O que faz um pastor
Diário da Manhã
Publicado em 12 de maio de 2017 às 02:33 | Atualizado há 1 semanaSer pastor está além de possuir um cargo importante, é ter responsabilidade, e para isso os escolhidos devem ser pessoas preparadas, íntegras e idôneas, e ter intimidade com Deus. Infelizmente, existem pessoas que têm se colocado à disposição deste título e aberto igrejas, dirigindo pessoas como o próprio Cristo falou, “um cego guiando outro cego”.
Existem várias funções pastorais dentro do termo pastor, tem o eclesiástico, que se refere ao pastor que está dentro da igreja, e ao referencista, que também é chamado de itinerante, ambos passaram pela mesma liturgia para adquirir o título de pastor. O mesmo tem a função de abençoar vidas, apresentar Deus para as pessoas, bem como mostrá-las para Deus.
Pastor da Igreja Assembleia de Deus Ministério Fama há 6 anos, Wendel Gonçalves aceitou Jesus há 24 anos, o pregador era usuário de drogas e teve que escolher entre ser preso ou a internação. E hoje, além de ser feliz com o que faz, ele não se cansa de agradecer por um milagre que aconteceu em sua vida, sobreviveu após ter 90% do seu corpo queimado. Segundo ele, os médicos não acreditavam na sua recuperação e garantiram que não havia mais o que fazer. Porém, após a queimadura de terceiro grau, três paradas cardíacas e 40% da pele de seu corpo removida, Wendel surpreendeu toda equipe médica com sua rápida recuperação.
Wendel acredita que, para se tornar um pastor, não basta só querer, a regra de conduta é embasada na Bíblia. Existem alguns requisitos e também o amparo da igreja. “Uma pessoa que tem uma postura bonita aos olhos da sociedade, não só dentro da igreja, mas fora, uma pessoa cheia do espírito santo, carismático, que não seja dado ao vinho, um bom pai, entre outros, se enquadra no perfil para se tornar um pastor”, diz.
O pastor destaca ainda que ser um obreiro da igreja é uma carreira. “Pastores também é uma carreira, no livro de Tito falam que somos trabalhadores, é ofício”, afirma.
Para a sociedade, ser um pastor não é uma profissão, é um sacerdócio, não é disponibilizar do seu tempo apenas uma parte do dia, precisa ter disponibilidade e não devem retirar os lucros obtidos na igreja.
Diante disso, os pastores que se encontram à frente de suas igrejas relatam que ser um pastor as vezes os impede de seguir suas vidas normalmente, pois um pastor é psicólogo, motorista, médico, pai, mãe, psicanalista, ou seja, precisa estar sempre disposto a auxiliar e estender a mão para o próximo em qualquer situação.
Perante tantas funções a serem desempenhadas, manter-se em um emprego não é uma tarefa fácil, portanto, eles acreditam que todos os pastores precisam possuir vínculos empregatícios, a fim de não ficar no prejuízo ao chegar na terceira idade.
A teologia afirma que não existe vínculo empregatício entre pastor e igreja, alguns recebem o percentual, e então é contido por um teto, por exemplo existe uma igreja que possui uma renda de três salários, tem pastor que recebe meio salário, e parte desses pastores que ganham muito pouco que são 90% dos pastores, tem um trabalho por fora, fazem alguma coisa para sobreviver, outros são pastores de igreja ricas que conseguem viver somente do seu trabalho da igreja. “É um trabalho digno e muito árduo quanto maior a igreja mais pessoas para dar atenção, para atender, se importar e cuidar, muito digno do seu salário”, cita.
Referente aos vínculos empregatícios, o pastor Wendel salienta que em sua igreja todos os pastores recebem salários, além do pagamento do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e seguro de vida. Segundo ele, essa decisão foi tomada após uma assembleia onde todos os membros demonstraram preocupação com o futuro desses obreiros que dedicam suas vidas para os fiéis. Na Assembleia de Deus os pastores não possuem carteira assinada, mas são a favor de que isso venha acontecer futuramente.
O teólogo e pastor André Azevedo revela que, atualmente, tornar-se um pastor está acontecendo de maneira mais fácil e na maioria das vezes de maneira errada, não é só ser escolhido por Deus e pelos fiéis, atualmente qualquer pessoa pode abrir uma igreja e autodenomina-se um pastor. “A Bíblia diz que quem escolhe é Deus, e a evidência dessa escolha se dá no dia a dia. Tem quem carrega uma credencial, mas vemos que não foi chamado, e tem quem não é reconhecido entre nós, mas Deus o chamou”, relata André.
André expõe ainda que esse reconhecimento pastoral por parte de outros pastores e formar novos pastores implica muitas coisas, como a camaradagem e até uma puxar saco. “A gente vê pessoas que não foram chamadas por Deus ocupando posição ministerial enquanto outros que foram chamados mas não têm influência no meio, não é bajulador, essas pessoas são deixadas de lado, e aí que, na ânsia do desespero e desejo pela paixão ministerial, a pessoa acaba optando por abrir um trabalho independente na ânsia de cumprir o seu ministério”, conclui.
Existem aqueles que preferem abrir uma igreja independente para cumprir o ministério, como é o caso do pastor Thiago Vieira, que fundou há dois anos a Igreja Brasa Viva, em Aparecida de Goiânia.
Thiago pertencia à Igreja Fonte da Vida, durante 18 anos, lá que iniciou a sua vida pastoral. Sempre teve a vontade de se dedicar à igreja, chegou a largar o emprego para se dedicar 100%, foi obreiro, em seguida diácono e presbítero. “Eu tive mais liberdade depois que estava inserido fortemente nesse contexto, eu fui consagrado e então eu tive o poder de conduzir uma igreja”, relata.
Os desafios enfrentados por Thiago são muitos, ele alega que era mais respeitado e hoje encontra-se banalizado. “Hoje a pessoa se autodenomina pastor, bispo, tem muito pastor fazendo bobagem, besteira e esse é o principal desafio enfrentado. Quando abri a igreja falaram que era mais uma igreja para arrancar dinheiro do povo, e que não pagamos impostos, e é ao contrário, eu pago tudo de acordo com a lei”, desabafa.
A igreja
A igreja evangélica é dividida mais por dimensões pessoais do que por linhas teológicas. Os evangélicos também estão divididos em tradicional e pentecostal e dentro da linha de pensamento do cristianismo existem as seitas. A última fere o pilar da fé concernente e principalmente Cristo, Espírito Santo e a doutrina da salvação.
De acordo com o teólogo André, atualmente a igreja é altamente envolvida com a política, busca interesses pessoais, sociais, econômicos, antes a igreja não buscava nenhum desses interesses.
A igreja sempre, desde que ela nasceu teve duas faces, a face natural e a espiritual, a face que se mistura, que se corrompe, a face que faz a acepção de pessoas, a face que se vende é a natural, a espiritual é uma igreja dentro da outra, a espiritual nunca criou nenhuma mancha desde o dia que ela nasceu no calvário”, diz.
Na igreja evangélica há homens que detêm um poder na instituição ao ponto de se sentir livre para fazer o que desejar. A igreja primitiva, que foi a primeira a existir, não tinha esse tipo de atitudes por parte dos seus representantes.
Portanto a corrupção hoje é devida às questões administrativas e comportamentais. “A igreja que antes se importava em implantar o reino dos céus e anunciar Cristo a todas as pessoas, não está parecendo o grande alvo da igreja, continua o alvo, mas não é o único”, revela.
A igreja primitiva se importava com as questões sociais, que todas as pessoas fizessem e fossem parte do corpo da igreja e tivessem uma assistência para que não houvesse uma necessidade de fome, de vestes, ela era um corpo cuidando de si para cuidar de quem estava fora e sempre anunciava Cristo. Hoje pouco é visto, a falha está em focar coisas e não pessoas, como por exemplo, constrói grandes templos enquanto as pessoas passam dificuldades, isso é o que difere da igreja de antes e o que ela é hoje.
Mulheres conquistam espaço
O que acontece no mundo também reflete dentro da igreja, evolui com a sociedade. Assim como as mulheres estão conquistando seu espaço seja em uma empresa ou na política, as mulheres estão conquistando seu espaço na igreja e sendo reconhecida por todos.
Com isso, a mulher tem liberdade para fundar igrejas e ministérios. Mas isso depende das regras internas de cada igreja, ainda não são todas que estão dando essa liberdade, na Bíblia falam que somos todos iguais, mas a sociedade via a mulher como uma dona de casa, e hoje isso está evoluindo.
De acordo com os pastores, essa demora em dar espaço para uma mulher se tornar pastora, bispa ou apóstola foi devido a cultura do povo, e não uma lei da igreja. A mulher evolui em todos os aspectos e áreas e hoje tem liberdade para se tornar o que almeja.
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