Partidos políticos em Mineiros
Diário da Manhã
Publicado em 12 de julho de 2017 às 01:03 | Atualizado há 8 anosNum país em que os Partidos Políticos já viraram “siglas de aluguel”, bancadas da “bala”, do boi e da bíblia, formando as três frentes ou bancada BBB; que já são frente parlamentar evangélica com 74 deputados, correndo risco de profanar a religião; parlamentar ruralista com 198 deputados, por certo conservadores, uns arrelientos; parlamentar da segurança, justificando a bancada da “bala”, querendo definir rumos; sem omitir a bancada dos papudinhos dos deputados federais de pouca expressão, também chamados do “baixo clero”, fisiológicos, que se sentem o máximo com telefonemas de agradecimentos e outros paparicos do presidente Michel Temer; desmoralizados ou não, de ideologia indefinida, dúbios, de direita odiosa ou esquerda sem rumo, ora se reciclando com a leitura do livro “Caminhos da Esquerda”, do filósofo Ruy Fausto; clandestinos, informais, velhos, novos ou convenientes; de todo modo, embora o Brasil não tenha tradição político-partidária, como os Estados Unidos, por exemplo, estão por aqui desde o reinado de Maria I (1808), tempo em que se falava Partido Português e Partido Brasileiro.
Contudo, os primeiros partidos políticos brasileiros que tiveram realmente existência legal, pouco importando se com origem remota na Grécia ou em Roma, foram o Partido Conservador e o Partido Liberal, no segundo reinado (1840-1889), a bem dizer, na fase imperial. Com o Republicano, regionalizado em cada Estado, são os partidos políticos de mais longa duração no Brasil. Com a República Velha (1889-1930), como organizações regionais, com estatutos e direções próprias, chegam em Goiás e assim também nos municípios como Mineiros, onde o coronel Joaquim Carrijo de Rezende e família, após uma certa ligação com os Bulhões desde finais do século XIX e primeira década do XX, consegue o primeiro Diretório Político que se organiza no município, em 1925, filiado ao Partido Republicano de Goiás (PRGO), sendo seu primeiro presidente o próprio coronel Carrijo, falecido logo a seguir, sendo escolhido para seu sucessor, na presidência do diretório, o seu filho, Clarimundo Joaquim de Rezende, também graduado no status do pai e com Praça Pública em seu nome, cognominada “Coronel Mundim”, que presidiu o diretório do PROGO local até 1930.
Por estranho que pareça, o segundo Diretório político, ocorreu em 1932, ainda filiado ao Partido Republicano de Goiás (PRGO), sem prosseguimento. O terceiro, de 1935, surgido por determinação de Pedro Ludovico Teixeira, ainda filiado ao Partido Social Republicano de Goiás, tendo como presidente escolhido o coronel Manoel Francisco Vilela, então principal seguidor da política de Ludovico.
A bem dizer, os primeiros anos da década de 1930 foram de efêmera e tumultuada abertura política no país e vilarejo de Mineiros, situação que se agravou com o banimento dos partidos políticos e advento do autoritário Estado Novo imposto por Getúlio Vargas durante 8 anos (1937-1945). Contudo, as lutas liberais, conservadoras, pois não se sabe quem mais – trouxeram a Constituição Federal de 1946, rica de ideais liberais, considerada a carta de alforria dos municípios, trazendo autonomia e outras conquistas, notando-se pela primeira vez na história política local, a presença e organização de partidos Políticos com estatutos e direções próprias, que se caracterizavam como de âmbito nacional: a União Democrática Nacional, (UDN), o Partido Social Democrático (PSD), seguido pelo Partido Trabalhista Brasileiro, (PTB), menina dos olhos de Getúlio Vargas.
À época, destacavam-se realmente a UDN e o PSD. Este último foi sempre considerado um partido oligárquico, ligado ao campo, mais rural do que urbano, consta que preso ao passado, buscando votos de analfabetos e semianalfabetos, dos miseráveis e dominados, segundo o historiador José Honório Rodrigues, pelos coronéis e proprietários da terra, visando ser governo, estar com o governo ou aderir, não importa muito de onde viessem os votos. A UDN, de sua vez, era o partido da elite, dos ricos, dos Caiado, também chamado dos “lenços brancos” ou do Brigadeiro, mais urbano, metido a cosmopolita, sempre morando no ceticismo dos mais ricos e entrelinhas dos mais cultos, por vezes reticente, indeciso, sem reformas programáticas, sem jamais deixar a classe média, através da qual alegava – como ainda faz com outros nomes – ligação com os mais pobres, de certo modo já parecido com o velho PSD em algumas de suas caraterísticas.
Com estes partidos e alguns outros de âmbito regional, Abel Martins Paniago filiado à UDN e Edésio Orbilon de Campos ao PSD, disputaram a eleição de 1946, sagrando-se prefeito Abel Martins Paniago, ali começando um longo período de acirradas disputas eleitorais entre os dois partidos, ora predominando a UDN, ora o PSD, fato que só foi diferente e de período maior de dominação “udenista”, o do Golpe ou “revolução” de1964, com 16 anos, alcançando 1982, tempo em que os militares extinguiram os partidos políticos com atos institucionais autoritários, criaram eleições indiretas, criando siglas partidárias de sua sustentação, assim surgindo o bipartidarismo da época, com a chamada Aliança Renovadora Nacional (ARENA), de claros ideais udenistas e o Movimento Democrático Brasileiro (MDB), inicialmente partido do “sim senhor” perante a cúpula militar, posteriormente convertido em Partido do Movimento Democrático Brasileiro, PMDB, que, já ostentando “sentido” e postura ideológica de partido de oposição, assim como a ARENA e suas derivações partidárias, nunca deixou de ser governo, inclusive como forte aliado do atual e desmoralizado presidente Michel Temer.
De todo modo, os partidos acima citados, pouco importando as suas derivações, nomes, siglas ou conveniências ideológicas, nunca mudaram ou desapareceram da cidade, onde quatro deles são considerados principais PMDB, ora articulado, com origem remota no velho PSD, liderado pelo prefeito Agenor Rezende, um dos mais experientes políticos mineirenses; Partido Social Democrático Brasileiro, PSDB, onde estão, por estranho que pareça, a maior parte dos antigos udenistas, liderados pela ex-prefeita Neiba Maria Morais Barcelos e seu marido Aderaldo Cunha Barcelos, ora enfrentando os ruins resultados da última eleição em aliança com o vereador Ernesto Vilela (PDT), do antigo PMDB; Partido da Solidariedade (SD), dos mais recentes na cidade, presidido pela vereadora, Dra. Flávia Resende Oliveira Vilela, uma das principais lideranças políticas da cidade; e Partido dos Trabalhadores, PT, coligado ao PMDB, presidido pela Dra. Ivane Campos Mendonça, Vice-prefeita e Secretária Social.
Na sua essência programática e ideológica, são os mesmos no país, no Estado e em Mineiros, onde, por vezes, são também chamados “de aluguel”, “de cabresto”, “nanicos” e outros pejorativos característicos da má-fama em que vive o ofício político no Brasil. Noto que já cresce apoio a ideias próximas à esquerda, conforme aponta pesquisa Data Folha, ainda gerando muita confusão na cabeça dos eleitores, ora agrupados em uma das cinco posições da escala ideológica (esquerda, centro-esquerda, centro, centro-direita e direita), o que mostra que a população não tem perfil ideológico predominante, revelando que os partidos estão piorados nos ideais libertários, socialistas, conservadores e nos costumes de fazer política. Veja, aonde chega: Com o forte afloramento do racismo no mundo, mais fora do que em Mineiros, alguns representantes de Partidos mais conservadores estão raivosas, até odiosos, quem sabe, influenciados por Donald Trump, Presidente norte-americano.
Partidos Políticos em Mineiros:
(Martiniano J. Silva, advogado, escritor, membro do Movimento Negro Unificado (MNU), da Academia Goiana de Letras, IHG-GO, UBE-GO, mestre em História Social pela UFG, professor universitário, articulista do DM, martinianojsilva@yahoo.com.br)
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