Cotidiano

Uma tragédia social: 14 milhões de desempregados

Diário da Manhã

Publicado em 13 de julho de 2017 às 01:32 | Atualizado há 1 semana

São 14 milhões de desempregados no Brasil, atualmente. É uma das maiores tragédias sociais de todos os tempos. Os dados são do IBGE, referentes a trabalhadores com carteira anotada que ou perderam seus empregos ou ainda não conseguiram entrar no mercado de trabalho. Considerando que em muitas regiões do Brasil ainda é corriqueiro o emprego informal, sem anotação em carteira, este número pode ser muito maior.

Segundo o IBGE, o número de empregados com carteira assinada no Brasil, atualmente, anda por volta de 33,3 milhões de pessoas. Com base nisso, infere-se que pelo menos um terço da força de trabalho brasileira está desocupada, embora a taxa média do último trimestre tenha ficado em 13,6%.

Para se ter uma ideia da magnitude do desemprego no Brasil, basta lembrar que é um contingente maior do que população de vários países. Por exemplo, o Uruguai, cuja população gira em torno de 3,5 milhões de habitantes. Paraguai: 6,6 milhões. Bolívia: 10,7 milhões. Portugal: 10,35 milhões. Suécia: 9,7 milhões. Suíça: 8,2 milhões. E por aí vai.

14 milhões de desempregados significam 14 milhões de pessoas deixando de comprar, ou comprando apenas o absolutamente necessário com o que ainda sobrou do seguro desemprego. Isso tem reflexos nos preços, é claro. Tivemos uma ligeira deflação no mês de junho. O IPCA ficou negativo em 0,23%.

Por mais que os lojistas façam liquidações, outlets, torras totais e coisas do gênero, o consumidor anda passando longe das vitrines. É perceptível os efeitos danosos da crise econômica no comércio varejista. Lojas fechadas por toda parte, suas portas exibindo o lúgubre cartaz: “aluga-se”. O que pode ser constatado a olho nu é confirmado quantitativamente pelo IBGE. Goiás sofre nona queda seguida nas vendas do varejo.

Em maio deste ano, o recuo foi de 6,2%, na comparação com maio de 2016, vigésima nona taxa negativa consecutiva e menor que o recuo verificado no mês anterior (-10,2%). No mês, a variação no volume de vendas no Estado registrou o menor recuo do ano 2017; contudo, teve queda em relação ao Brasil, que avançou 2,4%, representando o segundo resultado positivo após 24 quedas consecutivas, na mesma base de comparação.

São muitas as causas da depressão, dependendo da escola de pensamento econômico. Existe ainda quem jogue a culpa de tudo isso sobre Dilma Rousseff, mesmo depois dela ter sido deposta da presidência da República há mais de um ano.

Os governos vêm mantendo o País sob forte arrocho fiscal. Aliás, já nos últimos tempos de Dilma, o governo federal vinha apostando em ajustes fiscais como forma de conter a inflação, em alta, e reequilibrar as contas públicas. Um conjunto de decisões foi tomado, tanto pelos governantes como pelo empresariado, no sentido de adiar investimentos. Projetos de expansão foram arquivados. Obras públicas estão paralisadas. A engenharia nacional teve as pernas quebradas pela operação Lava Jato. A Petrobras aplicou um plano de “desinvestimento” e vem fazendo suas encomendas no exterior, gerando cerca de 50 empregos na Ásia, depois de fechar a indústria naval brasileira.

Professor da Fundação Getúlio Vargas, o economista Nelson Marconi diz que “a chance de o governo estimular a atividade econômica seria aprofundar o programa de concessões ou estimular as exportações. O programa de concessões”, diz ele, “dificilmente avançará, por conta da conjuntura política, e estímulo das exportações não é do feitio da atual equipe econômica, que tem uma preocupação maior em segurar a inflação e manter o juro baixo, o que reforça a política monetária, mas prejudica as exportações”.

Marconi prestou esta e outras declarações à revista Indústria Brasileira, de junho deste ano, última edição. É uma entrevista até certo ponto crítica em relação à atual política econômica, publicada por uma revista que defende ardorosamente a gestão do presidente Temer. O que Nelson Marconi defende é que o BNDES volte a oferecer crédito, reaquecendo a economia e aliviando o fluxo financeiro das empresas.

O professor observa ainda que as empresas estão terrivelmente endividadas e, numa situação dessas, o recolhimento dos impostos vira última prioridade. Não é à toa que a Confederação Nacional da Indústria está fazendo um lobby intenso para que o governo adote um programa de regularização fundiária que permita às empresas colocar em dia suas dívidas em atraso com a Receita Federal.

Mas o importante, mesmo, é que o BNDES retome o seu papel de fomentador do desenvolvimento, fornecendo crédito módico aos empreendedores, insiste o professor. “Não dá para reativar a economia sem reativar o crédito. Além disso, há uma outra mudança importante no mercado de crédito como um todo que pode ajudar o mercado de capitais: hoje, há uma acomodação no mercado financeiro em aplicar em país da dívida pública, uma espécie de mercado cativo e seguro. Para mudar isso, estimulando o investimento em outros ativos, é preciso acabar com a indexação da dívida pública”, sugere.

Nelson também é crítico da reforma trabalhista, que é ardorosamente defendida pela revista que o entrevistou. Os defensores da reforma trabalhista nunca confessam as verdadeiras intenções por trás do estrangulamento da CLT. Apenas argumentam dogmaticamente que a reforma vai acabar com o desemprego. “A proposta, como está, reduz o poder de participação dos sindicatos e não acho isso muito bom”, afirma.

3-1

]]>

Tags

Leia também

Siga o Diário da Manhã no Google Notícias e fique sempre por dentro

edição
do dia

últimas
notícias