Agronegócio cresce, mas a um custo muito alto
Diário da Manhã
Publicado em 14 de junho de 2017 às 02:43 | Atualizado há 8 anosO crescimento de 13,4% do agronegócio no primeiro trimestre deste ano teve um custo muito alto para o país. O agronegócio é um modelo produtivo que envolve toda a cadeia da agrícola ou pecuária e está assentado na monocultura em extensas propriedades. A produção se dá em larga escala e é controlada por grandes empresas nacionais e transnacionais. O agronegócio utiliza tecnologia avançada e pouca mão de obra, sua produção é voltada principalmente para o mercado externo ou para as agroindústrias e com finalidade de lucro.
No Brasil, o agronegócio vive uma fase de glória e ascensão com o forte apoio do governo federal e do Congresso Nacional que estão afrouxando as leis ambientais e permitindo a ocupação de áreas até então preservadas para fins comerciais. Ao mesmo tempo, fecham os olhos para o uso de agrotóxico em quantidades muito acima dos níveis tolerados para o consumo humano, dizem amém ao desmatamento de florestas e à ocupação da Amazônia por conglomerados industriais.
As disputas pela terra passam pela matança de posseiros, como no caso recente do Pará, e terminam o processo de ocupação com o extermínio das comunidades indígenas e de sua cultura milenar; os índios são tidos como os maiores conhecedores da vida da floresta. Esse é o preço que estamos pagando pelo crescimento do agronegócio no PIB brasileiro.
Caminhando no sentido oposto ao do agronegócio, a agricultura familiar, ainda que a duras penas, tem crescido com o apoio das populações locais que se beneficiam da produção de alimentos das comunidades agrícolas. Trata-se de um modelo em que a produção é coletiva, geralmente administrada por cooperativas, e realizada por diversas famílias.
Diferentemente da agricultura e pecuária centrada na monocultura e distante da comunidade local, na agricultura familiar todos trabalham e vivem na terra. Os agricultores em sua maioria são beneficiários da reforma agrária e, contrariando o mito incutido na sociedade de que sem terra é gente desocupada, eles estão conseguindo produzir a maioria dos alimentos que chegam à mesa dos brasileiros.
Mesmo com todos esses atributos de cultivar alimentos saudáveis e de ser uma atividade com menor impacto ambiental, a agricultura familiar ainda caminha com enorme dificuldade. Há mais de uma legislatura presido a Comissão de Habitação, Reforma Agrária e Urbana da Assembleia Legislativa de Goiás e, volta e meia, temos que enfrentar retrocesso em conquistas que já dávamos por consolidadas. Esse é o caso recente da Fazenda Monjolo, no município de Turvelândia.
A comunidade de Monjolo abriga 160 famílias de agricultores sem terra, que há 20 anos ocupam a área, considerada massa falida e que está em demanda judicial. Uma ordem de reintegração de posse pegou a comunidade de surpresa e também a população de Turvelândia. Tivemos que promover uma audiência pública dia 1º de junho, em caráter de urgência, para receber os agricultores que vieram em busca de ajuda.
O auditório da Assembleia Legislativa ficou pequeno com a chegada de tantas famílias. Muitos deputados estiveram presentes e se sensibilizaram com a situação. Conseguimos a assinatura de 27 parlamentares no ofício que encaminhamos ao governador Marconi Perillo pedindo celeridade na solução agrária desse assentamento.
Tamanho apoio foi obtido diante das evidências da importância da agricultura familiar na região. Este ano, a produção na Fazenda Monjolo chegou a 90 mil sacas de soja de 60 quilos e 110 mil sacas de milho e sorgo; 40 mil litros de leite por mês, além do cultivo de hortaliça e frutas. A soja é destinada às empresas de biocombustível e o restante da produção é toda consumida em Turvelândia e cidades próximas como Porteirão e Maurilândia.
A agricultura familiar precisa ser incentivada pelo governo federal, estados e municípios, dada sua capacidade de gerar emprego, movimentar a cadeia produtiva dos pequenos negócios, fixar o trabalhador na terra e promover sua inclusão social por meio de uma agricultura que produza alimentos de maneira ecológica e socialmente justa, para atender a uma população cada vez mais consciente e preocupada com sua saúde e a saúde do planeta.
(Isaura Lemos, deputada, presidenta do PCdoB Goiás)
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