Quem é você na política?
Diário da Manhã
Publicado em 1 de março de 2017 às 00:54 | Atualizado há 8 anos“O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia política”
Participar da vida pública é decidir os rumos que a sua vida pode tomar. Boa ou ruim, a sua vida em casa, no trabalho, na igreja, na rua, no ônibus, no carro, morto no cemitério, seja lá onde for, dependerá de decisões políticas. Por isso mesmo precisamos participar, votar certo e dar opiniões. Ninguém é tão passivo ao ponto de permitir que alguém lhe transforme em uma marionete, não é mesmo?
Bertolt Brecht foi muitíssimo feliz ao escrever as seguintes palavras: “O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas. O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas [e órgãos] nacionais e multinacionais”.
A política têm três lados: 1) o lado dos que fazem política, ou seja, aqueles que foram eleitos; 3) o lado dos que participam da política, seja ela direta ou indiretamente; e o lado dos que dizem odiar política. No primeiro caso, essas pessoas conseguem, através de seus bons feitios sociais. No segundo, são cidadãos que exercem o fundamental papel de cidadania.
Entende-se por cidadania, o conjunto de direitos e deveres numa sociedade aonde indivíduos partilham da mesma ideia – ou divergem, mas mesmo assim, conseguem viver entre si. Cidadania é quando participamos ativamente da elaboração e execução das leis, que traz o sentido de democracia. Já no terceiro caso, ilustro a parcela das pessoas que simplesmente dizem não gostar de política. Explico.
Várias são as justificativas superficiais que permeiam esse discurso. Corrupção é a maior delas, que leva grande parte da população acreditar que todos os políticos encontram-se em conluio com o crime de corrupção. O que não é verdade.
Desde que a História tem ciência sobre a comunidade homo sapiens sapiens (que somos nós, seres humanos) é possível encontrar gente que se empenha ao exercício de cometer erros e permanecerem neles, prejudicando aqueles que sequer conhecem o desejo de praticar atos profanos. Isso revela que a ignorância da generalização nos faz imaturos e ingênuos, sedentos de uma boa dose de conhecimento político e outras coisas mais. Onde têm seres humanos, tem corrupção. Mas acredite, há trigo no meio do joio!
Não é bonito ser burro estufando o peito, destilando o quanto não gosta de política. Bonito é se posicionar contra tudo que há de errado, levantando críticas, observando e fazendo com que as leis sejam cumpridas. Sendo cidadão, cobrando e fiscalizando o Poder Público. Platão, com seus raios de sabedoria e inteligência disse que “não há nada de errado com aqueles que não gostam de política” e completa, “simplesmente serão governados por aqueles que gostam”.
É daqui que devemos reunir esforços e motivações pessoais para se ingressar na vida política. Vida política aqui não é exercendo cargos no Poder Público. A vida política é fazer cumprir o está escrito na Carta Magna em seu artigo 1º, parágrafo único: “todo poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”.
Mário Sergio Cortella e Renato Janine Ribeiro, grandes pensadores contemporâneos brasileiros, demonstram no livro “Política para não ser idiota”, que “esse termo aparece em comentários indignados, cada vez mais frequentes no Brasil, como ‘política é coisa de idiota’. O que podemos constatar é que acabou se invertendo o conceito original de idiota, pois a expressão idiotés, em grego, significa aquele que só vive a vida privada, que recusa a política, que diz não à política. O que se fez foi um sequestro semântico, uma inversão do que seria o sentido original de idiota. A expressão generalizada é: ‘não me meto em política’ ou ‘odeio política’.”
Aristóteles definia, na Grécia Antiga, nos moldes da democracia ateniense que “o homem é um animal político” e quem vive fora da Pólis, que significa cidade, é um ser degradado. Ainda segundo ele, animal político é o homem livre que goza de direitos naturais por sua competência, enquanto os homens de pouco intelecto são aptos apenas para obedecer.
Na democracia ateniense, todos tinham direito a palavra, a igualdade perante a lei e a igual participação no exercício do Poder. A Ágora era uma grande Praça em Atenas e possuía papel de suma importância na configuração da democracia daquela época, sendo o local, por excelência onde os cidadãos manifestavam a sua opinião publicamente.
Atualmente, como isso é possível? Os locais por excelência no Brasil são as Câmaras Municipais, as Assembleias Legislativas, Câmara Legislativa, no caso do DF, a Câmara e o Senado Federal, onde as sessões são abertas ao público e seus portais na internet dão a liberdade de os cidadãos emitirem opiniões, sugerirem ideias e propor projetos de lei de acordo as regras da legislação. Os legisladores são, feliz ou infelizmente, a nossa voz, a voz do povo e é no legislativo que acontece o diálogo, o debate e as discussões para deliberar, em tese, o que é de interesse público.
No Estado Democrático de Direito em que vivemos – sendo ou aprendendo a ser –, inúmeros são os direitos que os cidadãos têm, mas não usam, sabe por quê? Porque não gostam de política. Política é para os fortes e para os fracos, pois é nela que descobrimos quem somos, de onde vimos, para onde vamos e o melhor, como vamos. Quem é você na política?
(Kayro Ribeiro é estudante de jornalismo, assessor legislativo, escritor e crítico político)
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