Meu filho não é príncipe e minhas filhas não são princesas
Diário da Manhã
Publicado em 22 de junho de 2017 às 23:08 | Atualizado há 8 anosFalar sobre filhos não é tarefa fácil, todos nós pais de família, num momento ou outro, julgamos saber mais do que o necessário para educar aqueles que estão sob nossos cuidados. Mas tudo bem, convenhamos que os tempos mudaram. Lembro de uma época não muito distante que a criação dos filhos era de responsabilidade primeira dos próprios pais, diga-se de passagem, não de responsabilidade da escola ou da igreja ou de qualquer outra instituição a quem julgamos ser responsáveis pela educação da nossa prole.
Julgo uma época que os pais assumiam a educação dos filhos, relacionando-a a proteção, comida, roupa lavada e vara de amoreira. Lembrei esse exemplo do Neuvair Sinzervinch, pastor presbiteriano, que numa noite inspirada citou sua história de vida, tempos passados na cidade de Niquelândia, com as dificuldades normais de uma família pobre, mas que os pais amavam os filhos e os educavam no caminho de Deus, o que não significa que estava livre das palmadas ou vara da amoreira.
Mas o fato é que há pais que superprotegem, ou seja, criam filhos mimados, sem saber o gosto de terra, banho na chuva, filhos que são guardados numa redoma e que anos mais tarde podem desenvolver doenças ligadas ao sistema imunológico, uma vez que não criaram resistência diante das várias doenças oportunistas a que estão sujeitas.
Mas a questão não é só de saúde física, hoje temos uma geração de “filhos do quarto”, acordam cedo, vão para escola, almoçam, entram para seus quartos e só saem à noite para o banho e retornam ao quarto para dormir. E o círculo continua no outro dia.
O diálogo mínimo entre pais e filhos é uma característica dessa geração hi tech hipnotizados pela Internet, computador, tablete e rede social. As consequências são visíveis e preocupantes: jovens solitários que se comunicam pouco, que analisam pouco, que refletem pouco e são vulneráveis a todo tipo de modismo imposto pela busca de autoafirmação.
Outro grande problema presente na criação dos filhos na atualidade: pais que acham que a escola ou igreja sejam os cuidadores dos filhos. Devo lembrar que a escola é o lugar no qual os filhos vão para aprender a ler, escrever e contar, além de outras habilidades profissionais. A igreja é o espaço de adoração a Deus, não importando sua crença ou religião, não estou aqui julgando se esta ou aquela religião é a mais correta ou não. Mas há pais que acham que a igreja deve educar seus filhos, lamentável engano.
Por outro lado, também presenciamos a omissão total dos pais, achando que a liberdade exacerbada é o ponto de equilíbrio para a educação dos filhos. Quase sempre nos esquecemos que filhos também mentem, roubam, fingem, enfim, filhos são seres humanos que estão em desenvolvimento e precisam da orientação dos pais e não de uma pseudoliberdade. Há muitos casos na literatura sobre filhos que culparam seus pais por seus fracassos na profissão, nos relacionamentos e na vida porque omitiram a educação, a falta de orientações básicas de sobrevivência: saber respeitar as leis, ao próximo e a si mesmo.
Nossos filhos não são príncipes e princesas num castelo encantado e que devem ser protegidos o tempo todo, mas também não devem ser largados à própria sorte. O equilíbrio está na aceitação de suas limitações e na certeza de que os pais são o alicerce dos filhos. Alicerce que pode ser construído na rocha firme ou na areia. Qual você escolhe?
(Cleiber Fernandes dos Santos, professor universitário)
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