Cotidiano

Os riscos da dieta sem glúten

Júlio Nasser

Publicado em 14 de abril de 2017 às 03:23 | Atualizado há 8 anos

Na última semana, durante uma reunião da associação americana do coração realizada em Portland, foi apresentado um novo estudo que descobriu que a adoção de uma dieta livre de ou com baixo teor de glúten pode aumentar o risco de desenvolver diabetes tipo 2. Desenvolvida na Universidade de Harvard, a pesquisa examinou 30 anos de dados médicos de 200 mil participantes e mostrou que aqueles que limitaram ou evitaram completamente a ingestão de glúten tinham uma chance 13% maior de desenvolver diabetes tipo 2.
“Queríamos determinar se o consumo de glúten afeta a saúde em pessoas sem razões médicas aparentes para evitar o glúten”, explicou Geng Zong, pesquisador da Escola de Saúde Pública de Harvard. “Os alimentos sem glúten muitas vezes têm menos fibra dietética e outros micronutrientes, tornando-os menos nutritivos, e também tendem a ter um custo mais alto”.
O glúten é uma proteína encontrada no trigo, centeio, cevada e outros grãos relacionados. É a proteína que a textura mastigável de pratos assados e a elasticidade no processo cozimento. Aqueles que são genuinamente intolerantes têm uma doença auto-imune conhecida como doença celíaca, em que seu sistema imunológico responde à proteína glúten atacando o intestino delgado. Apenas cerca de 1% da população é diagnosticada como celíaca.

Banco de dados

No estudo, os pesquisadores usaram dados do Nurses Health Study, no qual 199.794 pessoas responderam perguntas relacionadas a alimentos a cada dois a quatro anos. Eles descobriram que os participantes consumiam em média cerca de 6 a 7 gramas de glúten por dia. Durante o período de acompanhamento de 30 anos, 15.942 casos de diabetes tipo 2 foram diagnosticados.
O estudo constatou que aqueles que tinham uma maior ingestão de glúten – até 12 gramas por dia – eram menos propensos a desenvolver diabetes tipo 2. Aqueles que comeram menos da proteína também tiveram uma menor ingestão de fibra de cereais – conhecida por proteger contra o diabetes tipo 2. Quando analisaram o efeito protetor da fibra, descobriram que aqueles entre os nos 20% com maior consumo de glúten tinham 13% menos chance de desenvolver diabetes tipo 2, em comparação com aqueles que consumiram 4 gramas ou menos. “Pessoas sem doença celíaca podem reconsiderar limitar sua ingestão de glúten para a prevenção de doenças crônicas, especialmente o diabetes”, aconselha Zong.

Acompanhamento médico

Como aponta Katy Evans, do site IFLScience, apesar de não haver provas de que a adoção de uma dieta isenta de glúten tenha algum benefício para a saúde, as pessoas aparentemente ainda preferem seguir os conselhos de “blogueiros de saúde” ou “fitness”, já que a tendência de uma dieta “glúten free” ainda continua crescendo.
“No entanto, se você costuma sentir algum mal estar depois de consumir alimentos com glúten e acha que pode ter uma intolerância, procure um médico ou um nutricionista e faça o teste imediatamente”, explica ela. O auto-diagnóstico de sensibilidade ao glúten e a consequente remoção da proteína de sua dieta pode ser potencialmente prejudicial para celíacos não diagnosticados.
Isso porque para testar a intolerância, os médicos precisam estudar a dieta, o que não poderão fazer se o glúten já tenha sido removido dela. Além disso, sem um diagnóstico adequado, celíacos não diagnosticados são menos propensos a manter a dieta rigorosa de que precisam, arriscando a sua saúde, causando danos ao seu intestino e aumentando o risco de alguns tipos de câncer.

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