Pelo fim do politicamente correto
Diário da Manhã
Publicado em 7 de julho de 2017 às 23:48 | Atualizado há 8 anosFico sem entender as razões pelas quais certas pessoas insistem na lógica do politicamente correto; fogem do conflito, do entendimento e enfrentamento real das coisas como o diabo foge da cruz; o resultado é previsível e redunda consequentemente, em um padrão de conciliação que bem ao contrário do celebrado, aprofunda o conflito para o estertor do insolúvel; complexificando-o bem mais e legando normalmente, a perspectiva do bom senso, do moderno e do interesse comum para patamares ou estratos abertamente marginais ou meramente simbólicos.
É a principal e mais fluente estratégia do conservadorismo atual, aliás, importante considerar que aquilo que há de pior em matéria de política no Brasil tem no estratagema vil do politicamente correto sua mais importante, determinante e viável opção política; não por acaso, a atual e muito degradante conjuntura política e que enlameia o país de cabo a rabo vem justamente dessa torpe estratégia de estabilização político-social. O politicamente correto nos lançou no pior esgoto da história nacional. Militares golpistas de 1964 apresentavam mais honra e dignidade.
E é curioso que a bula que o antecede e anuncia sempre afirma que é “pela democracia”, “pelo bem comum”, “em prol da cidade”, “em nome do país”, para “evitar um mal maior” e, por óbvio, “tudo em nome do povo”. Parece ser altruísta, republicano e renovador… Só parece porque, de fato, não é.
E fomos saltitando de “pluripartidarismos em pluripartidarismos”, de “blocos partidários em blocos partidários”, de “frentes parlamentares em frentes parlamentares”, de “amplas alianças em mais amplas alianças”, de “presidencialismo de coalização em presidencialismo de coalização” até chegarmos em Temer e no mais ligeiro e sistematizado desmonte de políticas públicas (muito importantes por sinal!) que o país já presenciou e que mesmo que timidamente freavam o vertiginoso crescimento do titã da tragedia brasileira.
Sua forma de pertencimento é deletéria e anti-social! O politicamente correto e suas derivadas capou o Estado brasileiro e; todos despontam querendo uma “boquinha”, um DAS, um carguinho comissionado ou um contrato de serviços porque magicamente, todo mundo, não mais que de repente, virou consultor de alguma coisa. É espantoso!
Mais até… É bizarro! E a praga deu vida para uma plêiade de movimentos identitários, quase bobos de tão infantis, e que não cansa de travar sua enfadonha guerra de vernáculo: por novos termos, grafias, tônicas e sonoridades. É como se tal expediente fosse humanizar, democratizar um Estado secularmente despótico como o brasileiro; completamente fora de controle, integral e historicamente apropriado por elites econômicas criminosas cujo principal esteio de estabilização é o assassínio deliberado e sistematizado da parcela pobre da população do campo e da cidade.
É preciso opor as visões da política; perspectivas e compreensões sociais; é fundamental destacar diferenças entre esquerda e direita em debates, opiniões; no ambiente acadêmico e, sobretudo, nas disputas político-eleitorais. Esse movimento é essencial porque educa, forma, qualifica e ativa a sociedade política do país, esse fundamental instituto da democracia brasileira e que fora completamente apropriado pelos donos do poder.
O politicamente correto, ao contrário, nega o debate porque tem pavor da crítica profunda, articulada e esclarecedora. Gosta mesmo e precisamente por isso se devota, é pela conveniência episódica da absurda aliança eleitoral que confere verba pública para seus quadros; a possível anistia daquele crime e é claro, não se pode esquecer da presença ameaçadora e arriscada dos movimentos sociais.
(Ângelo Cavalcante, economista, professor da Universidade Estadual de Goiás (UEG), campus Itumbiara)
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