Opinião

O novo e o velho no balcão da política

Diário da Manhã

Publicado em 21 de fevereiro de 2017 às 02:24 | Atualizado há 8 anos

O novo e o velho voltam a marcar um encontro na esquina da política, a 20 meses do pleito eleitoral de 2018. Os dois adjetivos são recorrentemente lembrados toda vez que aparece pesquisa de opinião sobre eventuais contendores da luta que se travará pela disputa do futuro comando do país. (A propósito, esta última pesquisa CNT/MDA passou a ser o centro das especulações).

Para começo de conversa, posicionar candidatos no ranking de favoritos a tanta lonjura das próximas eleições presidenciais, não passa de exercício de prestidigitação, um desperdício, uma encenação de firulas diante das incertezas sobre os horizontes do amanhã.

O que se pode garantir, de antemão, é que um intenso sentimento de mudança permeia a comunidade política, a denotar o esgotamento de velhos costumes e perfis antiquados, particularmente aqueles inclinados a defender os padrões de nossa democracia representativa.

Por consequência, o desejo de alterar as regras do jogo político aponta para perfis vestidos com o terno do “novo”, que aqui ganha aspas pela dubiedade inerente ao conceito que o termo apresenta no dicionário da política.

Afinal, o que significa “novo”? Há o “novo” que transita exclusivamente na faixa etária, sem se identificar com mudanças ou reformas na política; e há o “novo”, cuja estampa combina estética e semântica, de modo a compatibilizar a jovialidade do perfil com padrões éticos e morais, modelos avançados de gestão, espírito cívico e efetiva vontade de servir à sociedade e não de se servir da política. Esse é o tipo buscado pelo eleitor.

Podemos, até, identificar personagens que se aproximem dessa modelagem, como João Dória, o prefeito de São Paulo, cujo discurso centrado na gestão de resultados empolgou o eleitorado. Mas é praticamente impossível designar A, B ou C como estilos integralmente identificados como “novos”, eis que a viabilidade político-eleitoral é fruto das obsoletas práticas: acordos partidários, cooptação de apoio por via de recompensas, repartição do bolo do poder entre aliados etc.

Vista a dificuldade de se acreditar que um ator político no Brasil possa encarnar o conceito de novidade, se os entes partidários continuam pasteurizados, sem ideologia ou doutrina, que arquitetura poderia abrigar os mais assépticos?

Tentemos alinhar os elementos dessa edificação, a começar pela imagem do novo, figura não comprometida com a velha política, espírito arejado, porém não aventureiro.

A seguir, emergem os quadros que expressam autoridade. A desorganização institucional, a violência desmesurada, a deterioração de valores, a falta de cumprimento de leis provocam indignação.

Os cidadãos exigem ordenamento, disciplina, atendimento aos direitos fundamentais. Tais demandas convergem para figurantes com autoridade, alguém que simbolize a figura do pai protetor da família.

A experiência bem-sucedida de vida é também importante. Nesse caso, trata-se de um contraponto ao improviso, ao imprevisível e ao inusitado. O estilo vitorioso do empreendedor parece apropriado ao momento. Equilíbrio e bom senso são valores que transmitem segurança. Pessoas destemperadas, que ameaçam virar a mesa, diminuem seus cacifes. Amedrontam.

O despojamento, ou seja, a bondade e a simplicidade, com desapego às coisas materiais, serão bem vistas. A organização e o controle mostram atenção com os orçamentos, gastos sob a régua das prioridades. A jovialidade será um ponto a mais, pela perspectiva do personagem se mostrar arrojado. A coragem de fazer coisas que pareciam impossíveis: é isso que se exige.

Os novos desafios estão a exigir posturas fortes, determinadas, capazes de vencer as intempéries. Preguiçosos não terão vez.

Quem caberia bem nessa vestimenta para 2018? É difícil enxergar qualquer um dos eventuais postulantes com a vestimenta. Lula? Representa o populismo. É um palanqueiro eficiente, sem dúvida, mas alquebrado pela tempestade que se abateu sobre o PT; que, mais adiante, poderá inviabilizá-lo. O brilho carismático que ainda o envolve deverá ser ofuscado pela devastação que tomou conta do país. O legado do primeiro mandato de Lula será esmaecido pela derrocada do dilmismo.

Jair Bolsonaro, o militar de extrema direita, encarnaria o novo? Jamais. Trata-se da imagem mais definida do conservadorismo e dos anos de chumbo do arbítrio. A bandeira da cacetada só entusiasma plateias especificas.

Aécio Neves? O senador é a extensão da mineirice, sinônimo de raposismo na política. Pode ter uma cara mais jovial, mas que ideias avançadas colam em sua imagem?

Geraldo Alckmin? Da mesma forma, não significaria novidade. Poderia arrastar para si a boa avaliação de seu governo.

Marina Silva? Identifica-se com compromissos éticos e morais, sem dúvida, mas exibiria um déficit de autoridade.

A economia puxará o trem

Quaisquer   que sejam os postulantes de 2018, cada um deverá se apresentar “plastificado”, redesenhado com a tintura do momento. Vale lembrar que o caminho do “novo”, seja o legítimo ou o renovado, deverá ser pavimentado com a argamassa da economia. Expliquemos.

Os indivíduos tendem a decidir de acordo com seus instintos. Dois deles têm muita ligação com a política: os instintos combativo e nutritivo.  O primeiro se relaciona à luta do dia a dia. A luta pelo emprego, pelo bem-estar. O segundo diz respeito ao estômago.

Acesso ao consumo. Comida na geladeira. Donde tiro minha equação: BO+BA+CO+CA= Bolso cheio, Barriga satisfeita, Coração agradecido, Cabeça disposta a votar em quem proporcionou a melhoria. Os dois instintos dependem, portanto, da economia. Portanto, a locomotiva econômica é quem puxará os carros do trem e seus passageiros.

O perfil mais forte para enfrentar o futuro será aquele que melhor se identificar com os dois impulsos humanos. Há um oceano a passar por baixo da ponte até outubro de 2018.

Em suma, apesar de o “novo” ter a qualidade do imã – atrair o interesse das massas – o velho identificado com melhoria de vida do povo também tem vez. Na política, tudo é possível. Ainda mais nesses tempos em que os “novos” envelhecem cada vez mais cedo.

 

Gaudêncio Torquato, jornalista, professor titular da USP, consultor político e de comunicação

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