Cotidiano

Dependência de likes: os viciados em redes sociais

Welliton Carlos da Silva

Publicado em 10 de julho de 2017 às 13:24 | Atualizado há 8 anos

Não tenha dúvidas: todo prazer vicia. E muitas vezes o prazer pode levar a um grave problema de saúde. Desde a chegada das redes sociais digitais, virada dos anos 1990 para 2000, um prazer próximo ao do uso de drogas tem preocupado cada vez mais especialistas em comunicação, psicólogos e até mesmo psiquiatras.  

Trata-se da dependência das redes sociais. Se você é daqueles que sente ansiedade quando está longe delas ou não consegue largá-las, um aviso: pode ser dependente digital.  

Conforme Luli Radfahrer, da Universidade de São Paulo (USP), os empresários que tocam estes mecanismos de comunicação trabalham para desenvolver no usuário uma dependência psíquica semelhante à dependência química.  O motivo é óbvio: um Facebook sem audiência não tem importância nenhuma.  No caso da rede mais famosa, o que interessa é observar os seus filiados se comunicando e (na medida do possível) inserir propagandas sub-reptícias dentro em sua timeline. Ao chegar nos anunciantes, a empresa vende o “tempo” que você, usuário, permanece dentro desta “matrix”.

Por isso mesmo, é cada vez mais preocupante o vício dentre os mais jovens – que passam de duas a quatro horas por dia nas redes. Para piorar, diz Luli, vários profissionais da psicologia e da neurociência desenvolvem no ambiente das redes sociais mecanismos para ampliar a dependência psíquica. Prender o usuário à rede é o lema.

Ninguém duvida que as redes ajudam a aproximar pessoas e até mesmo, em certa medida, quando comparadas com outras mídias, aumentam o direito à informação. Mas elas atuam com os olhos voltados para o mercado. “O grande problema hoje é que existe uma dependência de reações nas redes, cada vez maior, para gerar prazer no usuário. Para a rede social, é um grande negócio, e, para o indivíduo, uma grande preocupação”.

Luli Radfahrer diz que não é exagero a expressão “dependência”. “Existe uma dependência psíquica. Ela gera uma descarga de neurotransmissores. A fonte é psíquica e não física, como outras drogas. Uma pessoa carente de afeto e que recebe isso na rede passa a adorar. É o artista fora do palco, o jogador de futebol que enche a cara. Hoje, a rede te leva a fazer isso”.

Para o especialista, ao se acostumar com o “like”, você passa a depender deles e deseja cada vez mais “curtidas”. Poucas curtidas irritam seu cérebro. “Para a rede social, isso é um bom negócio”, fala.

Ele afirma que existe um trabalho para que o usuário vicie na atividade. “No começo os usuários fazem uso de pequenas quantidades que dão um grande barato, mas depois você precisa de quantidades cada vez maiores para ter baratos mínimos. É só pensar a primeira vez que você viu um vídeo no Youtube. Você disse: ‘Nossa! Que legal, um vídeo na internet!’. Depois passou a ver dois, dez, vídeos para ter uma fração deste prazer. O mesmo ocorre no Instagram. Antes você colocava uma foto. Uma pessoa curtiu, ‘Nossa, que legal!’. Depois, você coloca a foto e só tem cem curtidas. E já reclama.”

 

[box title=”Como se desintoxicar das redes”]

Os especialistas afirmam que é preciso saber a hora de parar – como, afinal, em qualquer situação de vício em drogas. O problema é que o sistema das redes sociais é sensível e o usuário jamais aceita que existe a possibilidade de vício.

Para ele, a vida fica perfeita com os ‘afagos’ das redes sociais. Por isso já criaram até mesmo mecanismos para fraudar likes e compartilhamentos. O famoso ‘engajamento’ das redes revela, de fato, muitas vezes, uma artimanha para prender as pessoas dentro das redes: quanto maior o ‘engajamento’, mais “legal eu sou”.

O jornalista com especialização em marketing digital Ulisses Aesse, que pesquisa direitos humanos e direito digital, acredita que faltam mecanismos de defesa jurídica dos internautas.

Ou seja: as empresas digitais fazem o que desejam, ferem a soberania dos países e manipulam a comunicação. “Existe uma legislação mais ou menos rígida para rádio e tevê, através da concessão pública, e uma liberação completa para as empresas que atuam em redes sociais. O Marco Civil da Internet nem chega aos pés do que é preciso legislar”.

AOS VICIADOS

Luli Radfahrer diz que o primeiro passo para os viciados é perceber que existe um problema grave. “Se as redes sociais estiverem alterando a rotina do usuário, de forma a prejudicar seus compromissos, é importante verificar o nível de dependência”.

Ele afirma que é uma pequena dependência social, mas necessita de atenção. E cabe ao usuário saber quando parar ou se afastar. O professor da USP diz que o momento em que a prática nas redes passa a atrapalhar o trabalho ou quando a pessoa não dorme bem, então, chegou a hora de tentar sair das redes por algum tempo.

DEPRESSÃO

Rodrigo Leite, coordenador do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, em reportagem do Estadão, diz que rede social, em si, não significa problema. Mas pessoas com um quadro mais amplo de depressão, inclusive consolidado, fazem mais uso das redes sociais, o que pode, de fato, ser usado para afinar ainda mais o diagnóstico.

O médico psiquiatra do Hospital Israelita Albert Einstein, Elton Kanomata, afirma que as redes entregam um ciclo vicioso:  quanto mais a pessoa usa, mais pode reforçar seus problemas reais de saúde.  

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