Trump, da diplomacia à ação entre amigos
Diário da Manhã
Publicado em 1 de março de 2017 às 00:48 | Atualizado há 8 anosÉ embalde que se procura um ponto final na devastação da política externa americana de Donald Trump. O presidente troca qualquer tratado ou nova convenção pelos telefonemas diretos com alguns protagonistas distintos, permanecendo em segredo o discutido, como se viu com Putin.
É pontual e sucessiva uma nova confrontação, qual a dessa com o México, ampliada pela denúncia do Tratado do Pacífico – conquista fundamental como parte do avanço da globalização. Vai-se a um corpo a corpo verbal, como ora registrado com o presidente Trudeau, do Canadá, no concernente às restrições às imigrações nos dois países. Os novos acordos, por outro lado, com o Japão vão ter, de imediato, o seu impacto sobre a China e as duas Coreias. E, de logo, vem a interrogação da indiscutível “volta atrás” anunciada nas relações com Cuba e Irã, ambas frutos do enorme esforço no fim do governo Obama. A gravidade maior de todos esses espantos, entretanto, é a do inevitável abalo com Israel, onde décadas de acordo com o Estado Palestino se dissolvem, tanto Trump corrompe a teoria dos dois Estados, e a terá à reação do governo árabe. É uma verdadeira dissolução das constantes de uma diplomacia que se transforma, agora, numa ação entre amigos, para a qual, inclusive, o presidente, de maneira cada vez mais casual e inesperada, prepara as surpresas do “dia seguinte”.
Dentro do país, nos primeiros dias de Trump, não se evidenciou uma imediata guerra de etnias. Mas só cresce a política de remoção muçulmana, reforçada após os primeiros movimentos, para todo imigrante que não demonstrar a legalidade de seu ingresso no território há menos de dois anos. Significativamente, por outro lado, Trump solidarizou-se contra todo atentado às comunidades judaicas, do vandalismo dos cemitérios às ameaças de bombas, em 27 estados americanos.
Só estamos no começo, também, da discriminação das alianças do presidente com as nações europeias, do apoio ao Brexit até as ressalvas, a partir da Alemanha, às políticas de imigração africanas e do Oriente Médio.
O que esmaece, de vez, nestes dias, é todo o precedente de alianças, na prévia moção internacional do país. Nos novos jogos da globalização, a indeterminação, de saída, de Trump torna-se um trunfo equívoco, num mundo de após a Guerra Fria e a expansão do Isis.
(Candido Mendes, Membro do Conselho das Nações Unidas para a Aliança das Civilizações, da Academia Brasileira de Letras e da Comissão Brasileira Justiça e Paz)
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