Extraordinário
Diário da Manhã
Publicado em 5 de dezembro de 2017 às 22:52 | Atualizado há 1 semanaHá filmes cuja intenção é nos fazer rir (comédia). Já outros buscam nos empolgar através de explosões e correria (ação). E há aqueles que são idealizados e construídos, segundo após segundos, para nos fazer chorar. O drama, em sua essência, traz uma ideia subentendida de algo triste e emocionante. Mas em meio aos dramas, existem certos tipos de filmes que não fazem questão de esconder sua intenção resoluta de levar o público às lágrimas. Não vejo problema nisso. Alguns críticos usam esta característica para falar mal do projeto – como, por exemplo, aconteceu com Cavalo de Guerra, de Steven Spielberg, mas que considero maravilhoso. Quando bem feito, e com o uso correto do melodrama, o resultado são obras singelas e tocantes como este Extraordinário, que encontra na simplicidade de sua história momentos poderosos que conquistam em absoluto o público.
Extraordinário possui um pouco de muitos elementos dos intitulados “filmes de chorar”. A trama central é a história de um menino com deformidade que precisa ir para a escola e enfrentar o bullying. Mas também tem o momento triste com o cachorro, ou a irmã mais velha relegada ao escanteio por causa da deformidade do irmão – e que suga toda a atenção dos pais –, a amiga da família que se afasta por problemas de autoestima e outros núcleos narrativos que compõem o roteiro de Steve Conrad, Jack Thorne e do próprio diretor, Stephen Chbosky – que adapta o livro homônimo escrito pela norte-americana R. J Palacio –, cujas obras sempre envolvem temas sobre família e problemas da infância ou adolescência.
A direção de Chbosky – do excelente As Vantagens de Ser Invisível – faz o essencial em favor da narrativa para conseguir obter as lágrimas almejadas do público. É delicada, sutil e o roteiro é tão suave na concepção dos conflitos, que se não é imprevisível, consegue ser eficiente ao tornar os personagens interessantes. Méritos também aos atores. Jacob Tremblay – magistral no ótimo O Quarto de Jack – é um gigante em cena. Se não escolher caminhos errados, tem tudo para ser um dos grandes nomes de Hollywood. Talento e carisma tem em abundância. O mesmo para os veteranos Julia Roberts (a mãe) e Owen Wilson (o pai) – um deleite juntos.
Extraordinário é o básico feito com aptidão e coração. Não é um filme para mudar paradigmas ou concorrer ao Oscar do ano. Mas é uma obra nitidamente realizada com carinho, amor e sinceridade. É o tipo de filme que precisamos de vez em quando. Necessário para nos lembrar da importância de valorizar quem amamos e mantê-los perto. O extraordinário aqui é o simples fato de existir e ter a oportunidade de amar. De estar junto e passar pelas dificuldades com quem nos valoriza e não nos julga pela aparência. Infelizmente, o mundo tem perdido este extraordinário. E por causa disso, Extraordinário é extraordinariamente essencial para todos aqueles que se dizem seres humanos.
(Matthew Vilela, jornalista, comentarista de cinema do Diário da Manhã e do blog “Blog do Matthew”)
]]>