Politica

Morre ex-prefeito Paulo Garcia: ataque fulminante

Welliton Carlos da Silva

Publicado em 30 de julho de 2017 às 10:20 | Atualizado há 2 semanas

Morreu na madrugada deste domingo, 30, o ex-prefeito de Goiânia Paulo Garcia, 58. O gestor, médico neurocirurgião e também ex-deputado estadual sofreu infarto.

Paulo gostava de basquete, rock e estava de férias.  Nasceu em um lar de muita discussão jurídica, mas tornou-se médico.  Foi fumante e adepto de novas tecnologias. Era casado e pai de dois filhos. Considerado um pai extremamente amoroso e liberal.

Ele não costumava fazer uso de assessores para falar o que pensava nas redes sociais.  Sua gestão como prefeito foi polêmica.

O enterro ocorrerá no Jardim das Palmeiras às 17h e o velório terá início às 11h deste domingo.

O ex-prefeito começou sua carreira na política a partir da militância em corporações médicas, como a Unimed, e na década de 2000 tornou-se deputado estadual pelo PT.

Antes foi líder estudantil na Universidade Federal de Goiás (UFG) e realizou seus estudos de neurocirurgia na Alemanha.

Paulo morreu em seu apartamento, por volta das 4h da madrugada. Acordou e avisou a esposa a respeito do seu mal-estar. A também médica Teresa Beiler chamou médicos vizinhos, mas o ex-prefeito acabou falecendo minutos depois.

 

A família do prefeito vem de um histórico recente de perdas. O irmão de Paulo, o advogado Altamiro  Garcia, morreu de câncer em abril de 2014.  Dois anos depois, a mãe de Paulo, a juíza aposentada Maria Aparecida Garcia, morreu vítima de um enfarto.

Como gestor Paulo Garcia se destacou com obras voltadas para a revitalização do Centro de Goiânia, a reconstrução da praça Cívica, a reocupação dos mercados públicos, a reordenação do transporte público através do BRT, o uso das bicicletas sustentáveis e a polêmica reforma do parque Mutirama – programada pelo então prefeito Iris Rezende (PMDB).

O ex-prefeito foi duas vezes gestor da capital. Na primeira vez, assumiu a cadeira deixada por Iris Rezende, quando este saiu para disputar  o cargo de governador, em 2010.  Depois, foi eleito, em 2012, com apoio de Iris.

O PT goiano emitiu nota em que lamenta a morte do ex-prefeito. “O domingo amanheceu mais triste, nosso companheiro Paulo Garcia fez sua passagem”, diz a atual presidente, Katia Maria.

TEMPERAMENTO

Apesar de médico, que quase sempre condenam o hábito, Paulo Garcia era um fumante inveterado. Na Assembleia Legislativa tornou-se um deputado bom de conversa e que costumava sair para fumar e conversar com os demais adeptos.  Sempre pautou sua carreira pelo estilo leve e descontraído. Intelectual, com formação sólida que veio do berço, o político sofreu uma mudança de comportamento ao assumir a Prefeitura de Goiânia. O cargo executivo o afastou ainda mais da medicina e o levou para as polêmicas, tanto municipais quanto estaduais.

O ex-prefeito era atuante e espontâneo nas redes sociais, mas acabou se afastando diante dos entreveros a que se envolvia com opositores e adversários.

No segundo mandato encontrou forte oposição, além de inúmeras críticas. Pessoas próximas ao ex-prefeito afirmam que ele somatizava as discussões e sofria com as denúncias contas integrantes de sua equipe. Além disso, se irritava com supostas irregularidades flagradas no âmbito  do Paço Municipal, como o caso de superfaturamentos na compra de brinquedos do parque Mutirama, obra tocada pelo PC do B, partido aliado de sua gestão.

Estrategicamente, Paulo se equivocou com a tentativa de aumentos substanciais do IPTU durante o final de sua primeira gestão e início da segunda. Em seu mandato, o PT goianiense perdeu três vereadores – Djalma Araújo, Felisberto Tavares e Tayrone di Martino. Todos se posicionaram contra os aumentos previstos pelo gestor para a cobrança do tributo predial.

Sua segunda gestão foi marcada por traições e uma ação deselegante e contraditória do PMDB, que em parte o criticava e mesmo assim participava de seu governo. O vice-prefeito Agenor Mariano, do PMDB, passou a criticá-lo em público, apesar da legenda seguir no corpo administrativo – inclusive com suspeitas de improbidades administrativas, como ocorrido na Secretaria Municipal de Trânsito (SMT).

A carreira política começou com o cargo de secretário do PT . Em 2000, disputou uma vaga para a Câmara Municipal e perdeu. Tornou-se suplente. Em seguida disputou as eleições estaduais e venceu, exercendo o cargo até 2006.  Na época tentou instalar um sistema que discute a representatividade: o Conselho do Mandato. Neste modelo, ele coletava sugestões populares para criação de projetos de lei e requerimentos.

Em 2008 foi escolhido para ser o vice-prefeito de Iris Rezende.  Dois anos depois, assumiu a gestão da cidade.

Ex-prefeito foi professor da UFG

A carreira médica de Paulo Garcia é repleta de feitos universitários e institucionais. Antes de tudo, o ex-prefeito foi cientista, com currículo recheado de pesquisas e orientações acadêmicas.

Na década de 1990, ele foi secretário da Academia Brasileira de Neurocirurgia e membro do Conselho Regional de Medicina de Goiás (CRM-GO). De forma paralela, exerceu a presidência do colegiado do curso de medicina.

Paulo integrou ainda a Câmara de Pesquisa e pós-graduação e Câmara de Planejamento do Conselho Coordenador de Ensino e Pesquisa.

Tornou-se coordenador de internato e exerceu a cadeira de professor de Neurocirurgia na Faculdade de Medicina.

UNIMED

Desempenhou entre 1994 e 1996 a função de conselheiro técnico da Unimed, reorganizando a cooperativa.  Entre 1999 e 2002, tornou-se presidente  da cooperativa e assumiu uma vaga no Sistema Nacional Unimed.

A atuação no cooperativismo o ajudou a formular suas bases para atuação na política. Como médico atuava em diversos lugares, mas um dos consultórios em que atendia ficava na rua 9B, no setor Oeste.

 

Morte do ex-prefeito comove amigos, familiares e colegas

O governador Marconi Perillo lembrou da carreira de Paulo Garcia: “Lamento profundamente a morte do ex-prefeito de Goiânia e amigo Paulo Garcia. Valéria e eu somos solidários aos amigos e familiares neste momento de dor. Paulo Garcia teve carreira reconhecida como médico e na política trilhou um caminho de liderança e retidão. Sempre tivemos relação respeitosa. Decreto luto oficial no Estado por três dias e reafirmo minhas condolências aos familiares”.

O senador Wilder Morais (PP-GO) afirma que Paulo era um “profissional de notório reconhecimento em sua área”, um verdadeiro cientista e grande médico.  O parlamentar afirma que é também evidente os esforços de Paulo para conduzir Goiânia diante uma das crises mais graves enfrentadas pela cidade e que sempre manteve um bom relacionamento com o petista, inclusive institucional, quando se encontravam para discutir emendas destinadas ao município.

O vereador Welington Peixoto (PMDB) lamentou a morte de Paulo Garcia e agradeceu o prefeito pela iniciativa de implantar na cidade a cultura das bicicletas. O vereador disse que um dos legados de Paulo é a utilização das bikes, sendo que ele próprio, ao lado da família, faz uso do equipamento para andar nas ruas da cidade.

O ex-vereador Djalma Araújo (REDE), um dos principais antagonistas do ex-prefeito na Câmara Municipal,  desejou conforto aos familiares e a viúva Teresa Beiler, que sempre esteve ao lado do marido. Djalma disse que sempre apoiou Paulo nos temas de interesse da população e que as divergências ocorreram em um momento que teve que escolher o projeto de poder do PT ou ficar do lado do povo, já que ele considerada o aumento abusivo do IPTU um absurdo.

O jornalista Ulisses Aesse, do Diário da Manhã, costumava se encontrar com Paulo, que humildemente requeria sugestões.  Ele diz que Paulo era uma pessoa do bem e que na vida privada exercia sua função de pai, familiar e amigo como qualquer pessoa.  “Ele disse que estava preparando para comprar uma Harley Davidson, moto estradeira, para sair ele e a mulher, a Teresa, em uma viagem para o Chile”.

O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-GO), Lúcio Flávio, lamentou a morte em nota oficial.  ” A OAB-GO reconhece os esforços de Paulo Garcia para conduzir a capital goiana à modernidade, ao propor um projeto ousado de sustentabilidade cujos frutos seguramente serão colhidos pela cidade no futuro”.

 

[box title=”Íntegra da nota do PT”]

O domingo amanheceu mais triste, nosso companheiro Paulo Garcia fez sua passagem.

Médico e líder político, Paulo Garcia foi suplente de vereador, deputado estadual, vice-prefeito e Prefeito de Goiânia 2010/2016.

Nossos sentimentos aos familiares, em especial a amiga Tereza Beiler. Que Deus possa trazer paz e sabedoria para a travessia desse momento.

O Partido dos Trabalhadores lamenta a partida de um de seus líderes. Falamos essa semana e ele se colocou à disposição do partido. Vá em paz meu companheiro…

Kátia Maria
Presidenta PT/GO

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