Opinião

As duas listas

Diário da Manhã

Publicado em 18 de março de 2017 às 02:27 | Atualizado há 8 anos

São duas listas famosas. A de Oskar Schindler – que salvou judeus, na Segunda Guerra, evitando que morressem nos campos de concentração. E a do Procurador Geral da República, Rodrigo Janot – que terça-feira entregou, ao Supremo, relação dos nomes citados por 78 delatores da Odebrecht. Impossível resistir à tentação de comparar as duas.

  • A Lista de Schindler é de 1944. A Lista de Janot é de 2017.
  • A de Schindler tinha 13 páginas. A de Janot está em 10 caixas de papelão.
  • A de Schindler tinha 1.200 nomes. A de Janot 294.
  • Os judeus de Schindler estavam em suas fábricas das atuais Polônia e República Checa. Os nomes de Janot estão, quase todos, em Brasília.
  • A de Schindler queria salvar vidas. A de Janot quer por ladrões na cadeia.
  • Os judeus de Schindler iriam para os Campos de Concentração de Auschwitz-Birkenau, Belzec, Gross, Plaszow. Os nomes de Janot correm o risco de ir para prisões comuns de Curitiba e Brasilia.
  • Schindler chamava seus judeus pelo nome. Enquanto aqueles da lista de Janot têm, quase todos, codinomes – como bandidos rasteiros de subúrbio, desses fichados todos os dias pela polícia.
  • A lista de Schindler funcionou porque ele vivia corrompendo oficiais da Schutzstaffel (SS) e da Wehrmacht – Bankier, Göth, Höb. Já na de Janot, o nome disso era Caixa 2.
  • Os salários dos judeus de Schindler lhe custavam pouco. Os subornados, na lista de Janot, cobravam os olhos da cara.
  • Salvaram-se, na lista de Schindler, apenas judeus. Na de Janot, estão tentando se salvar tantos que são, ou que foram, deputados e senadores (muitos), ministros (5), ex-governadores (10), ex-presidentes (2), intermediários e grandes empresários (também muitos). Sem contar que, até fins de 2016, havia já 357 inquéritos autorizados, e 103 ações penais, contra políticos com mandato.
  • Os nomes de Schindler sabiam que podiam morrer a qualquer momento. Os de Janot se consideram super-homens, acima do bem e do mal.
  • Schindler e sua mulher, Emile Pelzl, em 1949 foram morar na Argentina. Alguém sabe onde vão se esconder os nomes de Janot, depois que deixarem as prisões?.
  • Voltando à Alemanha, em 1963, Schindler foi a falência. Irão à falência algumas das empreiteiras nomeadas na lista de Janot?
  • Schindler viveu seu fim de vida sustentado pelos Schindlerjuden (judeus de Schindler). Quem sustenta, hoje, alguns dos nomes da lista de Janot?. E quem vai sustenta-los?, depois.
  • A lista de Schindler acabou indo, em 2009, para a Biblioteca Estatal de Nova Gales do Sul (Austrália). A de Janot fez viagem bem menor – da Procuradoria Geral da República até o Supremo. Menos de um quilômetro.

O poeta português Ary dos Santos começa poema (“O objeto”), dizendo: Há que dizer-se das coisas / O somenos (de menor importância) que elas são / Se for um copo é um copo / Se for um cão é um cão. Nessa linha, há que dizer-se que os nomes da Lista de Schindler são pessoas que merecem, de todos nós, homenagem e respeito. Os da Lista de Janot, não.

José Paulo Cavalcanti Filho, advogado

 

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