.
Jesus demonstrou que conhecia as técnicas de manipulações psicológicas dos hipócritas religiosos. Ao tratar desses indivíduos, ele afirmou:
“Amarram fardos pesados e insuportáveis e os põem sobre os ombros dos homens, mas eles mesmos nem com o dedo queriam movê-los”.
O Mestre também denuncia mais uma prática execrável: impor aos outros sacrifícios, penitências e condutas acima das forças, quando nada fazem para buscar o equilíbrio interior.
Os hipócritas religiosos são exímios manipuladores de consciências. Gostam de manter sob controle os fracos de espírito, os fragilizados pela ignorância e anestesiados pela ingenuidade e insensatez. São vaidosos e, como afirma o Mestre: “fazem todas as suas obras para serem vistos pelos homens”. Buscam admiração e aplausos e são incapazes de praticar a caridade longe das aclamações, reconhecimentos e homenagens. São semelhantes aos “sepulcros caiados: bonitos por fora, mas por dentro estão cheios de ossos e de todo tipo de imundície” (Mateus, 23:27).
Naquele tempo os fariseus e escribas usavam filactérios, que eram duas caixinhas de couro onde eram depositados pergaminhos contendo trechos da Torá para a devida observância dos mandamentos de Deus, conforme as recomendações dos livros Êxodo (13:1-16) e Deuteronômio (6:4-9; 11:13-21). Jesus censurou os que gostavam de exibir os “filactérios mais largos e franjas mais compridas e andar com longas túnicas” para serem admirados como homens santos e imaculados aos olhos de Deus.
O Mestre também criticou os que gostavam dos primeiros lugares na festas e nas sinagogas. Indivíduos que tudo faziam para serem cumprimentados com extrema reverência na via pública e de serem chamados com veneração de Mestre, Pai e Guia. No entanto, às ocultas, se aproveitavam até da fragilidade das viúvas, por meio de longas orações, para lhes conquistar a confiança e o afeto em troca de favores ou benefícios materiais. Jesus informa que esses usurpadores de bens alheios sofrerão penas mais severas.
Para superar ou evitar a vaidade do personalismo religioso, o divino Messias ainda orientou os seus discípulos a não aceitarem os títulos de Mestre, de Guia ou de Pai. Somente Deus é o verdadeiro Pai; somente Jesus, o Cristo de Deus, é o perfeito Mestre e infalível Guia.
Depois desses ensinamentos, o divino Amigo ainda ressaltou a prática da humildade:
“O maior dentre vós será aquele que vos serve, pois quem se exaltar será humilhado e quem se humilhar será exaltado”.
Ser o servo de todos é saber cooperar com a evolução espiritual e a promoção do bem estar físico e moral do próximo, conforme a vontade, o interesse, a necessidade e as condições favoráveis para esse fim. É, ainda, ter a disposição de ajudar e de socorrer sem esperar quaisquer recompensas dos beneficiados.
A prática da autoexaltação, ou seja, da exaltação dos próprios feitos e talentos, é a busca do reconhecimento dos homens por meio de benefícios materiais ou sociais, quando se deve preferir o reconhecimento de Deus diante dos valores que possui e dos benefícios que prodigaliza.
Quem busca reconhecimentos dos homens será humilhado diante da realidade espiritual porque as virtudes que possui são aparentes, imerecidas ou muito limitadas. Quem não busca tributos humanos será exaltado diante de Deus porque os seus valores são reais e satisfatórios.
Jesus nos conclama a uma vida moral interior intensa, longe dos aplausos, protegida por virtudes inabaláveis, fundada na fé, na humildade, na caridade e no amor ao próximo. Comecemos com a prática do silêncio, evitemos revelar valores e talentos, ainda que não seja possível esconder certos feitos, e intensifiquemos as orações.
Todos estamos envolvidos no mundo espiritual, que tudo sabe, tudo vê e é a nossa eterna pátria. Amigos superiores do plano invisível velam por nós e tudo fazem para que as nossas vitórias sejam perenes ou imorredouras. Avancemos com o trabalho no Bem e tudo o mais nos será acrescentado, conforme a necessidade e a autorização da Suprema Vontade de Deus.
(Emídio Silva Falcão Brasileiro é escritor, advogado, professor e doutor em Direito. Autor do livro A Caminho do Deserto (Editora AB). É membro da Academia Espírita de Letras do Estado de Goiás)
]]>