Substantivo feminino
Diário da Manhã
Publicado em 8 de março de 2017 às 02:48 | Atualizado há 8 anos“Esse negócio de mulher às vezes tem dificuldade de vingar”, a frase dita há quase 40 anos, por Elis Regina, ao comentar, com a jornalista Marilia Gabriela, o sucesso de um programa de TV especial para mulheres, pode ser repetida hoje, muitas vezes, à exaustão. Difícil de vingar, dificil de avançar.
Na semana que antecedeu o Dia Internacional da Mulher, dois fatos chamaram a atenção: o caso mal contato de Poliana, mulher de Vitor, da dupla Vitor e Leo. E a liberdade concedida pelo Supremo Tribunal Federal ao goleiro Bruno, condenado por um juri popular pelo assassinato da ex-amante Eliza Samudio. Livre, Bruno posou para selfies na porta do tribunal. Com fãs.
Retrocesso.
Bruno, segundo seu advogado, já tem nove propostas de clubes para voltar aos gramados. Como se não houvesse amanhã, ou ontem, Bruno vai aguardar em liberdade o julgamento de recursos, provavelmente jogando num clube de elite. Cumpriu apenas 7 dos 22 anos de sua pena.
Poliana escolheu uma delegacia de polícia para contar sua historia. Relatou aos escreventes que apanhou de Vitor, caiu no chão, foi chutada por ele, na presença da cunhada e de um segurança do cantor. Horas depois, tentou convencer a polícia de que tudo não passou de mal entendido. Era mentira? Será, Poliana?
A mulher de Vitor, com tanta exposição de mídia, imitou caso recente de um candidato à prefeitura do Rio de Janeiro, apadrinhado pelo ex-prefeito Eduardo Paes. Depois de denunciar o então marido, com provas de corpo de delito, a ex-mulher voltou atrás, e, durante a campanha eleitoral, desmentiu o fato. Pedro Paulo, o candidato, perdeu feio.
Mais uma vez, venceu a cultura do silêncio. Milhares, milhões de mulheres continuam apanhando. Caladas. Avanços aconteceram, sem dúvida. A Lei Maria da Penha, de 2006, é um marco nessa história tenebrosa. Mas ainda hoje, o Brasil ostenta o 5o. lugar no ranking mundial desse tipo de crime. Hoje, há uma denúncia de violência contra mulheres a cada 7 minutos.
E quando se vê essas estatísticas, que escancaram a realidade, é impossível não pensar: há décadas, fala-se a mesma coisa. Elis tinha toda razão. Como é dificil vingar esse negócio. Como é difícil combater a violência quando a justiça não é feita ou quando as próprias vítimas decidem proteger seus algozes.
Mirian Guaraciaba, jornalista
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