Como o Estado brasileiro vem engambelando a população em questões de segurança
Diário da Manhã
Publicado em 17 de março de 2017 às 02:16 | Atualizado há 8 anosOntem, um casal de vizinhos ( no caso meu irmão ) foi assaltado no setor Jaó, o bairro que , em termos relativos, mais paga imposto em Goiânia. Colocaram revólver na cabeça até de uma criança de 2 anos de idade. A mãe está psiquiatricamente traumatizada. Três rapazes, que se diziam “noiados” ( drogados ), arrombaram o portão, levaram um carro. Eu já disse aqui, nos meus artigos, que essa população de criminosos psicopatas drogados precisava ficar reclusa – antes eles do que nós – mas juízes de execução penal no Brasil parecem pensar diferente, pois , depois das rebeliões mortais nos presídios, estão fazendo mutirões é para libertar presos…
Há mais ou menos 25 anos, eu caí na besteira de participar de uma dessas “pseudo-reuniões de segurança nos bairros”. Na ocasião, diante de mais um projeto mirabolante de segurança para o Jaó, eu levantei na reunião e disse que a única solução que eu via para o problema era , na falência do Estado, a contratação de “milícias particulares”, que é o nome real – apesar de mais “pesado” – para aqueles guardas particulares , p.ex., “guarda-noite”, que a gente tem de contratar para vigiar a gente ( se os moradores colocassem um motoqueiro o dia todo para rodar o bairro e identificar suspeitos, segui-los, alertar, notificar e espantar criminosos, o problema estaria resolvido – mas é claro, isso o Estado não deixa fazer pois quer a “prerrogativa da segurança” dentro daquele mecanismo de “criar dificuldades para vender soluções” ) . Sabendo que aqueles planos mirabolantes nunca iriam dar em nada , como esse assalto à luz do dia mostra bem , tratei logo de contratar uma milícia dessa e, com a graça de Deus, nunca fui assaltado ( além do meu guarda-noite é por graça de Deus mesmo ).
Quando eu falei isso na reunião de segurança, quase acabaram comigo, levantei-me e nunca mais voltei. Mas a proposta deles, depois repetida em muitas outras, era de “fechar o bairro” ( coisa que nunca foi feita ), depois a de “comprar motos para a polícia” ( não deu em nada ), depois “comprar carros” ( não deu em nada ), depois “colocar um caro sistema de câmeras de vigilância” (não deu em nada ), etc. Uma das causas principais por não ter dado em nada ? Porque cada um desses sistemas tinha de confiar no Estado e seus mecanismos para operacionalizar o sistema. E aí , meu caro, quando entra o Governo, você sabe que não vai dar em nada mesmo… ( exceto para a arrecadação, não há uma área na qual ele funciona, todos sabem ).
Depois desse ocorrido na reunião, fui informado de que as tais reuniões eram comandadas por um oficial militar da polícia, e que provavelmente haveria interesses eleitorais nisso, pois seu filho iria, em breve, lançar-se como político. O que de fato ocorreu, não sei se por coincidência.
O que fica claro é o conluio do Estado, por meio de seus “representantes”, p.ex., polícia, políticos, que, para a população, dizem que “vão resolver o problema”, de modo legal, oficial, mas não resolvem nada.
O problema maior ainda é que a população não tem crítica disso, aceita tudo como burrinho de presério, não faz uma auto-crítica ou um “mea culpa”. Por exemplo, nunca vi ninguém de meu bairro vir a público e denunciar essa engambelação toda, que já dura quase 30 anos. Nenhum dos inúmeros e mirabolantes projetos de segurança (repetindo, todos tendo como efetor principal a “autoridade pública”) demonstraram efetividade empírica.
Aceitamos passivamente sermos cada vez mais asfixiados por impostos, leis, regras do Estado sobre nós, e sem o mínimo retorno – ou melhor, com cada vez menos retornos.
O único retorno que temos é aquele de uma coronhada na cabeça.
(Marcelo Caixeta, médico, especializado em psiquiatria criminal (forense ))
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