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Restos de Buda

Diário da Manhã

Publicado em 17 de novembro de 2017 às 21:48 | Atualizado há 2 semanas

Restos mortais humanos enterrados por monges há mais de um milênio na China podem ser de Sidarta Gautama (563-483 a.C.), conhecido como o Buda, cujos ensinamentos serviram como base para a fundação do budismo, uma filosofia e religião não teísta de grande influência em todo o planeta, principalmente no leste da Ásia, onde originou-se. É o que sugerem as inscrições da urna onde mais de 2.000 fragmentos de ossos foram reunidos no ano de 1013 (mais de 1.500 anos após a morte de Sidarta). Junto com a urna, 260 estátuas, em vários tamanhos e formatos, também foram encontradas no sítio arqueológico que fica no condado de Jingchuan, província de Gansu, localizada na região noroeste da China.

Ao que tudo indica, no local onde as escavações foram realizadas existia um grande templo. Com data de 22 de junho de 1013, a urna traz as seguintes inscrições: “Os monges Yunjiang e Zhiming, que pertenciam ao Templo Mañjuśrī do Mosteiro Longxing, reuniram mais de 2 mil peças de restos cremados do Buda [chamados de śarīra], assim como seus dentes e os ossos, e os enterraram no Salão Mañjuśrī deste templo.” Os dois monges, Yunjuang e Zhiming, que viveram no século XI, teriam passado cerca de 20 anos a recolher material de diversas fontes (através de compras, doações e descobertas). O resultado desta coleção teria originado o acervo de restos mortais encontrado dentro da urna.

A pesquisadora Hong Wu, líder do Instituto Provincial de Relíquias e Arqueologia de Gansu, não sabe se as estátuas foram enterradas junto com a urna. Apesar das informações sugeridas por inscrições, a pesquisadora, que já publicou dois artigos sobre o caso na revista Chinese Cultural Relics, não especula a veracidade da informação. Não é a primeira vez que surgem supostos restos mortais de Buda, e mesmo que a informação seja falsa, o achado possui grande importância histórica para a China. “Uma vasta quantidade de estátuas budistas foram desenterradas em Jingchuan. Elas abrangem um longo período de tempo, tem características distintas e origens complexas”, afirma no texto Preliminary Understanding of the Newly Discovered Hoard of Buddhist Statues.

Estátuas

De acordo com as inscrições encontradas em algumas das estátuas, as mais antigas foram produzidas no século IV da era cristã. “Dentre as estátuas encontradas em grupo, apenas duas são efetivamente datadas: uma estátua de Buda, que data do sexto ano do período do reino Tianhe, na dinastia Northern Zhou, e a estátua de um bodisatva [que no budismo possui várias representações que simbolizam a compaixão que move aqueles que desejam atingir o status de buda], datada do quarto ano do reino Kaihuang da dinastia Sui”, explica. “Apesar da maioria delas não possuir data, possuem diferentes características. Podem ser divididas em cinco grupos, baseados em temática, características esculturais, além de outros detalhes”, conclui.

As peças não apresentam apenas figuras em poses comuns na arte budista, possuem gestos e significados característicos. Hong Wu aponta em seu artigo várias características inesperadas que compõem o conjunto visual das peças encontradas em Jingchuan. “Muitas das imagens de Buda mostram o gesto de destemura [conhecido como abhayamudrā], representado pela mão direita, enquanto a o braço esquerdo fica repousado sobre o robe kasaya. O que existe de particular nesse tipo de imagens é que algumas dessas estátuas seguram uma cintamani [pedra preciosa rara] na palma da mão esquerda.” No local também foram encontrados restos de estrutura que podem fazer parte do salão principal do templo que abrigava toda a coleção dos monges.

A flor de lótus, que simboliza a pureza do corpo e da mente, também faz parte dos enfeites das estátuas de Jingchan. “Adicionalmente, algumas das imagens do Buda são adornadas com o que aparenta ser pétalas de flor de lótus saindo do ombro direito”, comenta a pesquisadora. A riqueza de material oriundo de diferentes épocas e lugares, de acordo com Hong Wu, pode ser explicada pela importância geográfica da região onde estava enterrado. “A área de Longdong era localizada no extremo leste da antiga rota Silk Road, que criou um importante canal para missões comerciárias com a cidade de Pingcheng e regiões mais a oeste. Durante o período médio da dinastia Northern Wei, a área estava profundamente penetrada pela filosofia budista.”

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