Opinião

Mensalão IV – o julgamento do maior caso de corrupção da história política do Brasil

Júlio Nasser

Publicado em 14 de abril de 2017 às 03:18 | Atualizado há 8 anos

A palavra ‘mensalão’ ganhou as páginas dos principais jornais do País. Afinado com a estratégia de seu partido, o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, do PSDB, afirmou que ‘Lula não é Collor’, e que a biografia do presidente merece ser respeitada. A CCJ discutiu a constitucionalidade da CPI dos Correios, em reunião tumultuada que terminaria na noite do dia seguinte. Parlamentares do PT passaram a apoiar a CPI, desde que ela ficasse restrita aos Correios. Para contornar a crise crônica que envolve o governo, Lula e o PT tomaram uma série de providências, como trocar diretores de estatais envolvidos nas acusações, negociar a saída de Delúbio Soares do cargo de Tesoureiro do partido, e apressar o trabalho da Polícia Federal, para que os resultados saiam antes da instalação da CPI dos Correios. Internamente, a cúpula do governo passou a se preocupar com o projeto de reeleição de Lula. À noite, em discurso de abertura do 4.o Fórum Global de Combate à Corrupção, o presidente Lula fez duro discurso, e afirmou que, se for preciso, ‘cortará na própria carne.
8. Recluso em seu apartamento, Roberto Jefferson é flagrado cantando as músicas ‘Con te partiró’ e ‘Torna a Surriento’. Com base em representação do PL, o Conselho de Ética da Câmara dos Deputados instaurou processo de cassação do mandato de Roberto Jefferson. No Senado, o requerimento para a criação da CPI do Mensalão já tem as 27 assinaturas necessárias. Na Câmara dos Deputados, pouco menos da metade. Conforme o prazo dado pelo presidente do Senado, partidos governistas indicaram os nomes para compor a CPI dos Correios, instalada no Congresso Nacional. Dos seus integrantes, 19 são da base governista contra 13 membros da oposição. O nome mais cotado para presidir a Comissão é o do Deputado petista Jorge Bittar. Deputados do PT começaram a recolher assinaturas para a criação da CPI da Compra de Votos, que investigaria, além do ‘mensalão’, as acusações de suborno a parlamentares que aprovaram a Emenda da Reeleição, em 1997, no final do primeiro mandato de FHC.  Em entrevista coletiva no Diretório do PT, em São Paulo, Delúbio Soares se defendeu das acusações de corrupção. O PT confirmou a permanência do Tesoureiro na Executiva Nacional do partido, ao contrário do que queria, o presidente Lula.
9. Em sessão tumultuada, presidida pelo Senador Jefferson Peres, do PDT, é instalada a CPI dos Correios. A base governista indicou o senador petista Delcídio do Amaral como seu presidente, e o deputado Osmar Serraglio, do PMDB, como Relator. Os Aliados tem maioria na Comissão.
10. Tarso Genro, Ministro da Educação e membro do PT, defendeu a manutenção do PTB na base do governo, e ampliação das alianças, com aumento de espaço para o PMDB.
11. Em nova entrevista, publicada pela ‘Folha de São Paulo’, Roberto Jefferson afirmou que o dinheiro que, supostamento, era distribuído a Deputados, sob a coordenação do Tesoureiro do PT, Delúbio Soares, chegava a Brasília(DF) em malas trazidas por duas operadoras do ‘mensalão’: Marcos Valério, publicitário de Minas Gerais, e José Janene, líder do PP, na Câmara dos Deputados.
12. Programa partidário no rádio e na TV do PT paulista afirmou que Lula é vítima da ‘mesma campanha suja que fizeram com Marta Suplicy, em São Paulo.
13. No programa ‘Café da Manhã com o presidente’, dia 13, Lula afirmou estar indignado com os casos de desvio de recursos públicos, e disse que seu governo não deixaria ‘pedra sobre pedra’. Dia 14, o Senador petista Delcídio do Amaral desistiu da indicação de seu partido para que ele ocupasse a presidência da CPI dos Correios. De acordo com o Senador, ele sofreu restrições ‘para presidir uma CPI considerada ‘Chapa Branca’.  A Revista ‘Istoé Dinheiro’ publicou entrevista com ex-secretária de Marcos Valério, Fernanda Karina Somaggio. Segundo ela, os contatos de Valério no PT, incluíam Delúbio Soares, José Genoino, presidente do partido, e Sílvio Pereira, Secretário-Geral da legenda. A ex-secretária também confirmou ter visto ‘malas de dinheiro’, e que os recursos, na maioria das vezes, eram retirados do Banco Rural. Em depoimento à Comissão de Ética da Câmara, Roberto Jefferson detalhou o funcionamento do esquema do ‘mensalão’. A sessão foi longa e marcada pelo embate entre Roberto Jefferson e alguns dos Acusados por ele, que estavam presentes àquela sessão.
15. A Bancada do PT, no Senado, pediu a saída de Delúbio Soares do cargo que ocupava no partido, o todo-poderoso Tesoureiro. Waldir Pires, Ministro-Chefe da Controladoria Geral da União, afirmou que o Brasil vivia, então, um clima parecido com 1964: ‘Eu vivi alguns instantes em governos que pretendiam mudar a natureza das coisas para atender uma sociedade mais decente e mais justa; vi, também, tombarem as regras, as normas e a vida da Democracia’.
Após veemente apelo do presidente Lula, Delcídio do Amaral voltou atrás, e aceitou disputar o cargo de presidente da CPI dos Correios, para o qual foi eleito por 17 votos a 15. A Base Governista elegeu Osmar Serraglio para Relator. O Senador Delcídio do Amaral derrotou o Senador César Borges, do PFL, lançado pela oposição. A CPI dos Correios tinha, a essa altura, mais de 80 requerimentos de convocação e de quebra de sigilo fiscal, bancário e telefônico. O Relator se declarou favorável à quebra de sigilo do Tesoureiro do PT e do Presidente do PTB. Para Osmar Serraglio, a CPI deverá iniciar seus trabalhos tomando os depoimentos dos Diretores dos Correios e do Deputado Roberto Jefferson.
Os presidentes do Senado, Renan Calheiros, e da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti, decidiram votar, na semana subseqüente, na Comissão de Constituição e Justiça, da Câmara, o Projeto de Reforma política. O financiamento público de Campanhas estaria entre os principais tópicos da referida Reforma.
16. Dia 16, José Dirceu deixou o Ministério da Casa Civil, e reassumiu o cargo de Deputado Federal. No discurso de despedida, afirmou, peremptório: ‘Tenho as mãos limpas, o coração sem amargura, e a mente sempre colocada naquilo por que sempre lutei, que é o Brasil, pelo povo brasileiro. Por isso, saio de cabeça erguida do Ministério. Quero repetir que continuo no governo como Deputado da Base de Sustentação do governo, porque sou do PT”.
17. A ‘Datafolha’ divulgou pesquisa em que mostrou piora na imagem do Congresso Nacional, e indicava que Lula seria reeleito no segundo turno das eleições presidenciais. Na simulação com o Prefeito de São Paulo, José Serra, do PSDB, Lula ganharia por 46% a 40%. O IBOPE divulgou pesquisa em que apontou aumento de 5% no número de pessoas que consideram o governo Lula ruim ou péssimo.
Roberto Jefferson se licenciou do cargo de presidente do PTB.
19. Em entrevista ao ‘Fantástico’, na TV Globo, Maria Christina Mendes Caldeira acusou o ex-marido, Deputado Valdemar Costa Neto, presidente do PL, e o tesoureiro do PT, Delúbio Soares, de negociarem uma doação do governo de Taiwan para a Campanha de Lula de 2002.
O jornal ‘O Globo’ publicou reportagem em que revelou que Emerson Elói Palmieri, tesoureiro informal do PTB, teria recebido, junto com Roberto Jefferson, Cr$4.OOO.000,00 do publicitário Marcos Valério. Esse valor teria sido enviado pelo PT, e faria parte de um montante de Cr 20.000.000,00 que o partido teria distribuído ao PTB, na eleição de 2004.
Dia 21, Dilma Rousseff, Ministra das Minas e Energia, tomou posse na Casa Civil, substituindo José Dirceu, que saúda a ‘camarada de armas’, na cerimônia de transmissão de cargo.
Em depoimento à CPI dos Correios, com duração de dois dias, o ex-diretor dos Correios, Maurício Marinho, disse ser um ‘bode expiatório’. Marinho fez ataques diretos à cúpula do governo, e levantou suspeita em relação a vários contratos dos Correios
Em depoimento à Polícia Federal, Fernanda Somaggio afirmou que foi ameaçada após a entrevista à ‘IstoÉ Dinheiro’.
Geraldo Alckmin disse que a crise do ‘mensalão’ provoca um ‘encurtamento’ do governo Lula.
Dia 22. Em discurso na Câmara, Dirceu não citou Roberto Jefferson, nem as acusações de mensalão, e revela querer governar o Estado de São Paulo.
Dia 23. Onze dias depois de ser acusado por Roberto Jefferson de ser um dos operadores do ‘mensalão’, Marcos Valério concedeu entrevista ao ‘Jornal Nacional’, da ‘TV Globo’, em que negou as acusações, e disse nunca ter ouvido sobre mesada paga a parlamentares.
Maurício Marinho se calou em depoimento à Polícia Federal, e condicionou sua fala à concessão do benefício da delação premiada.
Em pronunciamento oficial em cadeia de rádio e televisão, Lula afirmou que a corrupção é ‘uma grande vergonha para o povo brasileiro’. O presidente insistiu em que a corrupção não aumentou no País. Segundo ele, ‘o que aumentou, e muito, foi o combater à corrupção’.
24. Reportagem da revista ‘Istoé’ mostrou saques milionários das empresas de Marcos Valério, no Banco Rural. O publicitário afirmaria, mais tarde, que os Cr$ 21milhões eram para compra de gado. Lula ofereceu os Ministérios de Minas e Energia, Integração Nacional, Saúde e Cidades, ao PMDB, na tentativa de ampliar a base de apoio ao governo, e superar a crise política.
27. A CPI começou a investigar os saques de Valério, no Banco Rural. Dividido, o PMDB recusou mais cargos no governo Lula.
28. Autor da gravação contra Maurício Marinho, Joel Santos Filho confirmou pagamento de propina nos Correios.
29. A CPI dos Correios aprovou a quebra dos sigilos bancário, fiscal e telefônico do publicitário Marcos Valério.
30. Em sessão concorrida, Roberto Jefferson depôs na CPI dos Correios. Todavia, sem apresentar provas, o Deputado afirmou que o ‘mensalão’ era sacado no Banco Rural, e disse aceitar acareação com José Dirceu.
Julho 02. Em meio à crise, a primeira-dama Marisa Letícia organizou animada festa junina na ‘Granja do Torto’. Investigações da Polícia Federal indicaram que Agentes de Delúbio Soares e Marcos Valério coincidem, e que os encontros entre ambos podem ter ocorrido de fato, conforme acusação da ex-secretária de Valério.
Dia 03. ‘Veja’ publicou reportagem em que revelou que o Banco BMG emprestou cerca de CR$2.500.000,00 ao PT, e que Marcos Valério foi o avalista desse empréstimo. Valério teria pago uma parcela do empréstimo. Nas eleições de 2004, mais da metade dos recursos doados pelo BMG a políticos destinou-se a candidatos do PT.

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